Nacional

A questão da população em situação de rua e a ultradireita

Confira o primeiro artigo da série sobre a questão da população em situação de rua, escrito por Luís Morona, de Criciúma (SC) 

PSTU-SC

30 de janeiro de 2024
star5 (13 avaliações)
Uma em cada quatro pessoas em situação de rua vive na cidade de São Paulo | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A burguesia sempre tenta esconder seus problemas do modo de produção capitalista. Dessa vez, a pauta é: a população em situação de rua. Um problema facilmente resolvido com a tecnologia e riqueza que este mundo tem. Mas como o modo de produção do capitalista mantem esses problemas, a direita, principalmente a brasileira, tenta dar alguma resposta à população, já que esse sistema (que esses mentirosos defendem) fez com que, desde 2013, o número de moradores de rua aumentasse 10 vezes somente aqui no Brasil.

Várias cidades começam a apresentar uma quantidade maior de pessoas em situação de rua, que começam a bater às portas, nos bairros e nas ruas dos “iluminados empresários’’ e religiosos de botequim. que adoram falar da caridade, desde que a miséria não bata à sua porta.

Neste momento, a burguesia brasileira, que nunca se importou com as condições de vida da classe trabalhadora, começa a tentar ‘resolver’’ um problema que eles não podem e nem querem resolver. Com isso, usam de diversas políticas para iludir a classe trabalhadora e dizer que está fazendo algo. Essa série de artigos tem o papel de fazer um debate sobre a questão das pessoas em situação de rua e propor uma verdadeira solução.

A burguesia perdida: os liberais, religiosos de botequim e os populistas de direita

Começaremos a falar das soluções dos iluminados e dos defensores do capital, do “deus dinheiro’’ ou de qualquer idealismo meritocrático. Como o problema bate à porta, é preciso dar resposta, principalmente em época eleitoral.

Vejamos os populistas de direita em ação. Tomamos o exemplo do prefeito de Criciúma (SC), Salvaro (PSDB), e outros, que seguem a cartilha da burguesia com algumas ou outras diferenças. Segue alguns trechos de diversos vídeos. Salvaro diz:

O governo trabalha fortemente, faz campanha, gasta dinheiro público para eliminar a situação desses moradores de rua. Muitos deles não querem ir para a casa de abrigo disponibilizada pelo órgão público, claro, porque lá eles são obrigados a trabalhar, então preferem viver nas ruas.

Ele também mencionou que a prefeitura vai disponibilizar caminhões com pão e “chá da vassoura”, colocando que Criciúma é acolhedora para aqueles que querem trabalhar. Para confirmar sua política do “trabalho’’, Salvaro sugeriu que quem critica as políticas municipais sobre moradores de rua poderia acolher essas pessoas em suas próprias casas.

Uma das outras iniciativas mencionadas é o cadastramento de pessoas em situação de rua para oportunidades de trabalho. “Aquele que não quiser trabalhar, porque a gente sabe que muitos deles têm mais medo de uma carteira de trabalho do que da própria polícia”, disse o prefeito de Criciúma, indicando que a cidade está preparada para acolher quem busca trabalho.

O prefeito de Florianópolis (SC), Topázio Neto (PSD) , também anunciou que a prefeitura da capital fará um projeto piloto para internação involuntária das pessoas em situação de rua.

Eis como são as coisas! Os populistas de direita inventaram a maneira ‘’correta’’ de eliminar ou esconder esse problema, para que os iluminados setores da burguesia não tenham que sofrer vendo a miséria à sua porta. Para solucionar a questão dos moradores de rua basta dar emprego, dizem eles. Tamanha é a facilidade dessa solução, que eu penso que os leitores ficaram animados com essa questão nova.

Parece evidente que as pessoas que estão na rua é porque decidiram não trabalhar e viver uma vida em condições precárias. Mas não se pode criticar a “solução” dos iluminados populistas e patetas. Se discordar, você vai ter que “adotar” um para a sua casa.

É uma retórica tão juvenil e delinquente, que zomba da classe trabalhadora. Que coloca o problema como parte das próprias pessoas que estão em situação de rua, sem analisar o conjunto das condições do modo de produção capitalista. O sistema joga a classe trabalhadora em condições insalubres de vida e, principalmente, coloca toda uma massa da classe trabalhadora na informalidade a um “cisco” de ir morar na rua.

Além disso, para melhorar sua atitude, a burguesia critica a grande parte dos trabalhadores que tira do pouco que tem e entrega aos moradores de rua, chamando esses trabalhadores de “financiadores de vagabundos”, que multiplicam a permanência deles nessa situação. Mas só a classe trabalhadora sabe o que é passar fome, não ter nada, ter medo de perder o pouco que tem e se solidariza com a boa intenção.

O Salvarinho foi mais adiante em sua política. Como estava dando muita repercussão favorável a ele, gravou um vídeo onde destrói uma casa que os moradores de rua usavam. É tamanha a audácia da burguesia que agora ela destrói até a ‘’sagrada’’ propriedade privada dos outros.

Como parte da solução, Salvarinho vendo que dar “emprego” não solucionou o problema, partiu para destruir os locais onde pode se “procriar” essa “nefasta população”, que para eles não pode ser considerada e tratada como de humanos. Junto, também começou a dar passagens para que saiam da cidade.

O prefeito Topázio também deixou a sua proposta mirabolante: internação compulsória para os vulneráveis de rua! Esconder e tirar eles da cidade, é algo que segue a cartilha da burguesia.

Vejam a solução desses populistas. Todo o discurso e todo o investimento em políticas públicas, para no final jogar o problema para outra cidade, ou colocar ódio na população incitando a raiva aos vulneráveis de rua e aos que lutam contra o descaso de poder público.

A questão que falta na vida dos vulneráveis de rua é uma tentativa de criar novamente uma lei dos pobres, como na Inglaterra, para criminalizar as pessoas e tirar deles a humanidade, já que direitos somente os ricos têm plenamente na sociedade.

Mais uma vez os populistas de direita

Não poderia continuar o texto sem debater um outro populista de direita, um outro pateta, o vereador Rubinho Nunes (União-SP), que em São Paulo apresentou uma proposta de CPI, com apoio da bancada evangélica, contra o padre Júlio Lancellotti e Organizações não-governamentais (ONGs) que fazem um trabalho de caridade e de ajuda à população de rua (tanto na distribuição de roupas, comidas, remédios e controle de redução de danos das drogas).

Padre Júlio Lancellotti em ação junto as pessoas em situação de rua em São Paulo | Foto: Reprodução Redes Sociais

Que fase que estamos passando. A burguesia que apoiava as instituições de caridade como forma de controle, ou pelo menos, para mostrar que estavam fazendo algo contra a miséria ou pelo medo de não ir pro inferno com a sua riqueza. Agora lutam contra o seu próprio interesse de controle, a ponto de atacar um padre cristão.

Se até aqueles que tentam de alguma forma solucionar ou mitigar as condições do modo de produção capitalista são atacados, é porque a situação se escancara de uma maneira firme na sociedade, e é preciso tirar o foco do real problema e inventar as soluções burras que esses prefeitos e capachos da burguesia defendem.

Sem mais o que dizer destes populistas, seguimos para os liberais.

Os liberais

Após esses exemplos, faremos um esforço difícil de ver as soluções dos liberais, ou dos novos liberais iluminados que tentam ser os outsiders das políticas, mudam a aparência, mas a essência podre é a mesma: Movimento Brasil Livre (MBL), o partido Novo e os defensores do livre mercado com o imperialismo.

Debateremos alguns políticos do partido Novo ou Velho, se for ver as semelhanças de discursos. Podemos dar o exemplo de Filipe Sabará, atual secretário-executivo de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, que apresentou o Plano de levar sem-teto da capital para o campo.

Mas as propostas absurdas dos parlamentares do partido Novo não param por aí. Uma vereadora de Florianópolis, capital de Santa Catarina, fez críticas à prefeitura de Criciúma, que estava mandando os vulneráveis de rua para a capital.

A vereadora muda o discurso, coloca que é preciso separar o ‘’joio do trigo’’, ou seja, moradores de rua sem passagem pela polícia deveriam entrar na cidade e ter direitos. Já os moradores de rua com passagem criminal deveriam ser barrados. Logo para dizer que quase a maioria tinha passagem, ou seja, bloquear todos.

Em live no seu Instagram, a vereadora colocou que era ridículo dar comida, banho e até quatro refeições para esses moradores de rua com passagem pela polícia. Falou que era ‘’incrível’’, com ironia, que não podia mandar os moradores de rua para as suas cidades de origem e que Florianópolis não podia ser um espaço para as pessoas de situação de rua. Nada mais ‘’liberal’’ que essas falas que estamos analisando.

Faço um desafio à vereadora, que ela também seja contra os ricos que fazem corrupção, que roubam os trabalhadores e que fazem essa miséria entrar na cidade de Florianópolis. Mas sabemos que essas políticas e falas só são uma cortina de fumaça, para encobrir a guerra aberta contra os pobres.

No final e para ser uma boa parlamentar, fará como os outros: jogará a culpa nas instituições, na “esquerda defensora, que usa isso como massa de manobra” e pontuará precisa de políticas públicas e investimento. Fará audiências públicas que não chegarão a lugar nenhum, mostrará aos seus eleitores qualquer solução mentirosa. Mal sabe que no final fará o mesmo discurso de investimento que a esquerda burguesa usa, como veremos no próximo artigo.

Sobre a questão da criminalidade e os vulneráveis de rua. A burguesia sabe muito bem quais os motivos que levam alguém a roubar. Mas tenta culpar a qualquer custo o indivíduo, num mundo “de oportunidades” maravilhosas do capitalismo, mesmo sendo ela a única responsável pela origem dos roubos.

Seguiremos agora para a parte final desse primeiro artigo, falando agora dos religiosos.

Os religiosos de botequim

Agora vamos falar dos profissionais da fé, os filisteus que usam da fé para enganar o povo. Aqueles que cultuam o deus dinheiro e as riquezas. Para isso, usam o protestantismo na sua última essência: uma justificativa para as desigualdades sociais, para as injustiças sociais. A exemplo do pastor Marcos Granconato, líder Igreja Redenção, em São Paulo :

Nada mais lúdico que a justificação da pobreza. Para ajudar o pastor ainda coloca:

(…) Sim, a maioria são “vagabundos”. “Com base no que eu vejo nas ruas. Gente forte, saudável e jovem mendigando por aí! Quando vejo um doente, me compadeço. Mas quando olho para a maioria, percebo que é pura vagabundagem.

É visível a falta de “amor cristão”. Com certeza, negaria abrigo a José e Maria e jogaria pedra em Cristo, já que ele estava com ‘’ladrões’’.

Não irei trabalhar a fundo essa questão dos mentirosos que vivem da fé e justificam e tentam enquadrar a realidade com passagens da bíblia ou de outro livro sagrado. Como se os seres humanos fossem apáticos na história e na mudança dela.

Não são apenas os falsários das religiões abraâmicas que estão com esse pensamento, é claro. Existem os novos místicos e de outras matrizes que, em última instância, defendem esse sistema que coloca a maioria da população a sofrer sem as condições necessárias.

Por ora, deixo o leitor refletir se esses discursos e soluções místicas da direita vão em algum momento resolver a fundo o problema da questão dos moradores de rua. Situação quem aumentando cada vez mais, ao mesmo tempo que vemos o progresso da tecnologia e da produção. Contradição que aparece meio estranha para a realidade, não é mesmo? Mas não para a sociedade burguesa a qual vivemos. Aceitaremos ser eternamente enganados pela direita que quer enxugar o gelo?

No próximo artigo, vamos falar sobre a esquerda, o socialismo burguês que, junto com a direita, por mais que mude a aparência, mantem a essência da exploração capitalista e o jugo sobre os trabalhadores, que leva ao aumento dos moradores de rua. Mas não se desespere, leitor, pois pelo relatório da Oxfam, temos 10 anos para surgir o  1º trilionário e 230 anos para acabar com a pobreza. Algo bem tranquilo não é mesmo?