Nacional

A conta que fecha: Por que a Tarifa Zero é possível e necessária

Toninho Ferreira, de São José dos Campos (SP)

9 de outubro de 2025
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O PSTU defende a tarifa zero e exige que o custeio seja pelos grandes empregadores | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil👆🏻

“O transporte coletivo é um direito do cidadão e um dever do Estado”. Assim diz a Constituição Brasileira. Na prática, porém, é o contrário: o único direito plenamente respeitado é o da propriedade privada. O direito ao transporte é negado todos os dias. Quanto mais aumenta a tarifa, mais diminui o número de usuários, e quanto mais cai o número de passageiros, mais a tarifa aumenta. É um círculo vicioso, está provado que o atual sistema público de transporte está falido.

Quem é penalizado, assim, é o povo, que paga caro e tem um serviço de péssima qualidade. Apesar dos governos garantirem grandes quantias em subsídios. O povo paga duas vezes: na tarifa e no subsídio. Aqueles que se opõem à Tarifa Zero dizem que “a conta não fecha”. Mas é justamente o contrário: a conta que não fecha é a do povo, do trabalhador, não a do sistema.

Transporte não é mercadoria

Prefeituras bancam parte significativa do custo do transporte coletivo. Em São Paulo, os subsídios ultrapassam R$6 bilhões por ano. Em todas as cidades, principalmente nas capitais, o subsídio é bilionário, e as passagens continuam subindo e o serviço piorando. O modelo é perverso: o lucro é privado e o prejuízo é socializado. O poder público injeta recursos, mas quem paga a conta final é o usuário, com tarifas altas e transporte precário.

O transporte coletivo deveria ser um direito, não um negócio. As empresas de ônibus querem subsídio, mas com garantia de lucro e nada de transparência. Se o sistema fosse público e estatal, como em vários países, o dinheiro retornaria ao próprio serviço: frota renovada, linhas ampliadas e acesso universal. É um investimento em mobilidade, não um custo.

A tarifa zero é viável e traz retorno social

As cidades que adotaram a Tarifa Zero mostram que o sistema funciona e dinamiza a economia local. E não se trata só de cidades pequenas: Caucaia (CE), com mais de 300 mil habitantes, tem transporte gratuito e resultados positivos. Com mais gente circulando, o comércio cresce, o trânsito melhora e os custos indiretos diminuem.

O trabalhador, além disso, já tem descontado 6% do seu salário por vale-transporte, e com Tarifa Zero este desconto acaba. As empresas ainda contam com outras fontes de receita, como publicidade em ônibus e terminais. O problema não é falta de dinheiro, é falta de prioridade, falta de política para beneficiar os mais pobres. Hoje, muitas vezes, é mais barato pegar um Uber do que usar o transporte coletivo, dependendo da distância, e especialmente quando duas ou mais pessoas fazem o mesmo trajeto.

O modelo atual, portanto, estimula o transporte individual e penaliza o coletivo, agravando os congestionamentos, a poluição e a exclusão social. E come boa parte do salário de quem menos ganha.

Saúde pública e qualidade de vida

O médico e pesquisador Paulo Saldiva, da USP, demonstrou em diversos estudos que o transporte coletivo gratuito e eficiente reduz doenças respiratórias, estresse, mortes no trânsito e internações hospitalares. Menos carros nas ruas significa menos poluição e menos gastos do SUS com problemas cardiorrespiratórios. Tarifa Zero, portanto, é também política de saúde pública, uma medida que salva vidas e reduz custos ao Estado.

Direito à cidade e meio ambiente

A Tarifa Zero é também política urbana e ambiental. Com transporte gratuito, há menos automóveis, menos CO₂, menos ruído e mais tempo de vida nas cidades. Num planeta que se aproxima do ponto de não retorno climático, garantir mobilidade coletiva e limpa é questão de sobrevivência. Se os ônibus forem elétricos, o benefício é ainda maior, para o povo e para o planeta.

Uma causa histórica e popular

Em 2013, o país foi às ruas por causa do aumento de R$ 0,20 nas passagens de São Paulo. A principal bandeira era — e continua sendo — a Tarifa Zero. Naquele momento, Fernando Haddad era prefeito, Geraldo Alckmin governador e Dilma presidente. Nenhum deles teve a “coragem” para enfrentar o poder dos empresários do transporte. Hoje, Lula volta a falar no tema. Que não seja apenas um discurso de campanha, ou uma peça publicitária. Das 156 cidades com Tarifa Zero no Brasil, apenas três são governadas pelo PT.

Mobilizar para conquistar

A Tarifa Zero é possível, necessária e urgente. Ela garante o direito de ir e vir, o direito à cidade, impulsiona a economia, reduz desigualdades, melhora a saúde e protege o meio ambiente. A conta fecha, sim — o que não fecha é o orçamento do trabalhador. Mas nenhuma conquista vem sem luta. Cabe ao povo, aos sindicatos e aos movimentos sociais pressionar, se organizar e mobilizar para que esse direito se torne realidade, lutando pela estatização do transporte, sob controle dos trabalhadores. Não adianta ficar esperando de governos ou do parlamento. Tarifa Zero, em nome dos usuários, do povo pobre e de todo planeta.

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