Meio ambiente

A Baixada Fluminense e a crise ambiental

Jeferson Romano, da Baixada Fluminense

24 de novembro de 2025
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Estragos provocados por chuvas e enchentes em 2024 em Belford Roxo. Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Neste mês, a realização da COP 30 reacende o debate global sobre o meio ambiente, mas também expõe os limites de um encontro que, ano após ano, acumula discursos grandiosos e resultados inexpressivos. Enquanto chefes de Estado posam para fotos, anunciam metas vagas e evitam confrontar os verdadeiros responsáveis pela destruição do planeta, territórios como a Baixada Fluminense seguem pagando o preço real da crise climática e ambiental. Aqui, longe dos holofotes, a degradação não é tema de diplomacia: ela atravessa o cotidiano, o corpo e o trabalho de milhões de pessoas que convivem diariamente com poluição, enchentes e abandono.

A Baixada como território de sacrifício

Em regiões como Duque de Caxias e Belford Roxo, o ambiente reflete diretamente as condições de vida. Aqui, a destruição ambiental não é fruto do acaso: é consequência direta de um modelo de desenvolvimento que concentra lucros nas mãos de poucos enquanto distribui riscos, doenças e precariedade para a população trabalhadora.

A ocupação do território ao longo das décadas deixou isso evidente. A instalação de um polo petroquímico em Caxias, a ausência histórica de saneamento e o abandono das políticas públicas criaram um cenário em que a degradação se tornou parte da rotina. A poluição dos rios Iguaçu, Sarapuí e Meriti, transformados em depósitos de resíduos industriais e esgoto doméstico, expressa como certas áreas são tratadas como espaços “descartáveis” em nome da redução de custos empresariais.

A expansão recente da indústria petroquímica em Caxias aprofunda esse quadro. Embora apresentada como sinônimo de progresso econômico, essa ampliação reforça a lógica em que a população trabalhadora vive lado a lado com emissões tóxicas, riscos de explosões e impactos na saúde. Não é coincidência que bairros populares estejam tão próximos das instalações químicas: isso reduz despesas empresariais enquanto transfere os danos para quem tem menos condições de se proteger.

Os problemas de saneamento, coleta de lixo e as enchentes

O saneamento é outro eixo central da crise. Municípios da Baixada figuram entre os piores índices do país no tratamento de esgoto e acesso à água tratada. Em Belford Roxo, o contraste é gritante: enquanto uma pequena parcela do esgoto é tratada, a maior parte segue sendo despejada diretamente no ambiente. Isso resulta em doenças, enchentes recorrentes e contaminação das águas, problemas que recaem sobre famílias trabalhadoras que já enfrentam a precariedade de serviços públicos essenciais.

A questão do lixo torna o quadro ainda mais complicado. Belford Roxo sempre enfrentou uma crise persistente na coleta, com resíduos acumulados nas ruas. O resultado é um ambiente insalubre e inseguro, que agrava doenças respiratórias e compromete a dignidade da população.

Ao mesmo tempo, contratos milionários seguem sendo firmados com grupos que lucram justamente com a permanência do caos. Há denúncias sérias: a concessionária Limppar chegou a ser investigada pelo Tribunal de Contas por prejuízos da ordem de R$ 40 milhões.

A combinação de destruição ambiental e ausência de política urbana também aprofunda os desastres. Sem áreas verdes preservadas, com expansão desordenada e infraestrutura defasada, bairros inteiros sofrem com enchentes anuais, deslizamentos e ilhas de calor intensas. Em muitos casos, a população já sabe exatamente quando a tragédia virá, ainda assim, o Estado não age para evitá-la.

O que está em jogo: não é “má gestão”, mas um modelo de exploração

A crise ambiental da Baixada Fluminense é inseparável da desigualdade estrutural que organiza o estado do Rio. Não se trata apenas de erros administrativos: é o resultado de um modelo econômico que escolhe sacrificar territórios inteiros para garantir a acumulação de riqueza em poucas mãos.

Trabalhadores enfrentam enchentes, poluição e doenças porque o Estado e os grupos econômicos tratam o território como espaço de baixo custo para produção, descarte e especulação.

A mobilização dos trabalhadores em defesa do meio ambiente e da vida

Mas a história não se resume à destruição. A Baixada também é lugar de resistência. Moradores que se mobilizam contra enchentes, movimentos que denunciam crimes ambientais, trabalhadores que lutam por infraestrutura digna e pela responsabilização das empresas mostram que nada está decidido. A defesa do ambiente é, ao mesmo tempo, a defesa da vida, da saúde e dos direitos de quem sustenta a região com o próprio trabalho.

A luta por um ambiente saudável na Baixada Fluminense não é uma pauta isolada, ela é expressão direta da luta contra as desigualdades sociais. A crise ambiental que atinge a região revela como o modelo atual organiza o território para servir ao lucro. Transformar essa realidade exige inverter prioridades, fortalecer o poder popular e afirmar que nenhum território, muito menos onde vive a classe trabalhadora, pode continuar sendo tratado como depósito de problemas.

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