Nacional

Piracicaba: Após agredir jovem grávida e matar seu marido, PM passa a perseguir comunidade e advogados

Redação

14 de abril de 2025
star5 (4 avaliações)
Gabriel, 22 anos, morto pela polícia com um tiro na nuca

No último dia 1º de abril, o jovem Gabriel Junior Alves da Silva, de 22 anos, foi morto pela polícia durante uma abordagem na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo. O que seria mais um caso de assassinato de um jovem periférico praticado pela Polícia Militar do estado de São Paulo ganha contornos de perversidade quando vem à tona os detalhes desta violência.

Gabriel e a esposa, Rebeca Alves Braga, 20, grávida de oito meses, retornavam para a casa após terem passado num comércio para comprar refrigerante. Segundo reportagem da Ponte Jornalismo, o jovem teria sido abordado pela PM, que passava pelo local numa viatura. Gabriel e um outro rapaz que também caminhava pela rua, a pé, foram colocados contra o muro e revistados sob a alegação de “volume suspeito”. Um dos policiais passou a agredir, de forma arbitrária e sem qualquer justificativa, Gabriel. 

Diante da cena, a esposa do rapaz tentou cessar a agressão, afirmando não ser necessária aquela violência. A resposta veio na forma de outra agressão, desta vez contra a própria jovem grávida, com empurrões e puxões de cabelo. Ao ver a esposa sendo espancada, Gabriel se desvencilhou do policial que o abordava e tentou proteger Rebeca. Nisso, foi alvejado com um disparo na cabeça. No laudo divulgado também pela Ponte consta que o tiro atingiu Gabriel na nuca. 

Faixa exigindo justiça para Gabriel e punição dos assassinos

Deboche e omissão de socorro

Como se isso já não fosse bárbaro o suficiente, os policiais envolvidos na ação prenderam a jovem grávida no camburão, enquanto isolaram a cena do crime. Reforços policiais chegaram em cinco minutos, enquanto a ambulância do Samu demorou cerca de 40 minutos, e através da intercessão de vizinhos que testemunhavam a cena.

Dentro da viatura, os policiais ainda debocharam diante do desespero de Rebeca: “Estava dentro do camburão, e o policial tirava sarro: falava que meu marido era um lixo, que estava morrendo, que ia ligar na central para a ambulância demorar mais tempo para chegar”, afirmou a jovem à Ponte. Gabriel já chegou sem vida ao hospital.

Impunidade e intimidações

Após o caso, os dois policiais envolvidos na ocorrência foram afastados das ruas, segundo a PM, mas nem o policial Júnior César Rodrigues, autor do disparo que atingiu Gabriel, nem o policial que o acompanhava, Leonardo Machado Prudêncio, tiveram a prisão preventiva decretada pela Polícia Civil.

A comunidade, indignada com o assassinato, realizou protestos exigindo justiça e punição aos policiais. Mas, além da impunidade, a vizinhança começou a receber retaliações da PM, tendo faixas penduradas no local crime retiradas e passando a sofrer intimidações, com a circulação frequente de viaturas da Força Tática e do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) no bairro. 

Os policiais se defendem alegando legítima defesa para o disparo realizado à queima-roupa, pelas costas, na nuca de Gabriel, sendo que o jovem ainda estava desarmado e nada de ilícito havia sido encontrado com ele ou com o outro homem enquadrado na ocasião.

Membro da comissão de DH da OAB é intimidado com fuzil na cara

As intimidações não param por aí. No último dia 10, o advogado Gustavo Pires, da Comissão de Direitos Humanos da subseção de Piracicaba da OAB, e seu estagiário, Brunno Barbosa, que prestam apoio à família de Gabriel, foram vítimas de uma abordagem violenta por parte da Polícia Militar, numa evidente ação de intimidação.

Quando os dois estavam no bairro onde ocorreu o assassinato de Gabriel, já percebendo uma estranha movimentação de viaturas no local, começaram a filmar com o celular, e Gustavo realizou uma chamada de vídeo com outro membro da Comissão de Direitos Humanos. Aos gritos, uma equipe da PM abordou os advogados e ordenou que descessem do carro, e exigiram que entregassem o celular. 

Gustavo Pires, da Comissão de Direitos Humanos da subseção de Piracicaba da OAB, e seu estagiário, Brunno Barbosa. são enquadrados e intimidados pela polícia

Um dos PM’s afirmou que nunca viu “um advogado querer tanto saber de um caso”. Outro chegou de forma ameaçadora e apontou o fuzil contra o rosto de Gustavo. Em tom ameaçador, avisaram aos advogados para “tomar cuidado” onde estavam andando. Felizmente, Gustavo e Brunno conseguiram alertar os moradores, que passaram a filmar a ação, impedindo que algo pior acontecesse.

Comandante da PM na região já foi condenado por violência policial 

Em declaração divulgada em suas redes sociais, o responsável pelo Comando de Policiamento do Interior-9 (CPI-9), coronel Cleotheos Sabino de Souza Filho, justifica o assassinato do jovem afirmando que “um infrator da lei foi morto durante uma abordagem“. Ele justifica toda a ação da PM tentando corroborar a tese da legítima defesa, tachando Gabriel como “infrator”, mesmo sem qualquer prova ou evidência, e contra todos os testemunhos.

Tais declarações não espantam vindo desse personagem. Além de ter uma ficha com casos suspeitos de violência, em 1999 o então tenente Cleotheos estava de folga quando comandou uma invasão à casa de um trabalhador em Ribeirão Preto como favor pessoal a uma amiga. As agressões foram tão violentas, que a mandíbula da vítima ficou quebrada em quatro partes e ele teve o baço cortado. 

Por esse crime, Cleotheos foi condenado a dois anos de prisão. Esse histórico não impediu que seguisse carreira na polícia e, sob Tarcísio, fosse promovido a coronel em movimentação direta do gabinete de Derrite. Em março deste ano, o PM chegou a ser homenageado pela Câmara de Vereadores local por sua trajetória. 

Justiça para Gabriel e para todas as vítimas da PM. Fora, Derrite!

A execução de Gabriel é mais um caso que expressa a política assassina de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas e seu secretário Derrite. Mais um caso que mostra como a segurança pública é tratada como uma verdadeira guerra contra a população pobre e negra, vistas como “lixo” a serem exterminadas e varridas das ruas, sem qualquer risco de responsabilização, muito menos punição.

É urgente impor uma derrota à política de guerra racista. Precisamos fortalecer a campanha pela demissão do secretário bolsonarista para dar um recado ao governo de São Paulo e a todos os governos: não vamos aceitar calados que nos matem.

WordPress Appliance - Powered by TurnKey Linux - Hosted & Maintained by PopSolutions Digtial Coop