Chacina, violência urbana e crise ambiental: faces da crise capitalista
A situação calamitosa da segurança pública no Brasil é um sintoma da falência completa do sistema capitalista. Por um lado, a extrema direita comemora a desastrosa ação da polícia no Rio de Janeiro como o suprassumo do combate ao crime organizado. O governo Lula, por sua vez, em palavras críticas à operação no Rio de Janeiro, chamando de matança, não diz que a Polícia Militar do estado da Bahia, governado há muito tempo pelo PT, é a polícia que mais mata no Brasil. Lula disse que não decretará a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro, mas decretou a GLO em Belém durante a COP30.
A direita critica porque diz que Lula só se importa com o evento internacional sobre o clima e não com a população do Rio de Janeiro que está sofrendo a violência do tráfico. Aproveitam a oportunidade para, ao mesmo tempo, destilar seu negacionismo climático já que consideram bobagem qualquer iniciativa para reduzir a emissão de carbono, e por isso criticam a COP. São defensores da política ambiental a la Trump, que menospreza a COP com sua política de destruir mesmo a natureza e emitir quanto poluente for necessário para ganhar mais dinheiro.
Já Lula e uma parte dos países imperialistas europeus, como a França de Macron, tentam parecer preocupados com o meio ambiente no discurso. Para isso, defendem uma série de medidas capitalistas para tentar reduzir os desmatamentos e as emissões de poluentes. É o famoso “capitalismo verde”, que visa ganhar dinheiro ao mesmo tempo que finge resolver o problema da crise ambiental. É evidente que isso não funciona, e o planeta está caminhando para uma catástrofe ambiental. Isso é outro sintoma da forma como o capitalismo leva a humanidade para barbárie.
Duas faces da barbárie capitalista
A crise ambiental e os cada vez mais frequentes eventos climáticos extremos, junto com a matança que ocorreu no Rio de Janeiro como expressão da crise de segurança pública e da guerra aos pobres promovida pelo Estado, são, cada um a seu modo, duas expressões da crise capitalista que, como sempre, recai principalmente sobre a classe trabalhadora e a população mais pobre e oprimida, como a juventude negra, as mulheres, as LGBTIs, assim como os povos originários, quilombolas e ribeirinhos.
São dois exemplos que também revelam como, por dentro deste sistema, não há saída para a classe trabalhadora. No Rio de Janeiro, não avançou um milímetro o combate à violência que tanto assola a população das comunidades. Enquanto a extrema direita defende uma “bukelização” do Brasil, aprofundando a repressão e o genocídio, o governo Lula propõe medidas que não saem do marco da repressão. Não se trata de “melhorar” a repressão ou de falta de “inteligência” da polícia, mas sim de entender em profundidade as bases sociais e estruturais da violência no Brasil, intimamente ligada ao capitalismo e ao Estado capitalista.
É uma coincidência irônica que a chacina promovida pela polícia no Rio tenha se dado na semana em que a Bolsa de Valores bateu seu recorde de alta no Brasil, enriquecendo mais ainda os donos do capital. No capitalismo, o dinheiro do tráfico está nos bancos, no mercado financeiro, como ficou evidente no esquema do PCC na Faria Lima, em São Paulo. Resumindo: o PCC tinha empresas listadas na Bolsa de Valores.
A droga é uma mercadoria. O fuzil é usado pelo tráfico para garantir seus negócios. Toda a lógica da politica de segurança capitalista atual não é acabar com o tráfico de drogas, impedir a violência contra os trabalhadores e extinguir este mercado ilegal. Pelo contrário, trata-se sempre apenas de repressão violenta do Estado ineficaz que supostamente é contra os criminosos, mas pega apenas a ponta varejista e acaba resvalando para toda a população.
O Estado e os governos medem o sucesso pela quantidade de armas apreendidas, supostos criminosos mortos e quantidade de drogas apreendidas. Ao diminuir o estoque ou a oferta de armas e drogas, o efeito prático dessas operações no mercado capitalista ilegal é o aumento do preço das drogas e das armas.
A hipocrisia da COP30
Enquanto fechávamos esta edição, o governo acabava de decretar a GLO na cidade de Belém, uma região com grandes áreas dominadas pelo mesmo Comando Vermelho do Rio de Janeiro. Ali, porém, não há chacinas à luz do dia, mas uma operação para maquiar a violência e a pobreza para o grande teatro da COP30. Uma encenação para que líderes mundiais e o governo Lula tentem mostrar que estão fazendo algo em relação ao meio ambiente, sendo que a realidade é o exato contrário.
Assim como o governo Lula responde ao problema da criminalidade com medidas de repressão, sob um discurso que tenta se contrapor à extrema direita, na questão ambiental o discurso também se desprende da prática. Lula discursa em favor da transição energética e em defesa do meio ambiente dias após seu governo liberar o início dos testes para a exploração de petróleo na Margem Equatorial.
Sua política econômica favorece o agronegócio, que devasta florestas e mata e persegue indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Enquanto presenteia o agro com o maior Plano Safra da história, de R$ 516 bilhões, ataca direitos sociais dos mais pobres, como o seguro-defeso e o seguro-saúde. Sem falar nos juros estratosféricos que transferem bilhões aos banqueiros via juros da dívida pública.
Sua política energética, neste mesmo sentido, beneficia os grandes monopólios da indústria petroleira, principalmente as transnacionais. A exploração da Margem Equatorial não apenas coloca em risco o meio ambiente da região, mas aprofunda esse modelo capitalista destrutivo que está levando o planeta a passos largos rumo à catástrofe. E não para beneficiar o povo de imediato ou para financiar uma transição energética lá na frente, como defende de maneira cínica, mas para encher os bolsos dos grandes capitalistas.
Enfrentar a violência urbana e o caos ambiental
Assim como não é possível acabar com o tráfico, a violência e a criminalidade sem enfrentar o Estado e o mercado de maneira combinada, não há solução possível para frear a crise ambiental nos marcos do mesmo mercado capitalista.
Para enfrentar de forma consequente a violência, é preciso medidas que vão da legalização das drogas, com o controle da produção e da distribuição pelo Estado, até a desmilitarização da PM e o controle popular sobre as forças de segurança, mudando a atual lógica de segurança pública racista, elitista e capitalista. Até medidas contra os bancos, o mercado financeiro e a burguesia que lucra empilhando corpos negros.
Para resolver o problema ambiental, é preciso enfrentar, da mesma maneira, os interesses dos grandes monopólios do petróleo, o agronegócio, as mineradoras, o mesmo grande capital que lucra com a destruição do meio ambiente e com o genocídio indígena. A questão é que a política da extrema direita é pisar fundo no acelerador da violência urbana e da destruição do meio ambiente, enquanto o governo Lula se mantém no mesmo caminho, apenas tentando andar com o freio de mão puxado.
Precisamos exigir medidas urgentes para combater a violência, em defesa dos interesses dos trabalhadores e contra a crise ambiental. Mas a solução só virá com o fim do capitalismo e um novo modelo de sociedade que se oriente não pela lógica do lucro e do mercado, mas pelas necessidades da classe trabalhadora e da grande maioria da população.