José Welmovicki, nosso Zezoca, presente! Até o socialismo, hoje e sempre!

O camarada Zezoca nos deixou na tarde deste 7 de maio, depois de travar uma dura luta contra o câncer. É com tristeza que choramos a perda de mais um dirigente histórico e valoroso da nossa corrente internacional, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), e do nosso partido, o PSTU. Ele formou dezenas, talvez centenas de militantes, nessa sua longa e imprescindível trajetória de luta em defesa da revolução socialista e pela construção do partido revolucionário aqui no Brasil e também no mundo.
Muitos de nós que tivemos o privilégio de militar lado a lado com o Zezoca, de participar de processos comuns de elaboração, de intervenção na luta de classes, de atividades de agitação e propaganda ou ainda de formação, sabemos da sua imensa capacidade, do seu talento e inteligência política, da memória extraordinária que tinha e das suas qualidades como um camarada amável, afável, incapaz de grosserias.
Um camarada querido, do qual muitos éramos amigos, porque ele nos cativava pela sua generosidade sincera, e pela sua capacidade de ouvir.
Sendo judeu, era antissionista convicto. Um dos principais especialistas em Palestina do nosso país, foi vanguarda durante toda a sua vida na luta por uma Palestina Livre do Rio ao Mar, pela destruição do Estado racista e teocrático de Israel.

Atividade em solidariedade à Palestina no Fórum Social Mundial em 2003
Início da militância sob a ditadura militar
Zezoca começou sua militância em 1970, participando da luta contra a ditadura na faculdade de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF), sendo eleito presidente do DAOC, o diretório acadêmico da Faculdade. Sob um dos momentos mais repressivos, durante o governo Médici, foi perseguido e toda diretoria do DA foi cassada e proibida de atividades políticas.
Nesse período de militância na Universidade Federal Fluminense, entre 1971 e 1974, atuou junto com outros militantes que foram perseguidos, torturados e mortos pela ditadura, como Fernando Santa Cruz, estudante de Direito vinculado à Ação Popular (APML), e que hoje dá nome ao DCE da UFF.
Também participou da rearticulação do movimento estudantil brasileiro. Em 1974 se transferiu para Campinas, onde cursou pós-graduação de Engenharia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1975, continuou participando das lutas pelas liberdades democráticas. Em 1976 passou a cursar pós-graduação em História no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), também na Unicamp, e intensificou sua militância política, quando entrou em contato e iniciou sua militância como membro da Liga Operária (LO). Em razão da atuação política foi perseguido e monitorado pela ditadura desde o início de sua militância.
Em 1978, já como parte direção nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), participou da organização da Convergência Socialista (CS).
No ano de 1978, os militantes da Liga Operária/ PST estavam em campanha pela formação da Convergência. Zezoca foi um dos 22 presos da Convergência Socialista em São Paulo neste ano. As prisões ocorreram logo após a realização do encontro nacional que lançava o movimento, que depois se transformou na organização revolucionária Convergência Socialista, ligada à Fração Bolchevique internacional. Zezoca é da geração que conheceu e conviveu com Nahuel Moreno, que também foi preso no Brasil, o que desencadeou uma enorme luta contra a sua extradição à Argentina, país então sob uma sangrenta ditadura.
Em 2013 foi anistiado político, tendo travado uma grande batalha por reparação, sendo um dos impulsionadores da campanha dos ex-presos e perseguidos da Convergência Socialista.
Zezoca esteve sempre vinculado especialmente à formulação política, nacional e internacional, e também à formação. E por isso também esteve sempre escrevendo diversos artigos e participando da redação dos jornais Versus, Convergência, Alicerce da Juventude Socialista e mesmo do Opinião Socialista. Mas, além disso, atuou na condução e construção de diversas regionais, acompanhou a formação tanto de suas equipes de direção como ajudou na nossa implantação sindical. Esteve em Campinas, no ABC, em São Paulo, e no Rio de Janeiro em diferentes períodos.

Zezoca durante lançamento da revista Marxismo Vivo
Elaborador revolucionário e internacionalista
Na década de 90, ajudou a formar e foi chave para a conformação de uma nova equipe de direção nacional para o PSTU, ao mesmo tempo em que participava da construção e reconstrução da LIT-QI.
Escreveu vários livros, um deles, “Cidadania ou Classe?” foi fundamental para enfrentarmos a direção do PT e da CUT que então passavam de armas e bagagens para a colaboração de classes e para a “parceria conflitiva” com a patronal e os governos neoliberais, aderindo aos pactos sociais e à reestruturação produtiva.
Zezoca tem ainda publicados os livros “Oriente Médio na perspectiva marxista”, e “Reforma ou Revolução em tempos de pandemia”, onde desenvolve uma importante elaboração sobre o neo-reformismo, em que analisa e combate os chamados partidos amplos (ou anticapitalistas) em suas diferentes dimensões, como o PSOL, Podemos ou Syriza. Polemiza com as elaborações do Secretariado Unificado (SU), que fundamentam tais partidos, e que, ao abandonar a ditadura do proletariado, abandonou também a concepção de partido revolucionário, leninista, passando a assumir um projeto neo-reformista. Todos estes livros, publicados pela editora Sundermann, estão agora também em formato digital (e-livro).
Zezoca, como começamos dizendo nesta nota, foi sempre um militante internacionalista e dedicou grande parte dos seus anos de militância à equipe da LIT-QI especificamente, onde ajudou em inúmeras elaborações. Foi do conselho Editorial da Revista Marxismo Vivo por vários anos. Era parte até hoje de sua equipe de formação, na Escola Riazanov. Escreveu diversos artigos de fôlego para o site da LIT-QI.
Viajou para muitos países, inclusive Líbano, Turquia e Síria, e sempre seguiu a situação política mundial.
Perdemos um camarada histórico, um dos mais capazes, um dos imprescindíveis do núcleo histórico central da direção do nosso partido por muitos anos e também da LIT-QI.
Camarada Zezoca, presente!