Lutas

Petrobras: “Estamos fazendo a maior greve dos últimos 30 anos e é fundamental fortalecer essa mobilização”

Redação

28 de dezembro de 2025
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Eduardo Henrique, dirigente do Sindipetro-RJ Fotos Romerito Pontes

A greve dos petroleiros que, em pleno período de festas de final de ano, parou grande parte da categoria contra uma série de ataques, já pode ser considerada histórica. Além de mostrar a força e disposição de luta da categoria, indignada em ver bilhões de lucros sendo mandados em forma de dividendos para acionistas estrangeiros enquanto os direitos são cada vez mais rebaixados, revelou o caráter da direção da Petrobras e do governo Lula, que em público defende os trabalhadores mas, na prática, governa e atua na defesa do grande capital, inclusive de forma intransigente e truculenta contra o movimento.

Momentos antes de o Opinião Socialista conversar com Eduardo Henrique, da direção do Sindipetro-RJ e da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), a Petrobras havia judicializado a greve, e o Tribunal Superior do Trabalho (TST), numa medida autoritária e antissindical, determinou a manutenção de 80% dos trabalhadores em atividade, uma audiência de conciliação para o próximo dia 2 e o dissídio para o dia 6. Tal truculência só pode ser explicada pela força do movimento, que, até agora, está sendo referendada pela maior parte da base petroleira.

Qual a análise você faz da greve dos petroleiros iniciada no último dia 15?

Eduardo Henrique Podemos dizer que essa já foi, de fato, a greve de maior adesão, mais forte e organizada que as anteriores, com um peso muito importante nas plataformas, inclusive, e principalmente, nas plataformas do Pré-Sal. Não é exagero dizer que é a maior greve desde 1995, um marco na categoria, sendo que, naquela época, nem havia ainda o Pré-Sal, ou o acelerado processo de privatização e terceirização que se seguiu nos governos adiante.

Enquanto falamos hoje, mesmo após a FUP (Federação Única dos Petroleiros), ligado à CUT, ter indicado o fim da greve e uma proposta rebaixada da empresa, algo em torno de 90% dos trabalhadores envolvidos na produção permaneciam em greve. Isso porque a FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) e a base de seus sindicatos, que controlam 74% da produção, rejeitaram a proposta, e, o Norte Fluminense, que compõem a FUP, também aprovou a manutenção da greve.

A que você atribui a força dessa greve?

Acho que o nosso lema “menos acionista, mais ACT” (Acordo Coletivo de Trabalho) expressa bem o sentimento dos petroleiros. Essa greve é fruto de vários ataques e insatisfações somadas. Com um grande pano de fundo que é o plano de austeridade imposto pelo governo e assumido pela Petrobras, uma empresa de economia mista, com a maior parte composta por capital privado, e inclusive estrangeiro. Enquanto a Petrobras lucra horrores, repassando dividendos bilionários, inclusive extraordinários, aos acionistas, querem tirar mais direitos dos petroleiros, que é quem produz essa riqueza.

Utilizam como justificativa a baixa do preço do barril no mercado internacional para aplicar o ajuste nas costas dos trabalhadores, enquanto que, para os acionistas, os dividendos só aumentam. Dentro disso, querem formalizar, no Acordo Coletivo de Trabalho, um grande ataque que é, entre outros pontos, a retirada do direito de folga na quitação das horas extras. Hoje, cada dia especial de trabalho gera 1 dia e meio de folga, e o acordo simplesmente retira isso.

Então, isso aliado à proposta de um reajuste ínfimo, enquanto a empresa lucra cada vez mais, gera um sentimento muito grande de frustração, indignação e revolta. O anterior presidente da Petrobras dizia que não dava para dar “cavalo de pau num transatlântico” no que se refere a atender às reivindicações dos trabalhadores. Mas acontece que a atual presidente, Magda Chambriard, não só não atendeu às reivindicações, como piorou ainda mais as condições de trabalho, o que gerou ainda mais revolta. É uma presidente que só atua em produzir cada vez mais, na lógica do “drill, baby, drill” (“perfure baby, perfure”) de Trump. Inclusive, numa conferência nos EUA para acionistas das indústrias petrolíferas, ela disse, em inglês, “Let’s drill, baby”, (“Vamos perfurar, baby”), referindo-se à exploração da Foz do Amazonas.

As pessoas sentem que estão produzindo muito e, na hora do ACT, não vêem isso. Não só isso, a truculência com que essa presidente age contra os trabalhadores rompeu qualquer relação de confiança, como na imposição do retorno do teletrabalho no início do ano. E agora estamos vendo a mesma coisa, judicializando uma greve legítima. É uma direção que atua, desta forma, com uma lógica produtivista para gerar cada vez mais lucros e dividendos para acionistas estrangeiros, e retirar cada vez mais direitos das petroleiras e petroleiros, em total concordância com a política do governo Lula.

Vimos nos últimos dias a FUP, em conjunto com uma rede de imprensa governista, divulgar a falsa versão que a greve havia acabado. Como vê a atuação da FUP nesta greve?

Foi um tremendo absurdo. Nesta greve, deram um salto na traição contra os trabalhadores. Justo na greve mais forte dos últimos anos, que estava no seu auge, assinam um acordo extremamente rebaixado, inversamente proporcional à força da greve. A galera sentiu isso. Tiveram até que apagar comentários nas redes sociais, porque a revolta na categoria é muito grande. Ficou muito nítido que atuam não na defesa dos petroleiros, mas na defesa da direção da empresa e do governo.

Neste sentido, a atuação da FNP, e da CSP-Conlutas, foi fundamental. A central esteve bem presente e a categoria está podendo ver a diferença entre elas, então essa aproximação com a base petroleira foi muito importante, e creio que vá render ainda muitos frutos.

Quais as próximas tarefas colocadas para a categoria?

A greve segue neste final de semana, mesmo pressionados pela liminar e o dissídio. Inclusive, acabamos de receber a notícia que o ministro do TST decretou que a Petrobras deve informar o efetivo mínimo de cada unidade, cargo, produção, ou seja, deve informar quantos trabalhadores devem atuar em cada unidade. Isso é muito importante porque a Petrobras vai ser obrigada a dizer o efetivo mínimo de cada local, o que ela sempre evitou divulgar para trabalhar abaixo desse efetivo para reduzir custos e pessoal. Isso já mostra que foi correto ter mantido a greve.

É muito importante seguir com um forte movimento, porque já vimos que a força da mobilização é que pode impedir os ataques da empresa e garantir nossas reivindicações. Veja, a FUP já havia indicado a aceitação de um acordo rebaixado, mas a força da greve no Pré-Sal e no Rio de Janeiro deu firmeza para as outras bases e suas direções manterem a greve. Nunca havia acontecido isso. A tarefa, então, é manter uma forte mobilização para travar os ataques, como a supressão de folga, que, neste caso, não significa nem dinheiro para a Petrobras, tem a ver simplesmente com o direito à saúde e à vida do trabalhador.

Independente do desfecho, já foi uma vitória. Forçamos a apresentação de uma quarta proposta, e ficou nítido para o conjunto da categoria o papel nefasto do sindicalismo de conciliação a serviço do governo. Isso nos dará melhores condições de organizar e protagonizar maiores greves e lutas na defesa dos trabalhadores. Também é importante chamar a solidariedade ativa das demais categorias aos petroleiros, além dos trabalhadores dos Correios que também estão numa importante greve, porque uma vitória aqui é uma derrota para o projeto entreguista da Petrobras e de nossos recursos, do projeto de desnacionalização do país, e também fortalece a classe trabalhadora de conjunto.

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