Senador do PT defende que o “Hamas tem que ser exterminado, mas o governo de Israel não”
No dia 7 de outubro, o Senado brasileiro realizou uma vergonhosa sessão em homenagem às “vítimas do Hamas”
Com a presença da nata dos apoiadores do genocídio em Gaza, e em meio a senadores da extrema direita como Sérgio Moro (União Brasil), Flávio Bolsonaro (PL) e General Pazuelo (PL), chamou a atenção o discurso do senador Jaques Wagner do PT baiano.
Em um curto discurso, Jaques Wagner conseguiu o feito de defender o extermínio do Hamas, o plano de “paz” de Trump e as glórias do sionismo liberal representados na figura de Itzhak Rabin em contraposição à figura de Binyamin Netanyahu.
Itzhak Rabin começou sua carreira militar na Palmach, tropa de elite das milícias sionistas que promoveram a Nakba na Palestina, expulsando cerca de 800 mil palestinos de seus lares e destruindo mais de 500 vilas. Ele chefiou o exército israelense (IDF) em 1967 quando Israel ocupou ilegalmente a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, as Colinas de Golã e a Península do Sinai. O fato de ter sido assassinado por um sionista kahanista (de extrema direita) não diminui em nada todos os crimes que ele cometeu contra o povo palestino.
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Plano de paz de Trump é continuidade do genocídio
O plano de “paz” de Trump não é um plano de paz mas um plano de continuidade do genocídio.
O plano prevê o desarmamento da resistência palestina liderada pelo Hamas, mas não prevê o desarmamento do agressor genocida: o Estado de Israel. O plano não prevê a retirada integral das tropas sionistas, nem o fim do cerco ilegal à Gaza que já dura 18 anos. O plano não garante o direito de autodeterminação do povo palestino. Ao contrário, os palestinos sequer foram consultados e, no futuro, seriam tutelados por um conselho liderado por Trump e Tony Blair para garantir os interesses colonialistas.
Um verdadeiro plano de paz teria que começar pelo fim do genocídio em Gaza e na Cisjordânia, pela libertação dos presos políticos palestinos e pelo direito do povo palestino de decidir seu futuro em liberdade, do rio ao mar.
Senador do PT repete a narrativa genocida
O Hamas é um dos principais partidos políticos palestinos. Devido à violência da ocupação israelense, os partidos palestinos têm brigadas militares para sua autodefesa. No dia 7 de outubro de 2023, o principal objetivo da operação militar do Hamas e da resistência palestina era fazer prisioneiros israelenses para trocar por prisioneiros palestinos, que é a única forma de libertá-los.
Para a surpresa dos combatentes palestinos, grande parte das tropas israelenses fora deslocada para a Cisjordânia para promover a expulsão de palestinos e a construção de colônias sionistas. Após algumas horas, tropas israelenses chegaram ao local e dispararam contra qualquer alvo humano, seja palestino ou israelense, para evitar que a resistência palestina fizesse prisioneiros. Ao final, 1.139 pessoas foram mortas e 250 foram feitas prisioneiras pela resistência palestina.
O Estado de Israel nunca fez nem permitiu que fosse feita uma investigação para apurar todas as mortes já que qualquer investigação básica revelaria as digitais do exército israelense em parte significativa delas. O fracasso do sistema de segurança israelense não livra Israel da necessidade de uma investigação independente.
Em seguida, o Estado de Israel iniciou o que a maioria dos especialistas denomina de genocídio, o crime mais grave previsto pelo direito internacional. São mais de 67 mil mortos palestinos, 90% da infraestrutura de Gaza destruída, e a utilização da fome como forma de guerra genocida.
Infelizmente, Jaques Wagner não se preocupou em cobrar uma investigação independente sobre os 1.139 mortos do dia 7 de outubro de 2023. Nem atentou para o genocídio em curso há dois anos. Apenas se limitou a repetir a narrativa genocida israelense de que é necessário “exterminar o Hamas”, narrativa esta que objetiva confundir a opinião pública e dar continuidade ao extermínio que Israel promove contra a população palestina.
Esta posição inaceitável de Jaques Wagner não é a mesma de parte da comunidade judia da qual faz parte, nem da maioria do povo brasileiro.
Entre a comunidade judia fora da Palestina ocupada crescem os setores antissionistas. No dia 4 de outubro, a organização Vozes Judaicas por Libertação realizou em São Paulo o evento “BeSeFer Chayim: festejar a vida contra as políticas da morte” em crítica ao genocídio em curso na Palestina. Exatamente o oposto do que Jaques Wagner fez no Senado 3 dias depois.
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Manifestação em Brasília
De volta à Brasília, no dia 7 de outubro, uma manifestação de solidariedade à Palestina foi impedida de se aproximar da praça dos três poderes, onde estão o congresso nacional, o palácio do planalto e o Supremo Tribunal Federal. Sequer foi permitido estender uma grande bandeira da Palestina na frente do Congresso Nacional. Pior ainda, os manifestantes foram agredidos pela polícia no início da manifestação em frente à embaixada dos Estados Unidos.
Esta manifestação tinha como objetivo pedir ao presidente Lula a ruptura de relações comerciais e diplomáticas com o Estado de Israel, no mínimo o embargo militar e energético que o presidente Sarney aplicou contra a África do Sul sob regime de apartheid em 1985. Para este fim, foi entregue um abaixo assinado com dezenas de milhares de assinaturas recolhidas pelo Comitê Mineiro de Solidariedade com o Povo Palestino.
O presidente Lula reconhece que há um genocídio em curso, mas não toma as ações requeridas para esse tipo de situação, conforme proposta pela relatora da ONU Francesca Albanese. Lula também não perde a oportunidade de condenar o que ele denomina de “ato terrorista do Hamas”. A inação contra o genocídio e a injusta condenação do Hamas mostram que posições como as de Jaques Wagner infelizmente encontram acolhida na política externa do governo Lula.
Assim como na maioria dos outros países, está nas mãos da juventude e da classe trabalhadora a defesa da ruptura de relações com Israel para por fim ao genocídio e abrir o caminho para a libertação da Palestina, do rio ao mar.
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