Opinião Socialista

30 anos a serviço da revolução por um futuro comunista

Redação

6 de junho de 2024
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Militância do PSTU no ‘Ocupa Brasília’ em maio de 2017, contra as reformas trabalhista e da Previdência de Temer | Foto: Romerito Pontes

Em junho, o PSTU completa 30 anos. Na escala da história da luta de classes no Brasil, se passou muito pouco tempo desde quando aqueles jovens operários, estudantes e ativistas, oriundos da luta contra a ditadura militar, das grandes mobilizações dos anos 1980 e da construção do PT e da CUT, foram expulsos do Partido dos Trabalhadores e decidiram fundar uma organização trotskista revolucionária no Brasil. Mas é um tempo considerável diante de tantos fatos importantes de lá para cá e, também, de toda uma nova geração que não viveu aquele momento.

Urgência da necessidade da revolução

As diferentes vertentes reformistas, quanto maior a crise do capitalismo, mais insistem na tecla de que a revolução e o socialismo são temas para um futuro longínquo, para um tempo que nunca chega. Agora, segundo eles, o importante é ter muitos votos nas eleições e eleger parlamentares. Todo o resto é ilusão de uma esquerda fora de moda, dizem.

A realidade tem demonstrado coisa bem diversa disso. E este sentido de urgência da revolução e do socialismo não é um capricho nosso. A disjuntiva “socialismo ou barbárie” não é apenas uma frase de efeito a ser levantada nas reuniões das organizações socialistas. É um fato cada dia mais evidente. Basta vermos a pandemia, as guerras, o aumento da exploração e da opressão e a devastação do meio ambiente que geram miséria e violência crescentes para uma parte cada vez maior da humanidade.

Destruir o capitalismo antes que ele destrua a humanidade

A catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul mostra como o capitalismo, os grandes empresários e os governos, na busca por lucros, estão levando a humanidade ao colapso. O altíssimo número de mortos na pandemia foi uma demonstração de como os interesses dos capitalistas estão acima dos interesses da vida humana.

A guerra na Ucrânia é um sintoma de com o capitalismo busca sufocar, oprimir e responder violentamente às lutas de libertação nacional. O genocídio promovido por Israel na Palestina, com todo apoio do imperialismo dos EUA e da Europa, é a prova de que o capitalismo, para defender seus interesses em áreas de influência, não tem escrúpulos.

Os bilionários capitalistas condenam bilhões à fome, à miséria e ao sofrimento. Seus capitais aumentam e batem recordes de lucros, enquanto a desigualdade social se aprofunda. Há um regime de exploração e opressão brutal nas fábricas e canteiros de obras. Arrancam o couro dos trabalhadores e trabalhadoras. Usam o Estado e a tecnologia mais avançada para explorar e oprimir mais. Há, ainda, a violência e degradação promovidas pelo agronegócio no campo. E também cresce a violência contra os setores oprimidos, como mulheres, negros, LGBTIs e imigrantes.

Mas crescem, também, as lutas e a resistência dos trabalhadores contra tudo isso. Para ficar apenas nos últimos trinta anos, tivemos muitos exemplos heroicos de resistência da nossa classe, como a Primavera Árabe; as rebeliões populares no Chile, Equador, Argentina, Colômbia, Peru e Bolívia; as greves operárias na Europa e, mais recentemente, nos EUA; a resistência do povo ucraniano; a resistência do povo palestino e um longo etc.

O que falta à nossa classe, para transformar essa revolta crescente contra o sistema capitalista em uma revolução socialista, é uma direção política capaz de conduzir a luta e a organização nesse sentido.

Os reformistas não podem cumprir esse papel. Se acomodam cada vez mais ao papel de cúmplices e agentes da burguesia. São os responsáveis pela proliferação da lógica do “mal menor”, da política limitada à possibilidade imediata e da construção de caricaturas sobre as posições revolucionarias.

Isso não quer dizer que acreditemos que a revolução esteja ali na esquina, especialmente porque ainda não resolvemos o problema da direção política da nossa classe. Somos revolucionários porque acreditamos que a revolução é necessária e urgente e que a construção das condições para que ela ocorra é uma tarefa para o presente e não para um horizonte que nunca chega, como é para os reformistas.

30 anos do capitalismo aflorando suas contradições

Há 30 anos, vivíamos um período marcado por uma forte ofensiva do capitalismo, muito diferente da crise desse sistema que vivemos hoje. Estávamos em 1994, auge da implementação dos planos neoliberais no Brasil. Havia um retrocesso das lutas dos anos 1980. E o mundo ainda lidava com os efeitos imediatos da restauração capitalista nos antigos Estados operários degenerados, feita pela burocracia stalinista.

A burguesia e o imperialismo vendiam a ideia de que a História tinha acabado. Que o capitalismo teria mostrado sua superioridade e que teríamos democracia, liberdade e crescimento econômico inesgotáveis, num mundo onde a burguesia e os trabalhadores viveriam felizes para sempre. Seria o paraíso na terra. E foi assim que os duros anos 1990 foram feitos com muitas privatizações e ataques aos trabalhadores.

Durante este período, muitas organizações que ainda se reivindicavam socialistas, comunistas ou revolucionárias foram abandonando seu programa, tornando-se cada vez mais defensoras dos capitalistas. No Brasil, foi o período do ascenso do PT à Presidência da República. Destes últimos 30 anos no Brasil, o PT governou 16 deles.

Nesse período, ao contrário do que diziam os petistas, seus governos não ajudaram a desenvolver o caminho para o enfrentamento com os capitalistas. Na verdade, a gestão da crise capitalista feita por seus governos, junto com várias mudanças mais profundas nas disputas interburguesas e na própria dinâmica decadente do capitalismo brasileiro e mundial, foi o que permitiu um grande retrocesso, com o surgimento da nova ultradireita, trazendo de volta à cena política as ameaças golpistas bonapartistas, o papel das Forças Armadas na política e propostas capitalistas cada vez mais radicais para o aprofundamento da exploração dos trabalhadores.

A democracia burguesa brasileira, moldada no fim da ditadura militar, vem se debatendo em crise e decadência. Isso prova que não bastava apenas acabar com a ditadura e mudar o regime, era preciso, também, transformar as condições sociais e acabar com o capitalismo.

Luta de classe

Lutas da classe trabalhadora são o combustível do partido

Sejam as ditaduras ou os diferentes governos capitalistas no regime democrático, todos, a seu modo, governaram o capitalismo e com os capitalistas. O crescimento econômico só serviu à burguesia e aos bilionários, provando que não há desenvolvimento, que melhore a vida do povo, sem a expropriação da grande burguesia.

Os governos do PT não fugiram a essa regra. Em que pese algumas políticas sociais compensatórias que trouxeram benefícios limitados para setores da população, seus governos garantiram os interesses dos bancos e do grande empresariado, que ganharam muito dinheiro à custa do aumento da exploração dos trabalhadores e da entrega do país à rapina do imperialismo.

Como no resto do mundo, aqui também, os trabalhadores, a juventude e os setores oprimidos lutaram nesses 30 anos. Tivemos greves memoráveis na classe operária, no funcionalismo público, mobilizações estudantis, ocupações urbanas e rurais e as jornadas junho de 2013.

O PSTU foi parte integrante de muitas dessas lutas, mobilizações e levantes dos trabalhadores e da juventude. E é intervindo nessas lutas, apoiado na herança marxista, que busca desenvolver uma base programática sólida que, partindo de uma compreensão da realidade, explique o mundo e levante um programa e políticas capazes de derrotar a burguesia e revolucionar a sociedade.

Legado

O papel do PSTU na História passada, presente e futura

“Quem chega primeiro, bebe água limpa”, diz um ditado popular. Mas na luta política revolucionária é o contrário. A geração futura pode beber uma água mais limpa se as gerações passadas forem capazes de aprender com seus erros e se desvencilhar deles.

O PSTU cometeu erros em sua trajetória até hoje. Alguns importantes, que custaram caro ao nosso esforço por construir a direção revolucionária que nossa classe precisa. Mas sempre soube olhar de frente para os erros cometidos e lutar para superá-los, apoiado em um tripé que, para nós, é fundamental: o apoio na teoria marxista, a busca de uma inserção cada vez maior na classe operária e uma integração dada vez mais profunda com a Internacional – a construção do nosso partido no Brasil não se explica a não ser nos marcos da construção da Liga Internacional do Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI).

Esta é a metodologia na qual as várias gerações de trabalhadores e jovens que bravamente construíram esse partido se baseiam. Este é um legado importantíssimo e indiscutível.

O PSTU foi forjado na luta contra todos os setores da burguesia, da direita tradicional e da nova ultradireita. E também se enfrentando com aqueles que, oriundos da esquerda, optaram por governar com e para a burguesia, se tornando novos administradores dos negócios capitalistas, como o PT, o PCdoB, em determinado momento histórico, ou até mesmo o PSOL, mais recentemente.

Nesses 30 anos, o PSTU buscou os fundamentos sólidos do marxismo, o enraizamento na classe operaria, no internacionalismo, na agitação e propaganda revolucionária como atividades definidoras do partido; na elaboração programática para compreender o mundo com uma precisão científica e sendo parte das lutas cotidianas dos trabalhadores.

Mesmo depois desses 30 anos, sabemos que somos apenas um embrião da organização revolucionaria que precisa ser construída, no país e no mundo, para atingir nossos objetivos. Os desafios do tempo presente e para o futuro não diminuíram, mas aumentaram. Mas estaríamos em uma condição muito pior para enfrentá-los se não existisse o PSTU no Brasil e a LIT no mundo.

O fio de continuidade histórico dos revolucionários foi perdido várias vezes diante da repressão e da perseguição pela burguesia, o imperialismo, os reformistas e o stalinismo. A existência do PSTU é a manutenção de um importante fio de continuidade histórico entre o melhor da vanguarda operária e do ativismo juvenil surgidos nos anos 1970 e 1980, no Brasil, com as novas gerações de bravos lutadores e lutadoras.

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