A prisão de Rodrigo Bacellar e a decadência do estado do Rio
A prisão de Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, expôs de forma brutal a decadência que tomou conta do estado. Não é um episódio isolado, mas parte de um processo longo de deterioração econômica e política. O Rio vive uma crise permanente, marcada por escândalos, violência e alianças obscuras que revelam o quanto as instituições do Estado não expressam os interesses da população.
Bacellar e TH Jóias
A queda de Bacellar se deu por um motivo que, por si só, já sintetiza esse colapso institucional: o vazamento de informações sigilosas de uma operação da Polícia Federal. A investigação mirava o deputado estadual TH Joias, acusado de manter relações financeiras com uma das facções criminosas mais poderosas do estado. Segundo as investigações, Bacellar avisou TH Joias sobre a operação que estava prestes a acontecer, orientou-o a fugir e tentou evitar que provas fossem apreendidas. O caso é tão grave que o presidente da Alerj chegou a ser tratado pelo próprio TH Joias como “01”, uma demonstração de proximidade e confiança.
Mas para entender a profundidade dessa crise, é preciso olhar para quem é TH Joias. Muito além de um parlamentar envolvido em irregularidades, ele é acusado de atuar diretamente no esquema financeiro do crime organizado no Rio. As investigações apontam que ele fazia operações de câmbio ilegal, lavava dinheiro e funcionava como uma espécie de operador econômico de uma facção criminosa. Sua relação com o tráfico não era circunstancial, mas estrutural. É esse tipo de figura que circulava livremente pelo poder legislativo fluminense, sendo protegido por quem supostamente deveria defender o interesse público.
Cláudio Castro faz parte desta trama
Essa proteção não vinha apenas de Bacellar. A relação entre o presidente da Alerj e o governador Cláudio Castro era estreita. Bacellar era um dos principais articuladores políticos do governo dentro da Alerj e responsável por garantir a estabilidade da base governista. Castro, por sua vez, dependia dessa sustentação para manter sua agenda e controlar as disputas internas. Quando Bacellar cai, não cai sozinho: atinge diretamente o núcleo do governo e expõe as contradições de um projeto político que se apresenta como defensor da ordem e da segurança pública.
A ligação entre TH Joias e Cláudio Castro reforça essa contradição. O governo que protagonizou algumas das operações policiais mais violentas da história recente do Rio, como as chacinas nos complexos da Penha e do Alemão, aparece agora associado a um deputado acusado de trabalhar para o crime organizado. Enquanto moradores de favela são mortos sob o discurso de combate ao tráfico, figuras políticas que dialogam com o mesmo crime organizado desfrutam de prestígio institucional e relações privilegiadas com o governo. O discurso da “guerra ao crime” perde qualquer legitimidade quando confrontado com essas relações.
Crise na Alerj
A prisão de Bacellar abre uma crise profunda na Assembleia Legislativa. A Casa, que recorrentemente é alvo de sucessivos escândalos, vê seu presidente cair, revelando que suas estruturas estão tomadas por interesses privados e por alianças que pouco têm a ver com as necessidades da população. O episódio mostra o quanto a Alerj não expressa qualquer ideia de representatividade, funcionando muito mais como palco de disputas de poder do que como instituição democrática.
A cara da ultradireitra
Esse ambiente político é a expressão direta da ultradireita que se consolidou no Rio. Uma política marcada pela violência institucional, por acordos com setores do crime, pelo uso da máquina pública para blindar aliados e pelo desprezo pela vida da população mais pobre. Não há como separar Bacellar, Cláudio Castro, TH Joias ou o bolsonarismo: fazem parte de um mesmo projeto, que se alimenta da crise e se mantém através da repressão e de alianças espúrias.
A esquerda institucional alimenta a ultradireita
Nesse cenário, o papel de partidos como PT e PSOL precisa ser analisado com seriedade. A eleição de Bacellar à presidência da Alerj foi unânime, do PL ao PSOL, passando pelo PT. O apoio de lideranças petistas, como Quaquá, e o voto do PSOL explicaram-se através de argumentos sobre “autonomia do Parlamento” e “acordos internos”. O líder do PSOL, Flávio Serafini, chegou a afirmar que o Parlamento havia preservado sua independência e aberto espaço para um novo acordo baseado em proporcionalidade e democracia interna. Mas esse discurso não se sustenta diante da realidade revelada pelas investigações. O apoio dado a Bacellar ajudou a legitimar exatamente o político que agora está preso por proteger alguém acusado de envolvimento com facção criminosa. Isso demonstra como setores da esquerda institucional, ao fazerem parte dos acordos de governabilidade, acabam fortalecendo justamente os grupos responsáveis pela crise atual.
Bacellar, que hoje está preso, foi unanimidade na votação para presidente da Alerj. Foi eleito com o apoio de todo o espectro político, incluindo partidos que se dizem oposição ao projeto representado por Castro. Isso mostra que, ao aceitarem essa lógica de alianças e conciliações, esses partidos abrem caminho para a ultradireita avançar.
A necessidade de uma alternativa dos trabalhadores
Não se enfrentam estruturas apodrecidas se juntando a elas. É necessário romper com essa lógica. A classe trabalhadora não pode esperar soluções de instituições que estão profundamente comprometidas com os mesmos grupos que atacam os trabalhadores e o povo pobre. A alternativa precisa ser construída de forma independente, enfrentando tanto a ultradireita representada por Castro, Bacellar e o bolsonarismo quanto os setores que, em nome da governabilidade, acabam fortalecendo esses projetos. Não devemos ter nenhuma esperança na Alerj, mas na organização dos trabalhadores para colocar para fora o governador responsável por chacinas e por um governo mergulhado em contradições e alianças perigosas. O estado não sairá da crise enquanto continuar nas mãos de quem se sustenta na violência, na corrupção e nas relações com o crime.