31 anos depois, José Luís e Rosa Sundermann continuam presentes!

Sete dias após a fundação do PSTU, José Luís e Rosa Sundermann foram assassinados em São Carlos, interior de São Paulo, no dia 12 de junho 1994. São 31 anos de impunidade, sem a justiça apontar sequer um suspeito pelo crime.
Rosa e Zé foram militantes da Convergência Socialista e foram dois mártires na construção do recém-fundado PSTU. Rosa havia acabado de ser eleita para o primeiro Comitê Central do partido, no seu Congresso de fundação. Já José Luís compunha a direção do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São Carlos e da Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil).
Eram reconhecidos ativistas na região. Conhecidos, sobretudo, pela coragem com que enfrentavam as violentas oligarquias latifundiárias. Além das lutas de suas categorias, e outras, como a de apanhadores de laranja, em 1990 e 1993, dirigiram greves de cortadores de cana e atraíram a fúria dos usineiros e a hostilidade das forças de repressão.
Um crime político no Brasil da impunidade
A execução de Rosa e Zé teve todas as características de um crime político. Na época, foi desenvolvida uma investigação paralela para apurar os assassinatos, que indicou como possíveis mandantes os donos da Usina Ipiranga, de açúcar e álcool, justamente por conta das greves lideradas pelo casal. Na época, eles foram bastante ameaçados, inclusive por oficiais da polícia. Os donos da fazenda mantinham ligações com latifundiários do Pará, sobretudo Jairo de Andrade, que comprava terras, maquinários e mantinha casas de prostituição na região. Jairo, inclusive, era ligado a assassinatos de sem-terra.
O modus operandi das execuções, por sua vez, também evidencia o caráter profissional da ação. O assassino entrou na casa pulando o muro e desferiu um tiro certeiro na cabeça de Zé Luís, enquanto o casal assistia televisão. Rosa tentou se defender, recebeu um disparo no braço, sofreu uma coronhada e foi assassinada também com um disparo na cabeça.
Após o crime, o assassino se evadiu sem levar qualquer objeto. Apesar das evidências explícitas de uma execução política, levada a cabo por um assassino profissional, a polícia não quis seguir essa linha de investigação. O relatório paralelo foi entregue às autoridades, tanto à Polícia Civil quanto militar e ao Ministério Público, mas o caso foi arquivado.
Os 31 anos de impunidade do brutal assassinato de Zé Luís e Rosa reforça a marca histórica de um país que matar trabalhadores, do campo e da cidade, sempre foi um ato dos poderosos, que tem o domínio do Estado e de suas leis.
O caso de Zé Luís e Rosa se somam ao massacre do trabalhadores sem-terra em Eldorado do Pará (17 de abril de 1996); ao assassinato de Irmã Dorothy em Anapu, no Pará, em 12 de fevereiro de 2005; à execução de Marielle Franco e de seu motorista Anderson na cidade do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018; ao assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas, em 5 de junho de 2022; ao assassinato de dezenas de trabalhadores rurais, quilombolas e indígenas, que enfrentam o latifúndio colonial.
Zé Luís e Rosa, presentes!
Mais de três décadas depois, a memória combativa de Zé Luís e Rosa permanece, assim como o exemplo de luta dos camaradas. Em 2013, foram simbolicamente anistiados pela Caravana da Anistia, por conta da perseguição do Estado, e hoje seus nomes estão no instituto ligado ao PSTU, assim como a Editora Zé Luís e Rosa Sundermann, dedicada a obras marxistas e à educação militante e revolucionária dos ativistas.
No dia em que se completam 31 anos deste crime, a homenagem ao casal Sundermann se estende ao camarada Américo Gomes, que partiu no último dia 19 de março. Américo integrou a comissão de investigação paralela do movimento que lutou incansavelmente pela apuração e punição dos assassinatos.
Esse crime bárbaro reforça, principalmente nos dias de hoje, a importância da autodefesa das organizações dos trabalhadores em face da violência dos patrões e dos aparatos de repressão. Mostra também que não se pode confiar no Estado para investigar os crimes contra a nossa classe e a necessidade de o movimento empreender suas próprias apurações.
Zé Luís e Rosa continuam inspirando tanto a velha guarda quanto as novas gerações. Exigir punição, exigir justiça, durante todos esses anos, é prova de que estamos vivos, e enquanto estivermos aqui, vamos lutar pelas bandeiras que Zé Luís e Rosa Sundermann levaram durante toda a sua vida.
Zé Luís e Rosa são nossos mártires tombados na luta pelo socialismo!
Zé Luís e Rosa Sundermann: presentes!