Nacional

Eduardo Paes, o PL e o “amor” ao Rio: alianças por cima contra o povo trabalhador

Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

8 de novembro de 2025
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Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), declarou no mês passado, em evento na Baixada Fluminense, que pretende estar junto com o PL nas próximas eleições ao governo do estado. A fala ocorreu durante a festa de filiação do deputado Luciano Vieira ao PSDB, em São João de Meriti, e soou como uma confirmação pública do que já vinha sendo costurado nos bastidores: “Não tenho dúvidas de que vamos estar juntos, mas é por um só amor, por amor ao Estado do Rio de Janeiro”, disse, em tom de quem antecipa uma grande coalizão entre partidos que, em tese, disputam o governo do Rio. Tudo isso semanas antes da chacina promovida por Cláudio Castro (PL) nos Complexos da Penha e do Alemão.

O oportunismo de Paes

Para entender o alcance dessa declaração, é preciso lembrar como Eduardo Paes se reelege à prefeitura. Em 2024, foi eleito com o apoio de um arco de alianças que ia de partidos como Solidariedade e Podemos até o PT. À época, sua campanha se apresentava como um contraponto à extrema direita bolsonarista representada pelo delegado da Policia Federal, Alexandre Ramagem.

Mas o tempo mostrou que esse discurso tem limites bem definidos e que a sua prática política sempre serviu a um projeto eleitoreiro e de defesa dos megaempresários da cidade. O PL, partido de Bolsonaro, é hoje um dos principais sustentáculos da ultradireita no país. Abriga figuras como Valdemar Costa Neto, Carla Zambelli, Nikolas Ferreira e defende uma política marcada por ataques às liberdades democráticas, à educação pública, aos direitos das mulheres, da população negra e LGBT.

Projeto eleitoral e político guinando à direita

A fala de Paes, portanto, não é apenas um gesto eleitoral, é um aceno calculado à ultradireita e ao eleitorado conservador, que significa amplos setores da população do estado. Nos últimos anos, o prefeito vem se movendo cada vez mais à direita. Defendeu e aprovou, na Câmara dos Vereadores, a Guarda Municipal armada, visitou Nayib Bukele em El Salvador, um governante autoritário exaltado por sufocar direitos civis sob o pretexto de “combater o crime”, e passou a acenar para líderes religiosos como Silas Malafaia, buscando pontes com o fundamentalismo neopentecostal que é base de sustentação da extrema direita brasileira.

Esse deslocamento político não é apenas tático, é parte de um projeto de poder que aposta na conciliação com os setores mais reacionários para garantir sua sobrevivência. E não é um movimento isolado. Paes governa o Rio como quem administra uma empresa: com prioridade total aos interesses do capital imobiliário, das empreiteiras, do transporte privado e dos grandes empresários da cultura e do turismo. Ao mesmo tempo, mantém congelados salários de servidores, aprofunda a terceirização e promove ataques sistemáticos aos trabalhadores da educação e da saúde.

Por trás da imagem de “prefeito gestor”, há um modo de governar baseado na privatização e no autoritarismo administrativo. A cidade se transforma em vitrine para o turismo e para os megaeventos, enquanto favelas e periferias continuam abandonadas e militarizadas. Os mesmos grupos econômicos que lucram com as parcerias público-privadas e concessões são os que definem as prioridades do orçamento.

Agora, ao se lançar como principal nome para disputar o governo do estado em 2026, Paes tenta construir uma frente ampla que vai do PL de Bolsonaro ao PT de Lula. Um arco que une neoliberais, conservadores e setores ditos de “esquerda” sob o discurso de “amor ao Rio”, mas que na prática representa a continuidade da política de austeridade, repressão e entrega do patrimônio público.

A vacilação dos setores de esquerda

O PT, que hoje integra a gestão municipal com cargos e secretarias, já sinaliza disposição para compor esse projeto estadual. Lideranças como Washington Quaquá, vice-presidente nacional do partido e figura influente no Rio, trabalham pela consolidação dessa aliança, sob o argumento da “governabilidade” e da necessidade de derrotar a extrema direita. No entanto, o resultado prático é o oposto: a adaptação a um projeto que fortalece a direita e desarma a resistência popular.

Nas eleições municipais de 2024, parte da esquerda voltou a defender o voto em Paes no segundo turno, sob o argumento de barrar o avanço bolsonarista. O problema é que, passada a eleição, o “mal menor” mostrou-se mais uma vez o gestor dos interesses do grande capital. Paes nunca foi alternativa para os trabalhadores; sempre governou em benefício das elites e em aliança com os mesmos setores que exploram e reprimem o povo.

Uma alternativa socialista e revolucionária para os trabalhadores do Rio

Por isso, o debate que se coloca agora é o da necessidade urgente de construir uma alternativa própria da classe trabalhadora. E expressar isso numa candidatura que não dependa das alianças com os representantes do capital nem se submeta à lógica das oligarquias políticas que há décadas controlam o estado do Rio de Janeiro.

O Rio precisa de um projeto que rompa com a velha política, que defenda os direitos dos trabalhadores, das mulheres, da juventude e da população negra e periférica. Um projeto revolucionário e popular, que aponte para o poder dos de baixo e para uma sociedade livre da exploração e das opressões.

Enquanto Eduardo Paes fala em “amor ao Rio”, o povo trabalhador sabe que o verdadeiro amor à cidade não se expressa em acordos de bastidores nem em conchavos com a direita. Ele se constrói nas lutas diárias por salário digno, moradia, transporte, saúde e educação. O desafio é transformar essa indignação em força política organizada e construir uma sociedade erguida pelas mãos de quem produz toda a riqueza, mas nunca governa. O PSTU se dispõe a enfrentar este desafio!

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