Nacional

A São Paulo da propaganda de Ricardo Nunes só existe para os bilionários

É preciso construir uma alternativa socialista que enfrente a extrema direita com independência de classe

Deyvis Barros, de São Paulo (SP)

16 de setembro de 2024
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A gestão de Ricardo Nunes (MDB) é marcada por denuncias de corrupção e favorecimento à empresários capitalistas | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Os programas de TV do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), parece que saíram daqueles folhetos que retratam o paraíso bíblico, com crianças abraçando os leões e alimentos em abundância. Na propaganda do prefeito, a cidade está mil maravilhas.

Mas a verdade é que após 3 anos de mandato, tão apagado quanto danoso para o povo trabalhador, a cidade paraíso pintada por Ricardo Nunes só existe para os bilionários.

O prefeito voltou a crescer nas pesquisas e agora aparece à frente em algumas delas. Isso depois de entrar numa enrascada com a entrada de Marçal (PRTB) entre o eleitorado bolsonarista. Seu crescimento é resultado de um orçamento recorde  da prefeitura, conseguido às custas de ataques aos servidores e aos serviços públicos, que está possibilitando um investimento gigantesco em obras; ao apoio incondicional do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que precisa de Nunes para seu plano de privatizações e ataques; ao apoio, ainda que vacilante, do golpista Bolsonaro 9PL); e de um tempo de TV e de dinheiro completamente desigual, que permite disputar a eleição em condições de vantagem em relação a todos os outros.

Nunes é parte da extrema direita que alimenta o bolsonarismo como uma força política no país, ainda que tente se afastar dele e se apresentar como um gestor técnico, assim como faz o governador Tarcísio. Durante seu mandato, realizou vários ataques contra os trabalhadores, que precisam ser denunciados.

Ricardo Nunes colocou os serviços públicos de São Paulo à venda

O estado de São Paulo está à venda e os comerciantes são o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes. Para eles, tudo é mercadoria, incluindo os serviços públicos prestados para a população e até a nossa água.

Nunes ajudou Tarcísio na privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Sem o prefeito, a privatização da empresa seria inviável. Agora a empresa Equatorial, responsável por vários apagões e pela prestação de um dos piores serviços de transmissão de energia elétrica no país, está administrando o saneamento e o fornecimento de água na capital paulista. Quando os serviços ficarem piores e mais caros, temos a quem culpar: o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio.

Mas o próprio prefeito tem várias privatizações para chamar de suas. Até o serviço funerário Ricardo Nunes privatizou, causando prejuízos à população. Pouco tempo depois da privatização, os enterros e velórios na cidade já tinham aumentado o custo em 400%.

Com Ricardo Nunes, quase 70% do orçamento da saúde pública municipal está privatizado e oito em cada dez bebês e crianças matriculados nas unidades educacionais da rede municipal de São Paulo estão em creches ou escolas terceirizadas. É uma verdadeira farra com o orçamento dos serviços públicos para atender aos amigos empresários do prefeito.

Prefeito aprofunda problemas urbanos e ambientais de São Paulo

Ricardo Nunes é um prefeito amigo dos grandes especuladores imobiliários, que ganham com a falta de moradia, com alugueis altos e com uma cidade que tem alagamentos na periferia toda vez que chove e em que respiramos o pior ar do mundo.

Durante o seu curto mandato mudou uma série de leis que pioram mais a situação urbana e ambiental da cidade. É o caso do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento.

As novas leis aprovadas por Nunes, permitem a construção de prédios ainda mais altos em regiões no entorno de estações de trem e metrô e de corredores de ônibus, além de no miolo de bairros. Também libera a construção de mais garagens, desvia verbas da construção de moradias populares para asfaltar ruas e dá benefícios para templos religiosos. Além disso, flexibiliza várias leis de proteção ambiental da cidade, permitindo a construção de prédios até em área de proteção ambiental.

Em uma cidade com 80 mil pessoas em situação de rua, Nunes chegou ao ponto de entrar na justiça para ter o direito de jogar no lixo os colchões e barracas dessas pessoas. Uma verdadeira desumanidade, que vem acompanhada da ausência de políticas públicas para resolver esse grave problema social.

Na prefeitura de Ricardo Nunes, a cidade se converte, para o povo trabalhador, em especial para os negros que vivem na periferia, em um espaço de segregação e reprodução da desigualdade social a serviço dos lucros dos grandes capitalistas.

Ataques aos direitos, ao salário e a aposentadoria dos servidores públicos

O mandato de Nunes começou com um ataque duríssimo contra os servidores públicos. Foi o chamado Sampaprev 2. Uma reforma da previdência iniciada por Haddad, seguida por Covas e finalizada por Nunes, com forte repressão sobre os servidores.

Nunes é inimigo dos servidores, mantêm os trabalhadores com reajustes abaixo da inflação, reduz direitos e terceiriza o serviço público.

Os gastos da prefeitura de São Paulo, com servidores para atender a população, são inferiores até ao que estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo o Ilaese (Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos), em 2023, a prefeitura gastou apenas 29,98% com servidores públicos, enquanto que o limite prudencial da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) é 51,3%. É mentira que a prefeitura é inchada e que precisa diminuir direitos dos servidores. A verdade é que Nunes economiza milhões com precarização das condições de trabalho dos servidores e dos próprios serviços públicos, e isso prejudica os trabalhadores e a qualidade do serviço prestado.

Ataques ao direito de aborto legal na rede pública do município

Ricardo Nunes abriu uma verdadeira guerra contra o direito ao aborto legal, realizado na rede pública de saúde. O principal alvo dos ataques foi o hospital Vila Nova Cachoeirinha, referência na realização de aborto na capital.

Vários pacientes que precisavam da realização do aborto, dentro dos estreitos limites da lei hoje, tiveram esse direito negado. E médicos foram criminalizados. O prefeito avançou no sucateamento do hospital, tentou colocar na sua direção uma médica bolsonarista antiaborto e chegou a fazer uma investigação ilegal de dados sigilosos, para perseguir às mulheres que realizam aborto no hospital.

Em meio ao genocídio na Palestina, Nunes ampliou relações com Estado genocida de Israel

Existe um genocídio sendo aplicado contra o povo palestino pelo Estado de Israel. Não é necessário ser de esquerda, ou um grande defensor dos direitos humanos para reconhecer isso. Já são mais de 40 mil mortos, com alguns institutos apontando quase 200 mil com as sub notificações, sendo muitas mulheres e crianças.

Mas Ricardo Nunes decidiu tomar o lado de Israel no genocídio. Fez várias sinalizações nesse sentido. No auge do genocídio, se reuniu com o presidente da Confederação Israelita do Brasil, sinalizando de que lado está. Declarou que “Israel tem o direito de se proteger e se defender”, como se matar milhares de crianças inocentes fosse sinal de defesa e aderiu, pela prefeitura, à definição de antisemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, que aplica uma visão sionista e, portanto, preconceituosa e reacionária de antissemitismo.

Diante de um genocídio, tomar o lado do agressor é um verdadeiro crime. E Nunes tem as mãos sujas de sangue.

Uma prefeitura marcada por escândalos de corrupção

Nunes assumiu a prefeitura pouco conhecido, mas já tinha uma marca: ladrão de creche. Já no seu mandato como vereador, antes de assumir como vice de Covas, era apontado como um dos organizadores e beneficiários da Máfia das Creches. Agora, na reta final do mandato, a Polícia Federal decidiu continuar com as investigações por haver indícios de que ele realmente era parte do esquema.

Recentemente, o portal UOL divulgou que o prefeito estaria fazendo compras sem licitação de itens para população em situação de rua com um valor 400% superior aos praticados no mercado, com um claro indício de superfaturamento. O portal The Intercept Brasil divulgou que a Prefeitura estava pagando quase 57% a mais no valor de fraldas geriátricas. Já o jornal Folha de S. Paulo revelou uma compra milionária de bonecas de pano, segundo a prefeitura para ações antiracistas, sem licitação e bem acima do valor der mercado.

Fazer contratos sem licitação é uma das especialidades do prefeito, em seu mandato, as obras sem licitação somam 295% mais que os últimos prefeitos juntos.

A prefeitura de Nunes, além do roubo legalizado, com privatizações, intenções para grandes empresas e diversas formas de favorecimento aos empresários, está cheia de casos no mínimo suspeitos, de tirar dinheiro dos serviços públicos para o povo, para favorecimento de políticos e aliados. É roubo puro e simples.

Corrupção e capitalismo são irmãos gêmeos. Para combater a corrupção de Nunes e dos sucessivos governos capitalistas, é preciso de um projeto que enfrente os bilionários capitalistas.

A necessidade de uma alternativa socialista e revolucionária

A eleição ainda segue indefinida, apesar de as últimas pesquisas indicarem um esvaziamento da candidatura Marçal. Nunes vai se consolidando como o representante da direita bolsonarista em São Paulo, com o retorno do apoio do próprio Bolsonaro e seu clã ao prefeito.

Ricardo Nunes não é “cria da periferia”, como tenta se apresentar. Ele é o representante de Bolsonaro em São Paulo, governou por 3 anos a serviço dos bilionários e precisa ser derrotado em seus projetos e seu governo.

Derrotar a extrema direita, seja a raivosa de Marçal, ou a com uma cara institucional, de Ricardo Nunes, não será feito se aliando aos grandes empresários, donos do poder, que alimentam e beneficiam essa extrema direita. Isso pode ser visto pelo fato de que, enquanto Lula dá bilhões de reais para o agronegócio que foi base de Bolsonaro, resultado do governo de conciliação que defende, o Bolsonarismo segue como uma força ativa e crescente no país e em São Paulo.

Boulos, seguindo esse modelo, assume um discurso de “amor por São Paulo” que em nada se diferencia das candidaturas de direita moderada, não consegue empolgar, não governará para os trabalhadores caso eleito e tampouco porá fim à extrema direita.

É preciso construir uma alternativa socialista e revolucionária que enfrente os bilionários capitalistas e seus representantes. Não conciliando com eles, mas chamando à organização independente dos trabalhadores, em torno a um programa socialista que garanta vez e voz ao povo trabalhador. E é serviço dessa luta que está a candidatura de Altino Prazeres a prefeito e dos demais candidato vereadores pelo PSTU em São Paulo.

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