Mundo Árabe

Israel prepara expulsão de palestinos em meio ao repúdio internacional

Fábio Bosco, de São Paulo (SP)

21 de agosto de 2025
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Distribuição de alimentos em Gaza Foto IRNA

O dia era 1º de março de 2025. Segundo o Canal 13, da TV israelense, o governo decidiu impedir o ingresso de ajuda humanitária para tornar Gaza inabitável e, assim, obrigar a Resistência Palestina a se render. O Estado de Israel decidiu utilizar a fome como arma de guerra em larga escala.

Logo depois, no dia 18, Israel rompeu o cessar-fogo, invadiu e tomou 75% de Gaza, além de realizar bombardeios indiscriminados contra escolas, hospitais e residências. 400 palestinos foram mortos apenas nos primeiros dias.

A partir de abril, Israel excluiu as agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e ONGs de ajuda humanitária e contratou a empresa GHF para “distribuir alimentos” em Gaza. A GHF e o exército israelense transformaram os seis pontos de distribuição em armadilhas mortais.

Até o dia 17 de agosto, Israel já havia matado 1.938 pessoas e, ainda, ferido outros 14.420 palestinos na fila da comida. Além disso, o Estado sionista já matou 258 palestinos de fome, incluindo 110 crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

Preparando uma brutal diáspora forçada

Simultaneamente, Israel procurou outros países para persuadi-los a receber palestinos que forem expulsos de Gaza. Além de Sudão, Sudão do Sul e Somalilândia, Israel, com o aval estadunidense, negocia com o primeiro-ministro Abdul Hamid Dbeibah, que governa a Líbia Ocidental, para receber centenas de milhares de palestinos em troca da liberação de US$ 30 bilhões de dólares bloqueados no exterior desde 2011.

Também estão negociando com o general Khalifa Haftar, que domina a Líbia Oriental, para receber palestinos em troca de uma fatia maior da produção de petróleo do país.

Na Cisjordânia, Israel prepara a anexação de todo o território. Por um lado, armou os 700 mil colonos israelenses para, junto com o exército, atacar e expulsar palestinos. Além disso, tomou a área conhecida como “E1”, dividindo a Cisjordânia entre Norte e Sul e separando-a de Al Quds/Jerusalém.

Segundo o Ministro de Finanças, Bezalel Smotrich, o objetivo é enterrar, de uma vez por todas, a solução de dois Estados e, assim, a formação do Estado Palestino.

A disputa pelo domínio da região

Por fim, Israel quer se impôr como a única potência regional. Hoje, ocupa áreas no Líbano e na Síria, além de atacar regularmente o Iêmen e preparar novos ataques ao Irã. Seus planos estão avançando no Líbano, onde o novo presidente e o primeiro-ministro, aliados dos Estados Unidos e da Arabia Saudita, foram eleitos e pressionam pela rendição do Hezbollah.

Na Síria, o plano sionista de partilha do país foi auxiliado pelo massacre em Sweida, onde forças do governo interino executaram centenas de drusos, empurrando-os para o lado de Israel, e alimentando a tóxica divisão entre as comunidades confessionais, o que é contrário aos objetivos da revolução.

No Iêmen, há um fortalecimento dos iemenitas Houthis (organização Ansar Allah) pelo controle sobre o tráfego comercial no estreito de Bab al-Mandeb, no Mar Vermelho, e pela capacidade de paralisar a produção de petróleo na Arábia Saudita, como fez em 2019.

No Irã, há negociações em curso para um novo acordo nuclear com os Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, há a retomada da produção de armamentos para sua defesa, em particular de mísseis balísticos, que conseguiram furar as defesas anti-aéreas de Israel. E, também, está em curso a reconstrução de seu programa nuclear.

110 crianças palestinas já morreram de fome em Gaza Foto IRNA

Criminosos

O apoio dos Estados Unidos à limpeza étnica

Nenhum desses planos israelenses seria possível sem o apoio estadunidense. Os Estados Unidos entregam 70% das armas utilizadas por Israel. Além disso, dão cobertura política e diplomática para o genocídio em Gaza.

Trump, por exemplo, aplicou sanções contra a relatora da ONU para os territórios palestinos, a combativa Francesca Albanese, além de dois juízes e dois promotores do Tribunal Penal Internacional (TPI), paralisando o Tribunal e a Corte Internacional de Justiça. Tudo isto para proteger os criminosos sionistas.

Esta política de Trump beneficia diretamente as indústrias armamentista e petrolífera norte-americanas. Além disso, Trump fortalece sua relação com os sionistas cristãos que integram o seu movimento, o “Make America Great Again” (MAGA, na sigla em inglês, significando algo como “Tornar os Estados Unidos grandes novamente”).

O imperialismo europeu e os BRICS não são alternativas

Enquanto o imperialismo estadunidense apoia abertamente o genocídio, o imperialismo europeu busca um outro caminho para apoiar Israel.

Em setembro, a França e a Arábia Saudita patrocinaram uma Conferência na ONU para reconhecer um “Estado Palestino”. Mas, esse “Estado Palestino” seria formado em base à rendição da Resistência Palestina e, também, seria desmilitarizado, para garantir a “segurança” de Israel.

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) participou da Conferência e defendeu o desarmamento do Hamas e da Resistência Palestina.

O imperialismo britânico, por sua vez, se comprometeu a apoiar essa política da França, se Israel não amenizar o genocídio em Gaza. Mas, nenhum deles falou sobre o que realmente seria necessário: o embargo militar e a ruptura das relações comerciais e diplomáticas com Israel.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou um embargo de armas parcial e parou por aí. Esses anúncios enganosos têm como objetivo se “distanciar” da responsabilidade pelo genocídio e apaziguar a gigantesca onda de protestos pró-palestina na Europa.

Infelizmente, a situação não é diferente entre os BRICS, a aliança inicialmente formada pelos países que compõem a sigla – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que, agora, inclui vários países do Norte da África, como Egito e Etiópia, e do Oriente Médio, como Irã, Emirados Árabes e Arábia Saudita.

A Índia é totalmente aliada a Israel. A China é a principal potência exportadora para Israel. A Rússia é aliada histórica de Israel e provedora de petróleo para a máquina de guerra sionista. O Brasil e a África do Sul protestam contra o genocídio, mas continuam exportando para Israel, respectivamente, petróleo e carvão.

Resistência

Hamas apoia cessar-fogo sem rendição

A Resistência Palestina em Gaza, liderada pelo Hamas, está enfraquecida, após 22 meses de luta desigual contra os genocidas sionistas. Mesmo assim, o Hamas não aceita rendição: seu desarmamento e a ocupação de Gaza por Israel.

Ao contrário, o Hamas defende a proposta de cessar-fogo de 60 dias, com ampla troca de prisioneiros, além da retirada das tropas israelenses de Gaza.

A experiência histórica dá razão à Resistência Palestina. O desarmamento sempre deu lugar a massacres de palestinos, como em 1982, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano.

A extraordinária onda de solidariedade internacional

O genocídio em Gaza é repudiado pelos povos de todo o mundo. As pesquisas de opinião pública apontam o maior apoio aos palestinos jamais registrado antes. Esse repúdio ao genocídio se materializa em ações multiformes de solidariedade, desde passeatas reunindo milhares a protestos nas universidades ou em eventos culturais e esportivos.

Laços entre a luta na Palestina e na Ucrânia também têm dado seus primeiros passos. Em Kyiv, ativistas de esquerda realizaram uma manifestação de apoio à Palestina, em frente ao Memorial do Holodomor, dedicado às milhões de pessoas que morreram de fome na Ucrânia, nos anos 1930, fruto da política assassina de Stalin.

O que ainda não aconteceu em larga escala é a necessária unidade dos trabalhadores para impedir as exportações de equipamentos militares para Israel.

Os protestos em Israel e seus limites

Na última semana, houve protestos de centenas de milhares de israelenses, exigindo o cessar-fogo e a troca de prisioneiros. Também centenas de judeus ultra-ortodoxos protestaram contra o alistamento militar obrigatório de religiosos.

Esses protestos são importantes, pois pressionam o governo de Binyamin Netanyahu a aceitar o cessar-fogo. No entanto, é importante conhecer seus limites. A ampla maioria dos israelenses judeus apoia a expulsão de palestinos de Gaza e a colonização da Cisjordânia.

Mas, o prolongamento do genocídio impacta a economia – que está em recessão –, afetando a vida dos israelenses que não querem ser mortos em Gaza pela resistência palestina. Além disso, a imagem internacional de Israel também está totalmente prejudicada.

A maioria da população israelense judia, incluindo a classe trabalhadora, não é aliada dos palestinos. Ao contrário, ela também se beneficia do roubo de terras e casas palestinas. Devido a esses benefícios materiais, os trabalhadores israelenses judeus se associam à empreitada sionista contra os interesses dos palestinos e dos trabalhadores de todo o mundo.

Apenas as manifestações dos palestinos de 1948 (palestinos que vivem nos territórios palestinos tomados em 1948, sobre os quais se formou o Estado de Israel), principalmente na cidade palestina de Umm al-Fahm, é que exigem o fim do genocídio, em solidariedade com seus irmãos e irmãs palestinas em Gaza.

Apoio incondicional à Resistência Palestina!

Fortalecer a solidariedade internacional!

O PSTU apoia, incondicionalmente, a Resistência Palestina. Não temos acordo programático com o Hamas, a Jihad Islâmica ou a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), mas estamos na mesma trincheira, contra o genocídio israelense.

Apoiamos a decisão da Resistência Palestina de não entregar as armas e de manter as ações contra o exército israelense, por mais limitadas que sejam.

Enquanto a Resistência Palestina faz a sua parte da luta, é necessário que a classe trabalhadora e a juventude em todo o mundo também façam a sua.

Nos países árabes, é necessária uma nova “Primavera Árabe”, para derrubar os regimes colaboracionistas. Nos demais países, é necessário manter a mobilização para obrigar os governos a romperem relações comerciais e diplomáticas com Israel, buscando envolver a classe operária em ações diretas, de boicote ao envio de armas e de qualquer outro tipo de produtos para Israel.

Será no calor da luta contra o genocídio que construiremos o caminho para libertação da Palestina, do rio ao mar, e para pôr fim ao Estado racista de Israel, única solução para que haja paz no Oriente Médio.

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