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Por uma esperança revolucionária para 2026

Diego Cruz

31 de dezembro de 2025
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Foto Romerito Pontes

“esperança”
substantivo feminino
– sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa

 

Confesso que, quando me sentei para escrever esta coluna, havia traçado um caminho bem diferente do que acabou saindo. Com o “pessimismo da razão” superando o “otimismo da vontade”, calculava um texto bem sombrio sobre este ano que se inicia.

Sejamos francos, 2025 não foi exatamente um mar de rosas. É possível algum otimismo quando o mundo assiste, há 2 anos, um genocídio em Gaza em meio a um declarado e aberto processo de limpeza étnica na Palestina, sob os olhos impassíveis da comunidade internacional?

Seria legítimo esboçar algum tipo de fé na humanidade após a imagem de dezenas de corpos enfileirados no massacre no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro? Jovens negros sumariamente executados numa ação que, longe de causar comoção, provocou mais aplausos que repúdio. Ou, mais recentemente, a morte de Tainara Souza Santos, brutalmente arrastada na Marginal Tietê, num momento em que o feminicídio e a violência contra as mulheres atingem níveis recordes?

São barbáries cada vez mais normalizadas num mundo em franca decadência, que faz o horizonte se reduzir cada vez mais. Lembro-me de uma crônica cujo título é bastante sugestivo: “Millennials, abandonem o sonho: vocês perderam”. Sim, essa geração, na qual me incluo, convive com o fato de que sua vida será pior que a de seus pais. As promessas do neoliberalismo e do esforço meritocrático desaguaram numa multidão adoecida, frustrada e sobrecarregada.

A chamada Geração Z, por sua vez, nem sabe se haverá um mundo para viverem, num momento em que os eventos climáticos extremos indicam um colapso não muito longe. E até lá, o que os esperam é o trabalho precarizado, a Escala 6×1, uma insegurança permanente e cartelas de benzodiazepínicos.

Em meio a esse pântano, muitos daqueles que, historicamente, carregavam a esperança de transformar o mundo, tombaram suas bandeiras ao chão em prol de um sempre “menos pior”. Um possibilismo pragmático, já pedindo desculpas pela redundância, que, longe de apontar uma luz no fim do túnel, utiliza o medo como freio de mão, sabendo que, numa ladeira íngreme, o carro será inevitavelmente arrastado pela gravidade. Quando muito, apontam a eleição de um parlamentar como estratégia prioritária, e não um ponto de apoio para o que realmente deveria servir: implodir esse sistema.

Teríamos o direito de, mesmo assim, nutrir alguma esperança?

Aqui, bem na minha frente, está recostada uma das várias boinas de Wilson Silva, e lembro que 2025 foi também um ano de perdas. Mas também me faz recordar que, se ele partiu, também nos deixou um legado, não só de luta contra todos os tipos de opressão, mas, por que não, de certo otimismo refletido em risadas e um humor ferino (ou felino em seu caso).

Penso então que, talvez, essa pergunta esteja mal formulada. Mais do que direito, temos o dever de manter a esperança acesa. Não uma esperança religiosa num pós-vida que nos resigne às barbáries do capitalismo. Mais do que uma esperança nas futuras gerações citadas por Trotsky em seu emocionante testamento, que nos “livrem de todo mal e opressão”. Mas no aqui e agora, nas atuais gerações e, mais especificamente, na classe trabalhadora e em seus setores mais oprimidos.

Enquanto escrevo essas mal-traçadas linhas, os petroleiros realizavam a maior greve em três décadas. Os trabalhadores dos Correios, massacrados e estigmatizados pela imprensa, também protagonizavam uma forte greve. Neste ano, as mulheres encabeçaram um verdadeiro levante contra o feminicídio que inundou as ruas do país. Na COP30, os povos originários, ao lado de vários setores que não aceitam um futuro roubado pelo grande capital, irromperam bloqueios e se fizeram ouvir. Em todo o mundo, a solidariedade ao povo palestino se massificou, chegando a provocar três greves gerais na Itália. “Palestina livre, do rio ao mar” ecoou em todos os continentes. Jovens derrubaram governos mundo afora.

Sim, pode parecer pouco, ou ao menos desproporcional frente à força destrutiva do capitalismo. Mas mostra que há resistência.

Após anos de uma concepção fatalista da história prometendo o socialismo, difundida por um marxismo vulgarizado, pode parecer ingênuo acreditar num futuro socialista. Mas, se o socialismo não é inevitável, tampouco o é a barbárie capitalista imposta por um mesmo fatalismo histórico de sinal trocado. Porque se os homens fazem a história em condições que não escolheram, ainda assim os homens fazem a história.

Em meio ao cárcere, em plena Guerra Mundial, pouco após a direção do maior partido socialista da época ter realizado sua maior traição apoiando suas burguesias contra o proletariado de outros países, Rosa Luxemburgo escreveu: “O Socialismo não cairá como maná do céu. Só será conquistado numa grande cadeia de poderosas lutas nas quais o proletariado dirigido pela social-democracia [os marxistas revolucionários da época] aprenderá a manejar o timão da sociedade para converter-se de vítima impotente da história em seu guia consciente”.

Essa esperança revolucionária é o que desejo para 2026. É o nosso dever aos que foram, a nós mesmos, e aos que hão de vir.

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