Lutas

A greve dos trabalhadores dos Correios é muito mais do que uma luta por salário e manutenção de direitos

Não às demissões e ao fechamento de agências do pacote de reestruturação de Rondon/Lula! Não à transformação dos Correios numa S/A

Vania Gobetti, de Porto Alegre (RS)

30 de dezembro de 2025
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Hoje é o 15º dia da heróica greve nacional dos trabalhadores dos Correios. Nas assembleias realizadas no dia 23 de dezembro, houve uma ampliação da luta para 11 estados, além do Distrito Federal. 17 sindicatos recusaram a proposta do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e permanecem em greve.

Durante todo este tempo, a greve enfrentou inúmeros desafios. Seja a campanha da grande mídia, que tenta jogar a opinião pública contra os trabalhadores, defendendo abertamente a privatização desde já. Seja o papel da direção da empresa, que se negou a negociar e continua insistindo na retirada de direitos históricos. Seja o governo Lula, que elaborou, junto com a direção dos Correios, a proposta de reestruturação anunciada hoje, com fechamento de agências e redução ainda maior de trabalhadores. Isto sem falar nas práticas antissindicais, como aconteceu durante audiência do TST, quando o Ministro Rui Costa (Casa Civil) declarou que “ caso os trabalhadores dos Correios entrem em greve, o governo pautaria a privatização da empresa “.

Esta postura não é nenhum pouco distinta da que o governo está tendo com os trabalhadores petroleiros em greve, ou com os servidores públicos federais, descumprindo , inclusive, compromissos já estabelecidos.

Por exemplo, a direção dos Correios formalizou a retirada do benefício de fim de ano, no valor de R$2.500,00. Dizem que é um “privilégio” porque é um benefício acima do estabelecido pela CLT . Considerando que existem trabalhadores nos Correios com remuneração mínima em torno de R$ 2.093,00, o corte deste benefício corresponde a uma remuneração mensal inteira para parte da categoria, ou a cerca de 40% da remuneração média mensal. Não se trata de um “presente de Natal”, mas de um instrumento relevante de complementação de renda, especialmente para os trabalhadores de menor remuneração.

A retirada de benefícios consolidados, o adiamento da recomposição salarial, o enfraquecimento de cláusulas protetivas relativas à jornada e ao repouso, bem como a adoção de um acordo bienal em um contexto de crise e reestruturação, indicam uma estratégia de ajuste que transfere integralmente o ônus da crise para os trabalhadores. Longe de enfrentar as causas estruturais da crise dos Correios — relacionadas a decisões políticas, gestões equivocadas e políticas de desinvestimento —, a proposta penaliza especialmente os trabalhadores de menor renda e os carteiros, que constituem a maioria da força de trabalho.

Nenhuma confiança no TST! Correios precisa negociar com trabalhadores em greve!

Quem decide os rumos da greve são os trabalhadores em assembléia !

Nesta semana, a greve entra em um momento decisivo. Mesmo durante o recesso do Judiciário, a empresa conseguiu, num tempo recorde, agendar o julgamente, pelo TST, para esta terça, dia 30 de dezembro. A categoria já tem experiência com o papel do TST em julgamento de dissídios e greves. O TST já avalizou a perda de 53 cláusulas durante o governo Bolsonaro. E agora em dezembro, o TST atendeu a um pedido de tutela dos Correios que exigia manter 80% dos trabalhadores em atividade, em cada unidade.

Os trabalhadores é que precisam definir quando começar e quando terminar uma greve. Qualquer coisa diferente disto é tentativa de tutela, resoluções que ferem o direito, ainda constitucional, de greve.

Contrato de empréstimo tem como “garantia” mais ataques e precarização

Defender os Correios publico e 100% estatal sob controle dos trabalhadores

De fato, a empresa passa por uma grave crise financeira e necessita de aporte emergencial da União. É uma empresa pública, que realiza serviços públicos e uma série de medidas adotadas pelo atual governo, como a chamada “taxa das blusinhas”, as mudanças no desembaraço aduaneiro, a ausência de compensação pela universalização do serviço postal e a retirada de mais de R$ 6 bilhões dos cofres dos Correios comprometeram ainda mais a sustentabilidade da empresa. Se esses recursos tivessem sido preservados e reinvestidos, não haveria necessidade de empréstimos nem o atual quadro de crise.

Ao contrário disso, o governo encaminhou um emprestimo de 12 bilhões que foi assinado, na ultima sexta, dia 26 de dezembro. Pelo contrato, Banco do Brasil, Caixa e Bradesco vão emprestar R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander, R$ 1,5 bilhão cada . Os bancos vão receber, como compensação, 115% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), ou seja, 115% sobre a taxa Selic (que hoje está em 15%). E isto, com risco nulo, porque tem aval da União. Ou seja, os bancos vão ganhar muito dinheiro, sem riscos e à custa de um sacrifício financeiro ainda maior dos Correios.

E o aval da União foi condicionado à implementação das “ medidas de ganho de receitas e corte de despesas previstas no plano de reestruturação da empresa” . E quais são estas medidas? Um novo PDV (Programa de Demissão Voluntária) para desligar 15 mil empregados em 2026 e 2027, rebaixamento de cargos e salários e ataques ao plano de saúde dos trabalhadores. Segundo Rondon, o plano tem “revisão da governança, metas para funcionários e reconhecimento por performance”. E o pior de tudo – já está em andamento um estudo técnico para transformar os Correios em uma empresa de economia mista. Ou seja, o que vai imperar é a sede de lucro dos acionistas, além de que o regime de trabalho é de iniciativa privada. Lula está ressuscitando o projeto que ronda os Correios desde FHC. Um caminho distinto, mas que chegará no mesmo fim – o esvaziamento de todo seu papel social.

Para ter “Correios forte e Brasil soberano” será necessário seguir na luta tirar as lições da greve e exigir das direções majoritárias a ruptura com o governo

Nesta campanha salarial, um outro grande obstáculo foi a condução pela direção das duas federações – FENTECT (dirigida pelo PT/CUT) e a FINDECT (dirigida pelo PCdoB/CTB). A maioria das direções dos sindicatos também foram coniventes com a enrolação da campanha salarial por 4 meses, fazendo o jogo da direção da empresa . E, agora em dezembro, estavam contra a decretação da greve. Ela somente saiu a partir da pressão da base e pelo papel de vanguarda do Sintect-RS, que realizou uma paralisação nacional sozinho, chamando toda categoria nacional a entrar na luta. Em muitos locais, como São Paulo, a base da categoria teve que passar por cima da própria direção para aprovar a entrada na greve.

A explicação para esta postura é uma relação de submeter as necessidades dos trabalhadores, para não se enfrentar com o governo Lula. O discurso que era disseminado é de que uma greve favoreceria os privatistas. Mas a submissão não para aí.

A FINDECT (PCdoB) chegou ao cúmulo de, na posse do novo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon – um nome que veio do mercado financeiro com a missão de precarizar ainda mais a empresa – reafirmar o “compromisso de colaborar com a nova gestão” . Parabenizou o novo presidente e desejou boa sorte”.

A FENTECT , em orientação aos sindicatos filiados, está encaminhando , para as assembléias, uma proposta de nota de repúdio à postura da Ministra Esther Dweck e do Ministro Rui Costa pelas declarações durante as audiências do TST fazendo chantagens contra o direito de greve . “Essa postura afronta a organização sindical, enfraquece o diálogo social e não condiz com um governo que se comprometeu publicamente com a defesa do serviço público e da classe trabalhadora”. De fato, é correto e progressivo o repúdio aos ministros. Mas eles são mandatários do governo. Tirar as conclusões – de qual foi e será o papel do governo Lula, na luta em defesa dos Correios, é essencial.

Como afirma o Secretário Geral do Sintect-RS, Alexandre Nunes, o que está impedindo o aporte de recursos, neste momento, é o Arcabouço Fiscal. E este novo teto de gastos, não foi uma “herança maldita” dos governos anteriores. Nem do Congresso, que com certeza é “inimigo do povo”. Foi elaborado pelo Ministério da Fazenda , no início do governo Lula. A compressão dos gastos públicos não deixa margem para uma estratégia de recuperação diferente da privatizadora. Por isto, Lula não é um aliado. É mais um inimigo , cujo projeto de privatização mais lenta, também precisa ser derrotado.

A atual greve já está cumprindo um importante papel. É, sim uma vitória política da categoria porque está demonstrando a força de resistência da classe trabalhadora. Os Correios já passaram por diferentes governos e a intenção de fazer os trabalhadores pagarem pela crise sempre esteve presente assim como o risco de privatização. A única saída é a luta de forma independente de todos os patrões e dos governos que seguem a cartilha liberal, como o de Lula. Nenhum direito a menos, aumento salarial real e defesa dos Correios públicos, estatal sobre controle dos trabalhadores!

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