A comida está cara, e os salários estão baixos

Nos últimos anos, é comum ouvir reclamações sobre o aumento dos preços dos alimentos. Muitas pessoas afirmam, e é um fato inconteste nos dias de hoje, que a comida está muito cara. Mas essa percepção pode estar refletindo também um outro problema mais profundo: a estagnação ou a diminuição dos salários. Quando analisamos a relação entre o custo de vida e a renda, fica evidente que o verdadeiro desafio não é apenas o preço dos produtos, mas também a capacidade de compra da população.
O aumento dos preços dos alimentos pode ser influenciado por diversos fatores, como a inflação, a oferta e a demanda, e até mesmo questões climáticas que afetam a produção agrícola e, não se pode esquecer, os ganhos das grandes redes de hipermercados e supermercados cujos lucros astronômicos também estão embutidos nos preços.
No Brasil está nítido que os salários não acompanham esse aumento de preços, e a população sente o impacto de forma muito mais intensa. Ter acesso à alimentação necessária se torna um desafio diário, levando muitos a repensar suas escolhas alimentares e a priorizar itens básicos, e milhões de brasileiros e brasileiras passam fome literalmente.
E há um outro aspecto fundamental a ser considerado nesta discussão. A ineficácia de políticas que simplesmente oferecem subsídios aos capitalistas, como as isenções de impostos para alguns produtos. Quase sempre esses subsídios, que deveriam gerar redução dos preços, na prática acabam resultando em um aumento dos lucros para os empresários, sem que isso se traduza em benefícios diretos para a população.
O mesmo se pode dizer da fortuna que o governo destina todos os anos para financiar o Plano Safra. O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, e não garante alimento a preço acessível a toda a sua população. É o maior exportador de carne, enquanto aqui os brasileiros não conseguem comprar carne para comer. Isso é resultado da ganância dos grandes empresários do agronegócio, que preferem exportar alimentos porque assim o lucro é maior.
É expressão também, da contradição desse sistema capitalista e do governo que temos à frente do país, que destina uma parte enorme do orçamento para ajudar a aumentar o lucro destes grandes empresários, ao invés de atender as necessidades da população.
Assim, o ciclo de desigualdade se perpetua, e a promessa de um alívio econômico se torna uma ilusão.
Neste momento, é importante destacar que não há escassez de alimentos. Estamos vivendo uma supersafra, com uma produção abundante que poderia atender à demanda da população. No entanto, essa abundância não se reflete em preços acessíveis para todos, por essa lógica de mercado que prioriza sempre o lucro em detrimento do bem-estar social. A falta de acesso aos alimentos não é uma questão de disponibilidade, mas sim de distribuição e poder aquisitivo.
Além disso, ao destinar recursos públicos para subsidiar empresas, o governo acaba comprometendo a capacidade do Estado de investir em políticas públicas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura. Esses investimentos são fundamentais para promover o bem-estar da população e garantir um desenvolvimento sustentável. Quando os recursos são direcionados para subsidiar lucros, menos dinheiro está disponível para atender às necessidades básicas da sociedade, criando um ciclo vicioso que prejudica ainda mais os mais vulneráveis.
É fundamental que haja um debate mais amplo sobre a valorização do trabalho e a necessidade de políticas que garantam salários justos e dignos. E é preciso enfrentar o controle das terras do país pelo agronegócio, boa parte dele nas mãos de empresas multinacionais. Nacionalizar essas terras e colocá-las sob controle dos trabalhadores, promovendo uma ampla reforma agrária no país e adotar uma política agrária e econômica que valorize os pequenos produtores e esteja voltada para a produção de alimentos para a população, não para enriquecer os donos das empresas do Agro.
Esses seriam passos importantes para mudar esse cenário, que o governo Lula se nega a dar. Ao invés de simplesmente culpar os preços altos, é preciso olhar para a estrutura econômica que sustenta a nossa sociedade que gera toda essa situação de desigualdade e buscar mudanças que promovam, de verdade, justiça social.
Ou seja, além dos preços, que estão caros, sim, é preciso olhar para a triste realidade dos salários baixos percebidos pela imensa maioria da classe trabalhadora brasileira. É preciso olhar para o que é feito com os recursos que o país tem, como suas terras para produzir alimentos, que não estiverem a serviço de atender as necessidades do povo, e sim a serviço do lucro dos capitalistas como ocorre hoje.
É hora de repensar nossas prioridades e lutar por um futuro onde todos possam ter não apenas acesso a uma alimentação adequada, mas a uma vida digna e bem estar. As mudanças para que isso possa ser alcançado só virão com a organização e a luta da classe trabalhadora.