Cabo Frio sob comando do marketing e da exclusão: a realidade por trás da gestão de Dr. Serginho
Michele Andre di Candia, Professor da Rede Municipal de Cabo Frio e militante do PSTU
A gestão do prefeito Dr. Serginho (PL), iniciada em 2025, chegou com promessas de renovação, eficiência e seriedade. Desde o primeiro dia, o discurso oficial se apoiou na “herança maldita” deixada pela ex-prefeita Magdala Furtado (PV), uma justificativa recorrente para todos os problemas da cidade.
Dr. Serginho foi eleito com quase 70% dos votos válidos, embalado por um discurso de ruptura, moralismo e eficiência, alinhado ao bolsonarismo, que o impulsionou nas redes sociais e nas urnas. Assim como Bolsonaro, chegou ao poder com o discurso de “colocar ordem na casa”, mas o que se seguiu foi o já conhecido roteiro: propaganda intensa, culto à própria imagem, desmonte do serviço público e ataques a servidores e movimentos sociais.
O caos fiscal e a “gestão do caos”
Logo no início do mandato, a equipe de Dr. Serginho declarou calamidade financeira, alegando um rombo bilionário nas contas públicas. Essa estratégia deu ao prefeito margem para tomar medidas emergenciais e reforçar seu discurso de “salvador da pátria”. No entanto, o que se viu foi a adoção de uma verdadeira “gestão do caos”, em que quanto pior a situação, mais se justifica a ausência de avanços.
Uma das primeiras ações do governo foi o enfrentamento com os servidores públicos que estavam sem receber o salário de dezembro de 2024. O prefeito defendeu o parcelamento em 12 vezes, o que levaria aposentados a receber apenas R$ 70 por mês. A pressão das manifestações dos trabalhadores forçou o pagamento integral em janeiro de 2025.
A arrecadação cresce, os impostos são cobrados com rigor, mas o retorno à população é mínimo. Fala-se muito em “recuperação fiscal”, mas pouco se vê de recuperação social.
A Cabo Frio dos ricos: turismo elitizado e higienização social
Com o discurso do ordenamento urbano, Dr. Serginho passou a “varrer” das praias os trabalhadores e o povo pobre. As caixas de som na Praia do Forte foram retiradas, vídeos oficiais mostraram uma verdadeira higienização social, incluindo a expulsão de moradores de rua, muitos deles enviados para a cidade de Linhares (ES).
Essas medidas compõem o projeto de uma Cabo Frio limpa e elitizada, moldada para agradar os ricos donos de hotéis e restaurantes, e para esconder a pobreza dos olhos do “novo turista”.
O prefeito decretou a taxação abusiva das excursões turísticas, que chegou a R$ 2.500 por ônibus, destruindo o pequeno comércio local, os ambulantes e os proprietários de casas de veraneio. A prefeitura ainda tentou restringir a atuação de motoristas de aplicativo de outras cidades. Tudo isso faz parte de uma política que afasta o turismo popular e reforça o domínio do grande empresariado.
A realidade do sucateamento dos serviços públicos
A educação pública vive um verdadeiro caos. Há salas superlotadas, escolas com falta de água, luz e climatização, aumento de carga de trabalho, três anos sem reajuste salarial e descumprimento do piso nacional. Faltam profissionais, inclusive para o atendimento a alunos com deficiência, e cresce o adoecimento dos servidores. Houve tentativa de fechamento do Colégio Rui Barbosa e de todo o ensino médio municipal, o que demonstra o projeto de destruição da educação pública e o fortalecimento dos donos de escolas particulares, um deles, inclusive, ex-secretário de Educação da própria gestão.
Na saúde, o cenário não é diferente. As unidades continuam superlotadas, faltam médicos, demais profissionais, leitos, medicamentos e exames. O Hospital da Mulher está entregue às moscas, e o Hospital da Criança sofre abandono e insegurança. As reformas anunciadas servem muito mais à publicidade do que à população.
Transporte, meio ambiente e privatização da cidade
O transporte público de Cabo Frio segue monopolizado pela empresa Salineira, que impõe tarifas altas, intervalos de até três horas entre ônibus e mantém sob sigilo suas planilhas de lucro. O passe-livre estudantil é desrespeitado, e as ciclovias, quando existem, estão abandonadas.
No meio ambiente, a situação é alarmante. A cidade segue sem rede de tratamento de esgoto. Grandes hotéis, restaurantes, mercados e o shopping despejam resíduos nas redes de águas pluviais. Enquanto isso, construtoras pressionam para erguer condomínios de luxo e aterrar canais naturais que ligam ao oceano. As consequências são visíveis: alagamentos nos bairros pobres, pescadores com a Laguna de Araruama poluída e o sustento de famílias sendo retirado.
Já os ricos, protegidos em suas mansões e iates, seguem intocados.
Ataques às políticas sociais e à diversidade

Seguindo a cartilha machista e conservadora de Bolsonaro, Dr. Serginho demoliu a Casa Etiene Romeu, que atendia mulheres vítimas de violência doméstica. O resultado é trágico: Cabo Frio continua entre as cidades com mais casos de feminicídio do Rio de Janeiro.
Na pauta LGBT, a prefeitura trata a Parada do Orgulho LGBT apenas como evento comercial, ignorando a necessidade de políticas públicas e o aumento dos casos de violência contra esta parte da população oprimida.
Controle da mídia e manipulação digital
Um dos pilares da gestão é o controle da informação. A maior parte da imprensa local se mantém silenciosa ou alinhada ao governo, atuando como extensão da Secretaria de Comunicação. Críticas desaparecem, e investigações são abafadas.
Nas redes, o prefeito construiu uma imagem blindada e artificial, sustentada por máquinas de marketing digital e uso de perfis falsos para atacar opositores. A Polícia Federal apontou seu envolvimento em esquemas de fake news eleitorais. O debate público foi substituído por uma propaganda constante, onde o governo se comunica não para prestar contas, mas para manipular a opinião popular.
Trabalhadores em luta contra o descaso
Apesar da blindagem midiática, os trabalhadores resistem. Servidores da educação e outras categorias realizaram manifestações e até greve de 24 horas contra os atrasos salariais, o autoritarismo e o descaso da gestão. Em um desses atos, o prefeito tentou discursar para se promover, mas o sindicato condicionou sua fala à abertura de uma mesa de negociação, algo que ele se recusou a fazer.
Depois, Serginho divulgou fake news em suas redes dizendo que foi impedido de falar, o que foi desmentido por vídeos que mostram o prefeito discursando com o som do próprio sindicato. O episódio foi seguido por ataques e perseguições à diretora do Sepe-Lagos, Denise Alvarenga, demonstrando o caráter autoritário e persecutório da administração.
Marketing não é gestão
A gestão de Dr. Serginho é, até agora, um governo de marketing e exclusão. Há muita publicidade, uso das redes sociais, eventos e discursos triunfalistas. Mas, para quem depende do serviço público, a realidade é outra: filas, abandono, baixos salários e falta de diálogo.
Cabo Frio vive hoje uma política que enriquece poucos e empobrece a maioria. Uma cidade transformada em vitrine para os ricos, enquanto o povo trabalhador enfrenta o abandono.
O desafio que se impõe é romper essa bolha de propaganda e construir uma Cabo Frio dos trabalhadores, onde a vida valha mais do que os likes.