18 de outubro, dia do médico: nada a comemorar no Rio de Janeiro
A medicina ainda é uma das profissões mais bem pagas do Brasil, apesar de o salário ter diminuído quase 40% nos últimos 10 anos, mas a questão, ainda assim, não é salarial.
O problema é que não há salário que pague o esgotamento mental e emocional de trabalhar no SUS, especialmente na atenção básica e unidades de emergência.
Com a destruição da frágil rede de Clínicas de Família promovida pela administração de Marcello Crivella, que demitiu mais de 4.500 profissionais de saúde e aumentou a população atendida por cada equipe. Essa destruição não foi sequer revertida pelo atual prefeito, Eduardo Paes, cerca de 44% da população continua sem acesso a médicos de família. Os restantes 56% têm acesso a um serviço totalmente esgotado, já que cada equipe atende muitas vezes mais de 3.500 pessoas, na maioria das vezes, em áreas extremamente carenciadas, com múltiplas demandas, alto número de gestantes, crianças pequenas, pacientes com tuberculose ou outras doenças que demandam o triplo de atenção e tempo.
Para além da sobrecarga de usuários, os médicos de família têm que lidar cotidianamente com a ausência de resposta às inúmeras condições que não se resolvem na atenção básica, pacientes que ficam meses e meses na fila de espera para ter acesso a uma consulta ou um procedimento com especialista, enquanto a sua situação só piora.
Nas unidades de emergência, médicos e médicas não vivem dias mais fáceis, com baixa cobertura das clínicas de família e a completa sobrecarga dos seus profissionais, mais o fechamento do atendimento de emergência em vários hospitais no município (todos os hospitais federais fecharam as urgências e uma boa parte dos hospitais estaduais, como o Pedro Ernesto, e municipais também), as UPAS são as únicas unidades de emergência que não podem recusar atendimento 24h por dia. Todos podem entrar e ser atendidos, mas, se precisarem de internação, especialmente se for de CTI, vão ter que esperar na UPA, muitas vezes dias e dias a fio, onde não há estrutura nem profissionais em quantidade necessária e muitas vezes sem o treinamento ou a formação necessária.
Todos os dias tem fila de espera para leito de CTI, em épocas de infecções respiratórias, muito mais. Todos os dias vemos pacientes descompensar e vezes demais falecer na espera por um procedimento ou um leito de CTI.
Enquanto isso, a aposta de Paes é gastar milhões em obras, provavelmente superfaturadas, para reinaugurar UPAS e Clínicas de Família, precisassem essas unidades de reformas ou não, para alimentar a azeitada máquina de propaganda nas redes sociais.
Enquanto se gastam milhões em obras nas UPAS, falta medicação básica, como dipirona ou amoxicilina, azitromicina, salbutamol, ou medicamentos para vômito. Enquanto se gastam milhões, não há vagas de leitos hospitalares para transferir os pacientes que chegam à UPA.
Enquanto isso, multiplicam-se os contratos precários, sem vínculos, que tornam o atendimento ainda mais deficiente e as condições de trabalho mais difíceis.
Como se não bastasse tudo isso, ainda se juntam as inúmeras operações policiais que ocorrem nas imediações das unidades de saúde, colocando população e profissionais de saúde em risco. Não há salário que pague ter que se jogar no chão, junto com crianças e adultos chorando desesperados, porque a polícia resolveu trocar tiros de fuzil com criminosos a menos de 100 metros de distância…
Para os nossos dias seguirem mais felizes, precisamos de melhores condições de trabalho, concursos públicos e estabilidade no emprego. Precisamos que os hospitais federais e estaduais reabram as emergências e os leitos fechados. Precisamos que não faltem medicações básicas. Precisamos também de um investimento sério na atenção básica, que nos garanta a possibilidade de atender com qualidade a população mais carenciada.