Socialismo

22 de abril: Aniversário de nascimento de Lênin, aos 100 anos de sua morte

Nazareno Godeiro, de Natal (RN)

22 de abril de 2024
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Lênin dirigente da Revolução Russa de 1917

Lênin nasceu em 22 de abril de 1870, em Simbirsk (atualmente Ulianovsk), região central da Rússia, dominada pelo maior rio europeu, o Volga, e os montes Urais, a fronteira natural entre a Europa e a Ásia.

Por isso, em Lênin estavam fundidos o Oriente e o Ocidente. Seu conhecimento universal estava fincado em profundas raízes russas. Sua simplicidade franciscana se combinava com a vivência nos países europeus, onde morou e aprendeu a falar fluentemente o francês, inglês, alemão, ademais do russo e lia e se comunicava em italiano, latim, grego, polonês e tcheco.

Lênin morreu em 21 de janeiro de 1924 às 6:30 da manhã, nas proximidades de Moscou, três meses antes de completar 54 anos.

Estava no poder há 6 anos, desde a revolução socialista de outubro de 1917, que instaurou o poder dos trabalhadores, o poder soviético na Rússia.

No II Congresso do Partido Operário Socialdemocrata russo, em 1903, Plekhánov, fundador do marxismo russo, se referiu ao jovem Lênin dizendo: “Dessa madeira se fazem os Robespierres”, comparando Lênin ao dirigente da revolução francesa de 1789.

Essa comparação foi muito apropriada, pois os dois foram os principais dirigentes das maiores revoluções que mudaram o mundo: a revolução burguesa na França de 1789 (Robespierre) e a revolução proletária na Rússia de 1917 (Lênin).

Porém, pode-se afirmar, sem dúvida, que Lênin foi o maior revolucionário da história da humanidade: a influência da revolução russa chegou a estender-se para 1/3 da área do globo terrestre e suas obras foram traduzidas para centenas de idiomas, em todo o mundo. Curiosamente, seu primeiro nome, Vladimir, significa “dono do mundo”.

Aliás, um nome inadequado para uma pessoa “muito tímida”, segundo Lunacharski em sua “silhueta” de Lênin. É preciso dizer que essa timidez estava mais para a modéstia do que para introspecção.

Bertand Russel, filósofo e historiador inglês, visitou Lênin em 1920. Nesse encontro ele extraiu a seguinte impressão do dirigente comunista:

Sólo vi a Lenin una vez: mantuve una conversación de una hora con él en su despacho del Kremlin en 1920. Me pareció que se parecía más a Cromwell que a cualquier otro personaje histórico…. Al igual que Cromwell, combinaba una estrecha ortodoxia en su pensamiento con una gran destreza y capacidad de adaptación en la acción….. Parecía, y lo era, un hombre completamente sincero y carente de ambición personal. Estoy convencido de que a él sólo le preocupaba el bien común, no su propio poder; me parece que Lenin estaba dispuesto a echarse a un lado en cualquier momento si, al hacerlo, hubiera favorecido la causa del comunismo”.

Lênin sempre viveu de forma modesta, mesmo depois de chegar ao poder. Nisto também se comparava a Robespierre, conhecido como o “incorruptível”. Ambos se recusaram a utilizar-se dos altos cargos governamentais para enriquecer-se, como é muito comum nos dias de hoje. Lênin, como Presidente do Conselho de Comissário do Povo, recebia um salário médio de um operário (cerca de R$ 5 mil reais por mês hoje no Brasil), como todos os trabalhadores da União Soviética. Certa vez, seu secretário aumentou o salário de Lênin, sem o seu conhecimento. Levou uma advertência pública de Lênin, sob ameaça de demissão sumária, se repetisse o fato.

Nada a ver com a “esquerda ministerial” petista e psolista: Dilma Roussef ganha R$ 290 mil reais por mês como presidenta do banco dos BRICs, além da “aposentadoria” como ex-presidenta, mais todas as regalias, passagens aéreas, saúde, segurança particular e um longo etecétera. Uma vergonha!!!!

Lênin morreu no auge da fama, respeitado por milhões de trabalhadores de todo o mundo. Hoje, porém, no centenário da sua morte, seu papel de dirigente comunista internacional está esquecido, desprezado, deturpado e soterrado pelo terremoto da degeneração burocrática da revolução russa, que culminou com a restauração do capitalismo em todos os países ditos “socialistas” (URSS, China, Leste Europeu, Alemanha Oriental, Cuba etc) nas décadas de 1980/1990.

Lênin não chegou a ver a burocratização do Estado soviético como fato consumado, mas dedicou seus últimos seis meses de vida à luta contra os primeiros sintomas deste vírus que se disseminava silenciosamente nos órgãos do Estado e do partido bolchevique. Seus últimos escritos foram dirigidos para esta luta e seu testamento indicou a remoção de Stálin da secretaria geral do partido. O seu último ato como dirigente político foi a ruptura das relações pessoais com Stálin. Sua morte prematura impediu de dar esta batalha até o final.

A revolução francesa também passou por um processo de degeneração e de restauração do regime monárquico dos Bourbons, que durou mais de 40 anos, de 1804 a 1848.

Assim, a história marcha através da luta de classes, nunca por um caminho reto, nem sempre em direção a um progresso determinado de antemão.

Foi a partir destas lutas de classes, especialmente da sua culminação em revoluções e contrarrevoluções, no século XIX, que Marx e Engels elaboraram uma concepção materialista da história, a teoria marxista, uma visão científica do mundo e da sua transformação comunista, através de uma revolução proletária.

Lênin bebeu dessa fonte de forma privilegiada, pois pertenceu as primeiras gerações de revolucionários que abraçaram o marxismo: se tornou dirigente do movimento revolucionario russo no início da década de 1890, dez anos depois da morte de Karl Marx, em 1883, e quando Engels ainda estava vivo.

Trotsky afirmou que gênios como Lênin surgem a cada 100 anos, não como semideuses que já nascem com a sabedoria embutida, mas como produto de sua época.

A época de Lênin foi um tempo de transição das revoluções democrático-burguesas para as revoluções socialistas.

Lênin era o homem das transições, sempre buscava o movimento de um processo para impulsionar a revolução.

Ele desenvolveu a teoria marxista, estabelecendo uma conexão entre a revolução democrática (que ficava para trás) e a revolução socialista (que entrava em cena) em uma combinação complexa e contraditória.

A revolução democrática (anticolonial, inclusive), vista como um fim em si mesma, separada e oposta à revolução socialista, é a ideologia do reformismo, que se passou pro lado da burguesia.

Lênin se enfrentou com essa corrente internacional que traiu o marxismo na guerra de 1914, que se negou a lutar pela revolução proletária, que se negou a impulsionar as tarefas democráticas como alavancas para a revolução proletária.

Os reformistas de todo tipo (representantes da II Internacional social-democrata, a quem se juntou o stalinismo, na década de 1930) pararam na estação democrático-burguesa, tentando, em vão, “humanizar o capitalismo”, aperfeiçoar a democracia burguesa, ideologia que esconde sua capitulação completa ao sistema imperialista.

Já no poder, ele previu que essa corrente reformista internacional poderia atrasar a transição do capitalismo ao socialismo por várias décadas. Acertou na mosca. Porém, não imaginava que esse prognóstico se tornaria secular, com a restauração capitalista na Ex-URSS, China e demais Estados operários degenerados e deformados.

Lênin, através do partido bolchevique, utilizou todas as táticas: incentivou a luta econômica sem ser economicista, lutou por reformas sem ser reformista, participou do parlamento sem ser parlamentarista, utilizou a guerrilha sem ser guerrilheirista, participou de eleições sem ser eleitoralista, fez alianças de todo tipo sem ser aliancista. Para ele, todas as táticas estavam a serviço da estratégia: a tomada do poder pelo proletariado e a instauração de uma sociedade socialista.

Táticas, estratégias, programa e princípios – a agitação e a propaganda – estavam conectados para desenvolver a consciência de classe do proletariado e dos pobres da cidade e do campo na necessidade de uma revolução violenta para derrubar o capitalismo.

Por outro lado, a revolução proletária, separada e oposta à revolução democrática, converteu-se em um dogma sem vida, é a ideologia dos ultra-esquerdistas, que se recusam a utilizar as reivindicações democráticas-revolucionárias como alavancas da revolução socialista.

Por isso, Lênin identificou o ultra-esquerdismo como um inimigo a enfrentar, embora tenha designado, em 1920, como “doença infantil do comunismo”:

Porque pensar que la revolución social es concebible sin insurrecciones de las naciones pequeñas en las colonias y en Europa, sin explosiones revolucionarias de una parte de la pequeña burguesía, con todos sus prejuicios, sin el movimiento de las masas proletarias y semiproletarias inconscientes contra la opresión terrateniente, clerical, monárquica, nacional, etc.; pensar así, significa abjurar de la revolución social. (…) Quien espere la revolución social “pura”, no la verá jamás. Será un revolucionario de palabra, que no comprende la verdadera revolución.”

Para se aprofundar

Para quem tenha interesse em conhecer o conjunto da sua obra, assim como da vida deste grande revolucionário pode visitar a página comemorativa dos 100 anos da morte do Lênin no site da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) 

Disponibilizamos uma biografia da vida e da obra do Lênin em vídeos e textos curtos, de forma acessível e resumida no canal Leninismo e Comunismo. Leia livros do Lênin sobre temas específicos (já estão disponíveis “Lênin e a assembleia constituinte: institucionalidade e luta de classes” e “Lênin e a opressão da mulher” em PDF, gratuitamente. Nesta página tem muitos artigos sobre aspectos da vida e da obra do Lênin. Aí, você pode baixar, também, gratuitamente, os 55 volumes das Obras Completas de Lênin, que contem 26 mil páginas e conferir diretamente no original suas posições, no decorrer de 30 anos de militância revolucionária.