Sem categoria

A crise no Rio Grande do Sul: Governo transforma a Praça da Matriz em praça de guerra contra os trabalhadores

Júlio Flores, de Porto Alegre (RS)

27 de dezembro de 2016
star0 (0 avaliações)

Fora Sartori! Fora Todos Eles!

Uma das principais expressões da crise nos estados, o Rio Grande do Sul sofre com a imposição de um projeto de ajuste fiscal negociado entre o governo de José Ivo Sartori (PMDB) e o governo Temer que prevê, entre outras medidas, uma série de privatizações, a extinção de órgãos estaduais e a demissão de mais de 1500 servidores (saiba mais aqui).

Após pelo menos quatro dias de enfrentamentos entre a polícia e a heroica resistência dos servidores, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou, na madrugada do dia 21, a extinção de nove fundações e uma autarquia. Numa votação de margem estreita, todos os partidos burgueses tradicionais, como o PMDB, PSDB, PP, PV, PSB, PRB. PPS, PR, com a ajuda do PTB e do PDT, que se dividiram, sacramentaram a demissão de mais de 1500 trabalhadores, que passarão a semana de recesso refletindo sobre os próximos passos de suas vidas e de seu futuro.

Os outros projetos ficam para janeiro, uma vez que o governo não alcançaria maioria para impor a sua vontade, particularmente com a PEC 259 que retira da Constituição Estadual a exigência de plebiscito para privatizar ou extinguir as estatais como CEEE, CRM e Sulgás. O escandaloso é que para garantir a aprovação destes projetos, o governo Sartori colocou a Polícia Militar para atacar os trabalhadores, através dos Batalhões de Operações Especiais, a Força Nacional e a Tropa de Choque.

Pelo menos 400 policiais se revezavam para bloquear as entradas da Assembleia Legislativa e impedir que os trabalhadores contrários ao pacote de Sartori entrassem no parlamento estadual e impedissem as votações. Apenas 80 representantes dos trabalhadores poderiam entrar, bem como 80 apoiadores do pacote, dentre eles, representantes do MBL. Ou seja, uma armação da burguesia e seus poderes para não haver outro resultado que não a aprovação de suas medidas.

Sob as árvores da Praça Matriz, inúmeras barracas constituíram a organização da resistência das mais variadas categorias de servidores públicos estaduais. Dos núcleos do CPERS; da Polícia Civil e da SUSEPE (Superintendência dos Serviços Penitenciários); da Fundação Zoobotânica (FZB), da Fundação Piratini – TVE e FM Cultura, Fundação de Economia e Estatística(FEE), Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), CIENTEC (Fundação da Ciência e Tecnologia), CORAG (Companhia Rio Grandense de Artes Gráficas), Fundação de Recursos Humanos (FDRH), cuja extinção, só para citar um exemplo, atendeu a um acordo entre governo e a Cia Zaffari de Supermercados, sacramentado pela Assembléia Legislativa em setembro deste ano, onde o governo do estado cedeu o terreno onde está a sede da FDRH para a construção de um novo Supermercado da Cia Zaffari numa das mais valorizadas áreas da cidade de Porto Alegre, em troca de um suposto presídio a ser construído em lugar incerto e não sabido do nosso estado.

Este acordo espúrio demonstra bem os verdadeiros interesses por trás do projeto do governador Sartori, particularmente as extinções das fundações e autarquias do estado: beneficiar os grandes empresários, amigos dos partidos que governam o estado e que certamente financiaram a sua campanha eleitoral, como demonstra a lista de doadores da campanha de Sartori, divulgada no site do TSE, que inclui, obviamente, a Cia Zaffari de Supermercados.

Nestes dias, foram inúmeros os episódios de repressão da Polícia Militar contra os trabalhadores, com bombas e gás pimenta e lacrimogêneo. Estes, apesar de recuarem diante dos ataques, voltavam a carga para pressionar as linhas do Batalhão de Choque, interpostos entre os trabalhadores e o covil de bandidos que cometiam esse crime no interior da assembleia, protegidos por policiais armados até os dentes.

O governo Sartori e o parlamento gaúcho que se constituem no gerente regional dos negócios do grande capital e tem a Polícia Militar como instrumento para defender esses interesses, transformaram a Praça da Matriz em uma praça de guerra contra os trabalhadores. Mas isso não se deu sem contradições. Os trabalhadores da Segurança Pública, notadamente da Polícia Civil e da SUSEPE, responsáveis pelos presídios, estiveram à frente de vários enfrentamentos com o Batalhão de Choque.

Por outro lado, era visível o desconforto dos PM’s para cumprir seu triste papel de reprimir seus colegas e defender seus próprios algozes que parcelam os seus próprios salários como o de todos servidores públicos do estado. Embora isso não tenha se expressado em uma rebelião aberta contra os comandantes e o governo, certamente ensejou reflexões entre os batalhões que ficaram escondidos atrás de escudos, capacetes e máscaras, metidos em uniformes e derretendo sob um sol de mais de 30º C todos estes dias. E certamente, nos próximos enfrentamentos que virão no início de 2017 com a votação dos demais projetos, será indispensável exortar os trabalhadores da PM a se rebelarem contra seus comandantes e o governo Sartori, colocando-se ombro a ombro com os demais servidores públicos para derrotar os projetos de desmonte.

Se não houver essa quebra da hierarquia, será mais difícil a tarefa dos trabalhadores de derrotar esse governo. Por outro lado, também é indispensável não depositar um pingo de confiança que os deputados, sem uma profunda mobilização dos servidores e a imposição de uma derrota acachapante ao governo, possam votar contra os projetos que irão a plenário em janeiro. Do mesmo modo que Sartori comprou deputados do PTB e PDT, nada nos garante que ele só não tenha convencido alguns deputados apenas porque não tenha chegado em seu preço.

Por isso, mesmo que a luta tenha entrado em uma nova fase, é indispensável aprofundar a mobilização popular. Por um lado, para lutar contra os demais projetos e, por outro, para impedir a implementação dos projetos de extinção que foram aprovados. Até porque, entre a aprovação na AL, a sanção do governador e a extinção de fato desses órgãos, tem uma longa distância. E se queremos defender o patrimônio público que Sartori quer entregar, precisamos dar um passo adiante e, por exemplo, reorganizar os trabalhadores das fundações, ampliar a campanha entre a população e ocupar as dependências destas instituições para impedir esse crime contra o patrimônio que são fundações indispensáveis ao desenvolvimento da pesquisa básica.

Tudo isso para justificar o injustificável, já que muitas delas aportam receitas para o estado. Mesmo porque, com a extinção, até a colunista do jornal Zero Hora, Rosane de Oliveira, defensora do pacote, teve que reconhecer que “o impacto dos projetos aprovados até a meia-noite (22/12/2016) é pouco significativo”. Ou seja, além de arrecadar pouco com estas medidas, abre mão de receitas proporcionadas pelas fundações. Até porque o déficit alegado de R$ 2,6 bilhões por ano pode muito bem ser coberto pela suspensão do pagamento da dívida de R$ 3 bilhões por ano com o governo federal ou então com o fim das isenções fiscais de R$ 16,5 bilhões anuais para grandes empresas como GM e Gerdau. Só essas duas medidas poderiam resolver o suposto déficit e sobraria troco para investimentos na saúde, na educação e na segurança públicas, bem como em outras áreas de interesse social.

Além de exigir “Fora Sartori” e “Fora Todos” propomos: suspensão do pagamento da dívida com o governo federal, o fim das isenções fiscais às grandes empresas e o combate à sonegação fiscal com a prisão e confisco dos bens dos sonegadores, que certamente tem assento no palácio Piratini, para resolver definitivamente as finanças públicas.

Junto com isso, exortemos os soldados da BM a que desobedeçam as ordens de repressão dos comandantes e virem suas armas para os pilantras que habitam o palácio Piratini e a Assembleia Legislativa, ombro a ombro com os demais servidores; desmilitarização da polícia e eleição dos comandantes pelos soldados e pela população; pela ocupação das fundações e autarquias que tiveram sua extinção aprovada pela AL por parte da população e servidores, em defesa do patrimônio público; por um governo socialista dos trabalhadores, apoiado em conselhos populares para governar o Rio Grande do Sul, pois o governo Sartori e a Assembleia Legislativa não nos representam. Eles são, juntos, um covil de bandidos a serviço do grande capital.

Empunhando estas bandeiras, nós do PSTU, a exemplo do que fizemos nas últimas semanas, com muito orgulho, estaremos lado a lado com todos os trabalhadores que estiverem na luta, nos órgãos públicos, nas ruas e na Praça da Matriz, especialmente se este governo canalha, transformá-la, novamente em uma Praça de Guerra.