Internacional

Palestina livre: Isolar o Estado de Israel e ocupar as ruas pelo fim do genocídio

Soraya Misleh, de São Paulo

3 de abril de 2025
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Manifestação em SP no último dia 30 de março, o Dia da Terra. Foto PSTU-SP

Com o sinal verde de Trump, o enclave militar do imperialismo (Israel) está levando a cabo seu plano de limpeza étnica do povo palestino em Gaza e na Cisjordânia. A busca é de “solução final” na contínua Nakba – a catástrofe cuja pedra fundamental é a formação em 78% do território histórico palestino do Estado racista de Israel em 1948. Ocupar as ruas e isolar internacionalmente a entidade sionista é a solidariedade que o povo palestino precisa.

Após um frágil cessar-fogo que mesmo em sua primeira fase – a partir de 19 de janeiro até 1º de março últimos – teve recorde de violações por parte de Israel, o genocídio direto é mais uma vez a realidade em Gaza. São 18 meses de carnificina.

Cenas indescritíveis voltam a ocupar as redes sociais, como a de um pai que se desesperava ao segurar a cabeça de seu bebê decapitado pelas bombas israelenses ou a dos 15 profissionais de equipes médicas e humanitárias do Crescente Vermelho palestino chacinados e enterrados nas areias de Rafah, no sul de Gaza. Ou ainda as imagens que se repetem de bombardeios a hospitais, mesquitas, tendas e bairros inteiros. Fome, sede, doenças e epidemias grassam em Gaza.

Desde que o genocídio direto foi retomado por Israel, em 18 de março, já são mais de 1.100 palestinos mortos – a maioria, como tem sido a regra, mulheres e crianças, totalizando pelo menos 61.700 dos assassinatos notificados. Soma-se a isso a limpeza étnica aprofundada na Cisjordânia, que também não cessa e conta tanto com ataques extremamente violentos (pogrom) de colonos sionistas quanto com “experimentos Gaza”. Três campos de refugiados foram esvaziados nessa parte da Palestina ocupada, resultando em mais de 40 mil expulsos, deslocados mais uma vez de suas terras.

Palestinos nas masmorras de Israel

Nos odiosos cárceres sionistas, mais de 10 mil palestinos padecem, entre eles 11 palestinos-brasileiros. Um deles, o jovem Walid Khaled Abdallah Ahmad, de apenas 17 anos, foi assassinado pelas mãos de seus algozes sionistas, sob tortura e negligência médica.

Na primeira fase do cessar fogo, 2 mil presos políticos palestinos – entre os quais mulheres e crianças – foram libertados na troca acordada. A condição destes evidenciou ao mundo a submissão a torturas inomináveis em verdadeiros campos de concentração. Nada disso bastou.


Cumplicidade internacional

A revolta e o ódio não poderiam ser maiores. Não foi por falta de alertas, denúncias, imagens, relatos ou sinais, mas infelizmente a cumplicidade internacional histórica com o crime contra a humanidade consolidado a partir de 1948 ainda está longe de ser rompida. Se não fosse assim, não haveria 1967 – quando Israel ocupou militarmente os 22% restantes do território palestino (Gaza, Cisjordânia e Cidade Velha de Jerusalém). Não haveria expansão colonial acelerada, apartheid, limpeza étnica contínuas por mais de sete décadas. Não se viveriam os horrores que todo o mundo assiste em 2023, 2024, 2025…

Apesar de o holocausto palestino ser transmitido ao vivo que tem tornado inevitável ampla condenação por parte de governos de todo o mundo e mesmo medidas retaliatórias, muito poucos países deram o passo definitivo de romper relações com Israel – e alguns parcialmente, não mais do que uma dúzia. Muito poucos, apesar das condenações há meses do genocídio na Corte Internacional de Justiça e dos criminosos Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) e Yoav Gallant (ex-ministro da Defesa) terem ordem de prisão emitida em novembro de 2024 pelo Tribunal Penal Internacional.

Brasil e ONU

Uma dívida histórica com o povo palestino

O Brasil está entre a maioria que ainda não rompeu relações ou cessou todos os acordos. Está longe de pagar a dívida histórica que tem com o povo palestino.

Por meio de seu diplomata Osvaldo Aranha, foi o Brasil que presidiu a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que aprovou a Resolução 181, a qual recomendou a partilha da Palestina em 29 de novembro de 1947 em um estado judeu e um árabe – delegando, portanto, ao projeto colonial sionista mais de metade das terras palestinas.

Não só: votou a favor dessa injusta partilha que, na verdade, foi o sinal verde para que as gangues sionistas executassem seus planos de limpeza étnica. O resultado foi que em apenas seis meses dois terços do povo originário – 800 mil palestinos – foram expulsos violentamente de suas terras e cerca de 530 de suas aldeias e cidades, destruídas.

Ditadura

Ao longo dessa história de colonização, ao tempo que utilizava técnicas e treinamentos sionistas/imperialistas para a tortura durante a ditadura empresarial-militar, nos seus últimos anos, em 1979, o Brasil votaria na ONU a favor da Resolução 3.379, que apontava o óbvio: sionismo é racismo. Não obstante, na própria ONU isso foi revisto em 1991, pela Resolução 4.686 – a qual teve entre os patrocinadores o Brasil, ao lado de Israel, EUA e outros 65 países, entre os quais também os vizinhos sul-americanos. Rescindir a resolução era a condição exigida por Israel para participar da “Conferência de Paz de Madri”, que desembocaria nos desastrosos acordos de Oslo.

Propaganda enganosa

Durante essa vergonhosa sessão, o então presidente estadunidense, George Bush, trouxe em seu discurso a velha máxima de confundir judaísmo com sionismo – fazendo eco à hasbara, ou seja, propaganda mentirosa israelense de equiparar antissemitismo a antissionismo.

Disse ele, hipocritamente: “…igualar o sionismo com o pecado imperdoável do racismo é deformar a história e esquecer a terrível tragédia dos judeus na Segunda Guerra Mundial e de fato ao longo da história.” A ONU, apesar de rico repertório documental de resoluções condenatórias a Israel – muito embora na perspectiva da farsa da “solução de dois estados” – ainda tem muito o que expiar sua culpa criminosa por mais de 77 anos de sangue derramado na Palestina.

Israel

Um shopping center de tecnologias da morte

Membros do governo e das Forças Armadas na “Feira da Morte”

Os desastrosos acordos de Oslo foram assinados entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel sob mediação dos EUA em 13 de setembro de 1993. Nesse momento foi criado o capataz para a colonização: a Autoridade Palestina (AP), que a partir de 1994 viria a ter papel de polícia para reprimir a resistência nas terras palestinas, por meio da chamada “cooperação de segurança” com Israel – papel que segue cumprindo com esmero, nos últimos 18 meses de genocídio.

A partir de Oslo, Israel se converteu num shopping center de tecnologias de informação e militares. Setenta por cento dessas tecnologias da morte destinam-se à exportação.

Apertos de mão manchados de sangue

O Brasil passou a ser visto como um destino importante na América Latina – na busca por abrir mercados na região. Não decepcionou o estado sionista. Primeiro aprovou no Congresso o Tratado de Livre Comércio Mercosul-Israel em 17 de dezembro de 2009, ratificando-o por decreto em 27 de abril de 2010, durante, portanto, o segundo governo Lula.

A partir daí, passaria nos anos subsequentes a ostentar a vergonhosa marca de quinto maior importador de tecnologia militar israelense. Tecnologia esta testada sobre as verdadeiras cobaias humanas que Israel converte os palestinos todos os dias. No genocídio atual em Gaza, há inúmeras denúncias de novas armas testadas, como uma bomba que dispara lâminas que decepam os corpos palestinos.

Autoridades brasileiras vão à “Feira da morte”

Essas tecnologias vêm sendo apresentadas há 15 anos naquela que é definida como a mais importante feira de defesa e segurança na América Latina – a LAAD, que acontece no Brasil. Apelidada com justiça de “feira da morte”, reúne estandes israelenses (por vezes disfarçados) em que essas tecnologias da morte são apresentadas, para deleite do público, como testadas em campo. O Brasil não apenas abriga o evento macabro, como também comparecem em sua abertura comandantes militares, ministros de Estado, governadores e outras autoridades.

Neste ano, em que a “feira da morte” teve início em 1º de abril até dia 4, no Rio de Janeiro, não foi diferente. Na abertura estavam comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, além do vice-presidente Geraldo Alckmin e dos ministros da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e da Defesa, José Múcio Monteiro. Este último fez questão de saudar a feira como um “marco para novos negócios e oportunidades”. Uma de suas expositoras é a AEL, subsidiária da Elbit, responsável por 85% dos drones que despejam bombas sobre as cabeças das crianças em Gaza e toda sorte de tecnologias para o apartheid.

Acordos militares com o sionismo

Em março do ano passado, em meio ao genocídio, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou um contrato de R$ 86 milhões com a Israel Aerospace Industries para manutenção e suporte logístico de drones israelense comprados pelo Brasil ainda em 2009. A IAI é a maior empresa israelense fabricante de aeronaves, caças militares e drones, portanto, diretamente implicada no genocídio do povo palestino.

Também em 2024 o Exército brasileiro chegou a anunciar a compra de 36 blindados israelenses da Elbit Systems – o que foi barrado via mobilização.

É comum o anúncio de novos acordos com Israel no Brasil. Governos estaduais seguem a colocar nas mãos de suas polícias armas, blindados e mesmo fuzis israelenses – casos de Santa Catarina, Amazonas e São Paulo por exemplo. As armas testadas sobre os corpos palestinos são utilizadas no genocídio pobre e preto e no extermínio indígena.

Petróleo brasileiro alimenta máquina de guerra

Não bastasse isso, desde o governo do genocida Bolsonaro, o Brasil exporta petróleo brasileiro para Israel. Petróleo brasileiro que abastece os tanques para o genocídio.

Enquanto isso, criminosos de guerra passeiam livremente pelo país. Recentemente, um grupo de soldados sionistas em férias chegou a brindar em Florianópolis pela morte aos árabes. De lá, seguiu tranquilamente para Morro de São Paulo, na Bahia, impune, apesar do crime amplamente denunciado de racismo.

Polícia Federal humilha palestinos

Ao mesmo tempo, há registros de deportação pela Polícia Federal de palestinos e árabes em geral nos aeroportos, em que são criminalizados, desumanizados e humilhados. É o que ocorreu em junho do ano passado, por exemplo, com o jovem palestino acadêmico Muslim Abuumar, acompanhado de sua esposa grávida e sua sogra.OLHO

É comum o anúncio de novos acordos com Israel no Brasil. Governos estaduais seguem a colocar nas mãos de suas polícias armas, blindados e mesmo fuzis israelenses. As armas testadas sobre os corpos palestinos são utilizadas no genocídio pobre e preto e no extermínio indígena.

Manifestação contra o genocídio na Palestina em SP Foto Maísa Mendes

Ruptura já!

Expulsar Israel do Brasil

O reconhecimento de Lula, em fevereiro de 2024, do genocídio e as notas condenatórias do Itamaraty ou exigindo “explicações a Israel” – como no caso do jovem brasileiro morto na prisão sionista –, sempre seguidas do indignante quase pedido de desculpas ao criminalizar a resistência legítima palestina, se tornam, assim, letra morta.

Não é dado o passo fundamental, questão de vida ou morte para o povo palestino e seu clamor – por meio da campanha de boicote, desinvestimento e sanções (BDS) a Israel: a ruptura de todas as relações, militares, econômicas e diplomáticas, com o estado sionista.

Não é momento de se sentir impotente. É o que o imperialismo/sionismo buscam transmitir ao mundo, mas só o fazem porque se sentem à vontade diante de tamanha e histórica impunidade. É o momento de aprender com a resistência palestina: sumud (conceito árabe que significa firmeza, persistência, resiliência como resistência) como um movimento para a ação.

Manifestação contra o genocídio na Palestina Foto Maísa Mendes

Passou da hora de ampliar a pressão para que Israel seja expulso do Brasil. Esta segue sendo tarefa prioritária do movimento de solidariedade com o povo palestino, causa síntese das lutas contra a opressão e exploração em qualquer parte do mundo.

A pergunta que não quer calar e grita fundo na alma palestina é: Quantas vidas palestinas ainda vão ter que ser ceifadas, quanto sangue ainda terá que ser derramado, para que o necessário isolamento internacional se materializasse?

Não à toa quando alguém visita a Palestina ocupada, o que mais escuta é: “Conte ao mundo o que viu, porque a comunidade internacional nos abandonou.”

Reverter esse sentimento de abandono e parar o genocídio exige ações concretas e efetivas, a partir de mobilizações gigantescas e unificadas, que honrem a resistência heroica palestina e seus mártires.

Urge ocupar as ruas, universidades, todos os espaços, e levantar bem alto essa bandeira. Virar de vez mais essa página infeliz da história do Brasil, rumo à Palestina livre do rio ao mar.

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