Osmarino Amâncio: “Para nós, povos da floresta, capitalismo verde é uma tragédia”
Jeferson Choma, da Redação | Cobertura Especial Cúpula dos Povos/COP 30
O Opinião Socialista entrevistou Osmarino Amâncio, líder seringueiro que, ao lado de Chico Mendes, lutou contra a destruição da Amazônia por meio dos “empates”, piquetes realizados pelas comunidades que impediam o desmatamento. Osmarino é militante do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI).
Como você avalia a política ambiental do governo Lula?
A gente só escuta a ideia do agronegócio e a política governamental fazendo a parceria com o setor da burguesia agrária. Por trás dos discursos bonitos nas COPs, o que chega pra nós na floresta é que o governo Lula continua a mesma cartilha: defende os megaprojetos na Amazônia, as hidrovias, as estradas para o escoamento do agronegócio, as barragens e a exploração do petróleo.
Mas e as políticas defendidas pela ministra Marina Silva? É capitalismo verde?
São soluções de mercantilização da natureza. Quando era ministra, Marina Silva procurou favorecer o “mercado verde”, criou a lei de gestão de florestas públicas que privatiza as florestas, colocando-as para as madeireiras, indústrias farmacêuticas e biopirataria. E essa mercantilização vem com a roupagem dos Créditos de Carbono, o tal do REDD, que vira moeda de especulação na Bolsa de Valores. A empresa paga e compra o direito de continuar poluindo e desmatando.
Então, sob o capitalismo, a “sustentabilidade” virou uma fachada para a especulação financeira. Esses projetos impõem proibições aos moradores da floresta, impedindo que eles possam fazer seus roçados, tirar madeira para construir suas casas, oferecendo em troca uma miséria. E agora tem fazendeiro grilando terras das comunidades, dizendo que aquela área de floresta preservada é sua, para registrar ilegalmente a posse, usando a própria vegetação para justificar a “reserva legal”. Desse jeito eles continuam desmatando, mas usam a “reserva legal” como fachada. Tem empresa que faz isso também para vender crédito de carbono. A gente chama isso de grilagem verde. O capitalismo é capitalismo, seja ele verde, vermelho ou amarelo. E para nós, povos da floresta, para os indígenas e quilombolas, ele é sempre uma tragédia.

Chico Mendes e Osmarino Amâncio | Foto: Acervo do Instituto Socioambiental (ISA)
Como foi a luta travada por você e o Chico Mendes pelas reservas extrativistas?
Foi um processo que chamamos de um processo revolucionário na luta pela reforma agrária adequada aos seringueiros. Uma luta pelo socialismo, que nós não reivindicamos a propriedade privada. A gente não queria títulos de propriedades, reivindicamos o usufruto dos seringueiros. A gente também se inspirou na criação das Terras Indígenas. E criamos a Aliança dos Povos da Floresta que juntou seringueiros e indígenas na mesma luta. A gente aprendeu que se a gente cair, a floresta cai junto. E é a nossa união que garantiu a nossa sobrevivência, nossos direitos e a floresta em pé. Essa lição é mais viva do que nunca hoje. Precisamos refundar essa Aliança para fazer o empate contra os megaprojetos do agronegócio e desse governo.
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