Meio ambiente

Eduardo Paes e o hipócrita discurso verde da COP 30

Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ and Elaine Borba

17 de novembro de 2025
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Presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o prefeito do RJ, Eduardo Paes, presidente Lula e o governador do RJ, Cláudio Castro. Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Nesse mês de novembro as atenções internacionais estão voltadas para o debate do meio ambiente em decorrência da realização da COP 30 no Brasil. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, aproveitou para surfar a onda do discurso verde em evento preparatório na cidade, o C40. Com o discurso hipócrita de defesa do meio ambiente e até recebendo prêmio, não falou dos reais problemas que afetam o Rio, os trabalhadores e o povo pobre.

O que é o C40 e sua relação com a COP30?

O Rio de Janeiro sediou recentemente o encontro do C40 Cities, uma rede internacional que reúne prefeitos das principais metrópoles do mundo supostamente comprometidos com o enfrentamento das mudanças climáticas. O evento integrou a programação preparatória da COP 30, que está sendo realizada em Belém (PA), e teve como foco o papel das cidades na transição para uma economia de baixo carbono.

O C40 nasceu há 20 anos como uma aliança de cidades dispostas a compartilhar políticas de mitigação climática, desde transporte sustentável até gestão de resíduos. Hoje, é também um espaço de marketing político verde, onde prefeitos buscam projetar suas administrações como exemplos de inovação e sustentabilidade, ainda que, na prática, a realidade urbana de muitas delas revele contradições profundas.

O prêmio climático e o discurso de Eduardo Paes

Durante o evento, o Rio de Janeiro foi anunciado como vencedor do prêmio Bloomberg Philanthropies Local Leaders Awards 2025, na categoria “Infraestrutura mais segura para um mundo em mudança”. O reconhecimento veio pelo Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo, lançado pela Prefeitura em 2024, após as fortes ondas de calor que atingiram a cidade e deixaram vítimas em eventos e espaços públicos.

Em cerimônia no Museu de Arte Moderna, o prefeito Eduardo Paes comemorou o prêmio, afirmando:

“É bom ganhar em casa. Mas o importante é que se trata de uma medida sem custo, relativamente simples, que joga com a ciência, olha experiências internacionais e que pode de fato salvar vidas, tornar melhor a qualidade da vida das pessoas na cidade do Rio.”

O protocolo, segundo a Prefeitura, estabelece cinco níveis de alerta, do Calor 1 ao Calor 5, e mobiliza diferentes secretarias em ações emergenciais, como ampliação do atendimento médico, abertura de pontos de hidratação e comunicação preventiva com a população.

A propaganda de Paes serve para ficar bem nas entrevistas, mas esconde a brutal realidade dos trabalhadores e do povo pobre que sofrem as consequências das catástrofes climáticas

O calor extremo e as desigualdades urbanas

Não há dúvida de que o calor é hoje uma questão de saúde pública. O Rio viveu, nos últimos anos, temperaturas recordes, sensação térmica acima de 60°C e crises hídricas localizadas. Mas, por trás do discurso técnico, está a pergunta que a cidade precisa fazer: a Prefeitura realmente tem enfrentado de forma séria o debate do meio ambiente?

Nas zonas mais ricas, há praças arborizadas e infraestrutura para enfrentar o calor. Já nas periferias, a sombra é um luxo e a ventilação, um sonho distante. Bairros e favelas inteiras são verdadeiros fornos urbanos, formados por concreto, asfalto e ausência de árvores.

Complexo da Maré, qualidade do ar e escolas sem climatização

O Complexo da Maré exemplifica essa desigualdade ambiental e social. A falta de arborização e atravessado por três grandes vias expressas (Avenida Brasil e Linhas vermelha e amarela) transforma a região em uma das mais quentes da cidade. O calor excessivo afeta a saúde, o sono, o rendimento escolar e o trabalho.

Nas escolas públicas, o problema é ainda mais grave. Salas superlotadas, sem climatização e com ventiladores precários tornam o aprendizado quase impossível durante as ondas de calor. O protocolo da Prefeitura prevê medidas emergenciais, mas nenhuma política estrutural que garanta conforto térmico e bem-estar diário para estudantes e professores.

A dependência do petróleo e a manutenção da destruição ambiental

O Rio de Janeiro é economicamente dependente da exploração do petróleo, seja por meio dos royalties que sustentam o orçamento municipal, seja pelas parcerias com empresas do setor. O discurso da transição energética não passa da retórica. Nenhuma crítica é feita por Eduardo Paes ou pela Prefeitura à indústria que mais contribui para o aquecimento global.

Em vez disso, as empresas petrolíferas são tratadas como parceiras estratégicas em eventos de “sustentabilidade e inovação”, num evidente exemplo de “maquiagem verde” que oculta a continuidade de um modelo econômico destrutivo.

Santa Cruz e a fumaça invisível da Ternium

A qualidade do ar também é preocupante. Estudos indicam níveis elevados de poluentes, sobretudo nas regiões industriais e nas áreas de grande fluxo de veículos. Mas o debate público sobre isso permanece tímido, enquanto a população mais pobre continua sendo a principal vítima da poluição.

Na Zona Oeste, o contraste entre o discurso climático e a realidade é ainda mais evidente. A Ternium, uma das maiores siderúrgicas da América Latina, localizada em Santa Cruz, é responsável por grandes emissões de gases poluentes que afetam diretamente a saúde da população local.

Moradores relatam aumento de doenças respiratórias, irritações na pele e alergias. No entanto, as emissões dessa empresa são retiradas dos dados gerais da cidade, mascarando o verdadeiro impacto ambiental do polo industrial. Essa omissão revela que o “progresso” anunciado pelas autoridades tem custos sociais e humanos.

A contradição entre a vitrine verde e o cotidiano cinza

O prêmio internacional da Bloomberg e a participação do Rio no C40 são usados de forma simbólica para premiar uma cidade que convive com o colapso climático cotidiano, enchentes, deslizamentos, calor insuportável, poluição industrial e falta de arborização, transformando a crise em espetáculo.

As medidas de emergência, por mais bem-vindas que sejam, não resolvem o essencial: a injustiça ambiental que marca o território carioca. O calor, a poluição e as doenças respiratórias não atingem a todos igualmente. Elas seguem o mapa da desigualdade, concentrando-se onde vivem os trabalhadores e os mais pobres.

Defender o meio ambiente é lutar contra o capitalismo!

Enquanto o prefeito celebra prêmios e organiza fóruns internacionais, o povo do Rio tenta sobreviver às consequências diretas de um modelo de cidade que prioriza grandes obras, turismo e investimentos imobiliários, mas negligencia o básico: sombra, água, ar puro e moradia digna.

O meio ambiente não pode ser tratado como um tema técnico, restrito a relatórios e premiações. Ele é parte da luta por condições dignas de vida. Uma cidade só será verdadeiramente sustentável quando todos tiverem acesso aos benefícios ambientais, e não apenas os que vivem nas áreas nobres.

Os problemas relacionados ao meio ambiente, assim como as desigualdades sociais, estão relacionados ao modo de produzir e de organizar a sociedade, ao sistema capitalista. O capitalismo é sinônimo de catástrofe ambiental. Enquanto não superarmos esse sistema, os trabalhadores e o povo pobre continuarão pagando as contas e sofrendo as consequências.

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