A ONU quer mulheres nas mesas de paz, mas não quer acabar com as guerras
Por uma paz que destrua o imperialismo, não que o decore com rostos femininos
No fim de setembro, António Guterres fez um discurso “comovente” na ONU: 25 anos depois da aprovação da Resolução 1325, que prometia garantir às mulheres papel central nas negociações de paz, o secretário-geral lamentou que elas continuem “marginalizadas” dos processos decisórios. A verdade é que essa exclusão não é um “acidente” da diplomacia — é parte orgânica da estrutura imperialista que a ONU representa e legitima. A Resolução 1325 nunca foi um instrumento de emancipação, e sim um verniz progressista sobre a política de guerra dos grandes blocos capitalistas.
Basta olhar para as duas guerras que hoje dominam o noticiário: a da Ucrânia e o genocídio em curso na Palestina. Em ambos os casos, as mulheres aparecem nas manchetes como vítimas, refugiadas ou mediadoras humanitárias, mas estão ausentes de qualquer mesa real de decisão. O motivo é simples: não há espaço para a participação popular — e muito menos feminina — em negociações que servem aos interesses das potências e das burguesias locais.
Na Ucrânia, enquanto as mulheres são forçadas a sustentar a economia de guerra e lidar com a destruição social deixada pelo conflito, a ONU desempenha o papel de “árbitro neutro” que nunca é neutro. A Resolução 1325 segue sendo citada em relatórios e conferências internacionais como promessa de “inclusão”, mas que tipo de inclusão é possível num país dependente, ocupado militarmente e governado por um regime nacionalista burguês que proíbe greves e censura a oposição?
Na Palestina, a hipocrisia é ainda mais brutal. As imagens das mulheres palestinas nos escombros de Gaza — mães, médicas, jornalistas — desmentem qualquer discurso sobre “mulheres, paz e segurança”. A ONU é incapaz até de garantir corredores humanitários mínimos porque se recusa a enfrentar o Estado de Israel, sustentado pelos imperialismos norte-americano e europeu. Enquanto isso, o Conselho de Segurança repete mantras sobre “respeito ao direito internacional” e “participação feminina”, enquanto aprova orçamentos e sanções seletivas que perpetuam a ocupação. As palestinas não querem “um assento na mesa” de negociação; querem o fim da colonização e do massacre.
A lógica da Resolução 1325 é reformista até o osso: propõe “melhorar” os mecanismos de paz capitalista sem questionar a guerra como produto da exploração e da opressão. Reduz a questão das mulheres à representatividade, como se a presença de diplomatas ou ministras bastasse para humanizar o imperialismo. É a mesma ideologia que celebra a nomeação de generais mulheres ou de embaixadoras em governos que bombardeiam países pobres. O feminismo liberal e institucional abraçou essa agenda e a vende como “empoderamento global”.
A luta das mulheres contra a guerra não se resolve com cadeiras nas mesas da ONU, mas com a destruição do sistema que produz essas guerras. A verdadeira paz não é a trégua entre exploradores, mas a superação do capitalismo e do imperialismo. As mulheres trabalhadoras, que carregam nos ombros o peso das guerras — como refugiadas, mães, enfermeiras, operárias, combatentes — são as únicas que podem ser sujeito real da paz, quando lutam pela revolução social.
Por isso, nossa bandeira não é “Mais mulheres nas negociações de paz”, mas “Nenhuma confiança nas instituições imperialistas! Mulheres trabalhadoras contra a guerra e o capitalismo!”. A ONU e suas resoluções não podem libertar ninguém. Só a luta internacionalista das mulheres da Ucrânia, da Palestina e de todo o mundo, unida à classe trabalhadora, pode abrir o caminho para uma paz verdadeira — a paz socialista.