8 de janeiro: É preciso responder a tentativa de golpe à altura
É um fato que o bolsonarismo sofreu uma derrota parcial. Nesse momento, não está conseguindo, como oposição, pautar a vida política nacional. Ainda está na defensiva, depois da derrota da tentativa de golpe.
Os ativistas que apoiam Lula, certamente, esperavam que este seria o momento para passar à ofensiva contra Bolsonaro, cortar sua base de apoio nas Forças Armadas e avançar em medidas que pudessem ganhar, politicamente, a base dos trabalhadores que apoiam Bolsonaro.
Infelizmente, não é isso que está sendo feito. Entendemos que exista um enorme alívio pela saída do genocida. Mas, só isso não basta. Como veremos, a ofensiva contra Bolsonaro é tímida e limitada.
O que foi feito contra os golpistas?
Depois de 8 de janeiro, as evidências sobre a tentativa de golpe se multiplicaram. Uma delas foi o memorando encontrado na casa de Anderson Torres, demonstrando como um golpe foi discutido por Bolsonaro e os comandos militares, logo após a derrota eleitoral.
Esse plano acabou sendo abandonado, pela falta de apoio da grande burguesia e do imperialismo. Mas, depois, se tentou de outra maneira, através do 8 de janeiro. O golpe não seria iniciado diretamente pelas Forças Armadas (FFAA), mas por “iniciativa do povo”, com a invasão de Brasília pelos golpistas, financiados pelo agronegócio.
A cumplicidade do comando das FFAA, da Polícia Militar e do governo do Distrito Federal está categoricamente demonstrada. O fato mais aberrante é o vídeo do chefe do Batalhão da Guarda Presidencial (que deveria defender o Palácio do Planalto), tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, cantando o hino brasileiro junto com os golpistas que invadiram o Palácio.
Passadas três semanas da tentativa de golpe, poucas respostas foram dadas, além da prisão de algumas centenas de golpistas.
A única resposta de maior peso dada por Lula foi a demissão do comandante do Exército e sua substituição pelo comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. O limite dessa troca pode ser comprovado pelo histórico do novo comandante: ele foi um dos redatores da nota do general Villas Boas (um dos principais chefes do bolsonarismo militar), em abril de 2018, para impedir a possibilidade de que Lula concorresse às eleições.
O chefe da tentativa de golpe, Bolsonaro, até agora segue intocado nos EUA, sem ser responsabilizado diretamente pela ação golpista. O setor da burguesia diretamente envolvido no financiamento do golpe derrotado, principalmente o agronegócio, até agora pouco foi molestado.
Não é hora para vacilos
Não é possível ser superficial com a ultradireita golpista. Trata-se de um setor com base em setores da burguesia e uma parte minoritária, mas importante, da população. Tem um peso militar inegável, que vai do comando das FFAA até as bases das polícias. Já vimos como isso teve um peso determinante no 8 de janeiro. Recentemente, uma pesquisa do Fórum de Segurança Pública comprovou que 40% dos policiais consideram as reivindicações dos golpistas como “legitimas”.
Deixar de avançar nesse momento em que o bolsonarismo está na defensiva, é abrir a possibilidade de que, quando se recomponha politicamente, a ultradireita possa passar, de novo, à ofensiva, com uma nova tentativa de golpe.
Mas, como já dissemos, o bolsonarismo é uma expressão do capitalismo em decadência. A grande burguesia nacional, assim como um setor do imperialismo, apoiou diretamente Bolsonaro, porque ele impôs a pauta neoliberal a ferro e fogo.
Sem anistia!
Para enfrentar o bolsonarismo, de verdade, seria necessário não só ir até o fim no enfrentamento com os dirigentes e financiadores da tentativa de golpe, como enfrentar os interesses da grande burguesia nacional e internacional. E isso também, nesse primeiro mês de governo, não está sendo feito nem anunciado.
“Sem anistia para os golpistas!” Como gritaram manifestantes em todo o país, nos protestos contra o golpe, realizados no dia 9 de janeiro. É preciso apuração, identificação e punição exemplares de todos os envolvidos.
Para derrotar a ultradireita, mobilizar as massas e organizar a autodefesa
A única conclusão que se pode tirar dos acontecimentos é que não se pode confiar nas instituições da democracia burguesa, sequer para se defender contra um golpe. Por isso, estamos vendo a ultradireita crescer em todo o mundo.
A única forma real de enfrentar e derrotar a ultradireita é através da mobilização de massas e da organização, pelos próprios trabalhadores, da sua autodefesa. O que derrubou as ditaduras na Amárica Latina foram as mobilizações de massas.
Inclusive no Brasil, foram as mobilizações pelas “Diretas Já”, as lutas estudantis e as greves operárias que levaram à crise terminal da ditadura, que acabou sendo canalizada por negociações com os militares. Também, o que impediu o golpe militar contra Chavez, em 2002, na Venezuela, foram as massas nas ruas.
É preciso aliar a mobilização de massas com a organização da autodefesa. As ações da ultradireita podem ser enfrentadas com a organização dos trabalhadores e trabalhadoras. Os enfrentamentos das torcidas organizadas com os bloqueios bolsonaristas já demonstram isso.
É preciso levar esta discussão ao conjunto da classe trabalhadora e da juventude. Assim como é necessário adotar mediadas práticas para organização e treinamento da autodefesa pelos trabalhadores e trabalhadoras. Essa é uma tarefa urgente e fundamental, que precisa ser tomada pelos sindicatos e movimentos populares e sociais.
Trata-se de uma necessidade para defendermos as greves e manifestações contra os grupos bolsonaristas. Assim como para enfrentar ações golpistas do bolsonarismo, se estas voltarem a ocorrer.