Lutas

1º de Maio: Memórias das lutas dos trabalhadores

Roberto Aguiar, da redação

24 de abril de 2025
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1° de Maio realizado em meio as greves operárias do ABC em 1980

Em muitos países, inclusive o Brasil, o dia 1º de maio é feriado. A data é conhecida como “Dia do Trabalhador”. Mas, o que muitos não sabem é que esse dia tem origem em uma longa história de lutas da classe trabalhadora por direitos. Uma história que, infelizmente, setores do movimento operário também tem tentado apagar.

O “1º de Maio” surgiu como resposta à exploração excessiva enfrentada pelos trabalhadores e trabalhadoras. No final do século 19, o desenvolvimento do capitalismo, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, era sustentado graças à superexploração da classe trabalhadora.

Camponeses e trabalhadores independentes eram expropriados de seus meios de trabalho e jogados nas fábricas, onde não existiam leis ou regras de proteção ao trabalho. Operários — inclusive mulheres e crianças — chegavam a trabalhar mais de 16 horas por dia, com salários muito baixos e sem qualquer tipo de proteção.

Diante disso, os trabalhadores começaram a se organizar. Criaram sindicatos, associações e partidos políticos, com o objetivo de lutar por melhores condições de vida e trabalho. E entenderam que essa luta não podia ser apenas local. Era uma causa comum a milhões de pessoas, em vários países, independente de suas nacionalidades.

Foi nesse contexto que, no dia 1º de maio de 1886, milhares de trabalhadores e trabalhadoras foram às ruas na cidade de Chicago (Illinois), no Norte dos Estados Unidos, para protestar e exigir a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias.

Cartaz do 1 de maio criado pelo artista Walter Crane

Os “Mártires de Chicago”, em 1886

Na época, os EUA, após o final da Guerra Civil (1861-65), em que o Norte industrializado do país derrotou o Sul agrário e escravista, garantindo o fim da escravidão, estavam entrando em uma fase de enorme desenvolvimento econômico, com um impressionante desenvolvimento industrial.

Neste contexto, milhares de imigrantes europeus chegavam, todos os anos, para trabalhar nas grandes fábricas, sendo Chicago o principal centro industrial do país. Lá, como na Europa, não havia leis de proteção aos trabalhadores que, impulsionados pelas suas associações, sindicatos anarquistas e socialistas, iniciaram uma grande luta pela limitação da jornada diária de trabalho em oito horas.

Uma grande manifestação foi marcada para o 1º de maio de 1886. E o que era para ser um protesto pacífico, entretanto, virou tragédia. A repressão foi brutal. A polícia abriu fogo contra a multidão e o número de mortos nunca pôde ser apurado. Além disso, líderes do movimento, a maioria deles imigrantes, como Albert Parsons, Georg Engel, Adolph Fischer, Louis Lingg e August Spies foram condenados à morte e enforcados. Outros, foram condenados à prisão perpétua ou a penas por longos períodos.

A repressão ao 1º de maio de 1886, em Chicago, foi o ponto alto de um processo de ataques aos trabalhadores nos grandes centros industriais da época. Se, por um lado, inexistiam leis de proteção ao trabalho; por outro, o capital contava com leis para impedir a organização dos trabalhadores e trabalhadoras. Em muitos países, sindicatos e partidos eram proibidos ou fortemente controlados e quem tentasse organizar a classe operária era considerado criminoso.

Proletários de todo o mundo

A Internacional Socialista e o 1º de Maio

Operários na Greve Geral de 1917

A repressão em Chicago virou símbolo da luta operária em todo o mundo. A primeira organização que tentou unificar a luta da classe operária em escala mundial foi a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), conhecida também como Primeira Internacional, fundada em 1864 por figuras como Karl Marx e Frederich Engels.

Mas, a AIT foi dissolvida em 1876. Contudo, o movimento não desistiu de lutar pela unidade dos trabalhadores de todo o mundo e foram iniciadas as discussões para o restabelecimento de uma nova organização Internacional. E ela foi fundada alguns anos depois, em 1889. Assim nasceu a Segunda Internacional Socialista, sob fortes influências dos marxistas.

Entre as resoluções práticas do congresso que fundou a Segunda Internacional, estavam o apoio à iniciativa da “American Federation of Labour” (“Federação Norte-americana do Trabalho”), que pretendia realizar uma grande manifestação no dia 1° de maio de 1890, para lembrar a morte dos operários de Chicago. A Internacional aprovou uma resolução que instituiu a data como “Dia Internacional dos Trabalhadores”, cuja luta fundamental, na época, foi a defesa da jornada de oito horas.

Nascia, assim, o “1º de Maio”, como “Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores”, que se tornou uma grande manifestação internacional, com data fixa, de maneira que trabalhadores e trabalhadoras, em todos os países e em todas as cidades, ao mesmo tempo, se mobilizassem, reafirmando o internacionalismo proletário.

Brasil

O desafio de resgatar a luta dos trabalhadores

No Brasil, o dia 1° de maio passou a ser uma data de luta já quando surgiram as primeiras lutas organizadas da classe trabalhadora, tal como a Greve Geral de 1917. Décadas depois, Getúlio Vargas, durante a ditadura do Estado Novo, transformou a data em um dia de festas, com desfiles e eventos públicos, renomeada como “Dia do Trabalho”, para tentar conquistar o apoio da classe trabalhadora.

Mas, as organizações operárias mantiveram o caráter original e combativo da data e, nos anos 1980, o “Dia do Trabalhador” voltou a ser marcado por grandes manifestações e greves, especialmente a dos metalúrgicos do ABC Paulista, que se tornaram um símbolo da resistência à ditadura militar e da luta por melhores condições de trabalho.

Atualmente, um dos principais desafios para os que defendem o socialismo é preservar o caráter combativo e internacionalista que deu origem ao “1º de Maio”. Isso em um cenário marcado pela crescente adesão de setores do sindicalismo a práticas conciliatórias, muitas vezes alinhadas aos interesses patronais e do Estado capitalista.

Em alguns casos, atos que deveriam simbolizar a luta dos trabalhadores acabam dividindo o palco com os inimigos das pautas da classe trabalhadora — tudo isso entre discursos, bajulações e sorteios de brindes.

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