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AL: Exploração mineral predatória da Braskem segue afundando bairros em Maceió

Redação

1 de dezembro de 2023
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“Maceió afunda em lágrimas!”. Frase foi pintada em rua do bairro do Pinheiro | Foto: Mayra Costa/Divulgação

Desde a madrugada de quinta-feira (30/11), moradores do bairro Mutange, em Maceió (AL), deixam às pressas área que pode afundar. A justiça ordenou a evacuação devido ao perigo iminente de colapso de uma mina da empresa Braskem.

Já são cinco bairros da capital alagoana (Pinheiro, Farol, Bebedouro, Bom Parto e Mutange) que estão isolados devido aos danos ao subsolo causados pela mineração da Braskem. O bairro do Mutange se tornou o ponto crítico esta semana, com risco de desabamento da mina número 18; há 35 instaladas na cidade.

Segundo o governo do estado, houve cinco abalos sísmicos na área no mês de novembro, e o possível desabamento pode ocasionar a formação de grandes crateras na região. Segundo a Defesa Civil, o afundamento é de 2,6 centímetros por hora. A Defesa Civil de Alagoas alertou que uma ruptura no local pode ter um efeito cascata em outras minas.

Desde o surgimento do problema, em 2018, mais de 14 mil imóveis na região já foram desocupados e mais de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas habitações, numa enorme catástrofe provocada pela mineração urbana. “A maior tragédia urbana do mundo”, diz o prefeito João Henrique Caldas (PL).

Durante a evacuação, moradores protestaram dizendo não ter para onde ir e expressam preocupação em relação à falta de garantias sobre o que ocorrerá após deixarem suas casas, manifestando temor pela segurança de seus pertences deixados nos imóveis. Seis escolas estão sendo mobilizadas como pontos de evacuação, preparadas para receber os moradores que deixam suas residências.

Entenda o caso

Em 2018, após fortes chuvas, as primeiras rachaduras surgiram no bairro do Pinheiro. No ano seguinte, imóveis e ruas dos bairros do Mutange, Bebedouro e Bom Parto começaram a apresentar danos semelhantes.

Essa situação é consequência da exploração predatória das minas da Braskem. Cavernas foram abertas para extrair sal-gema durante décadas de mineração na região. Em 2019, foi confirmado pelas equipes do Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão ligado ao governo federal, que a extração de sal-gema feita pela Braskem na região onde existiam falhas geológicas provocaram a instabilidade no solo. As rachaduras vistas nas ruas e nos imóveis são reflexo dessa movimentação.

O sal-gema é um tipo de cloreto de sódio utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC. Segundo o relatório do SGB, a exploração de sal-gema, feita de forma inadequada, desestabilizou as cavernas subterrâneas que já existiam nos bairros, causando o afundamento do solo e, consequentemente, as rachaduras.

A tragédia urbana em curso transforma áreas inteiras em bairros fantasmas, um problema que ainda está longe do fim, já que o solo continua afundando.

Desde 2020, a justiça cobra indenizações às famílias que perderam suas casas, móveis e deixaram para trás toda uma história de vida nos bairros que hoje estão afundados e vazios.

Os 5 bairros atingidos pela exploração predatória da Braskem | Foto: Reprodução/TV Globo

A destruição do meio ambiente e do espaço urbano

A Braskem é a maior petroquímica da América Latina e tem como sua maior acionista a Novonor (antiga Odebrecht, que esteve envolvida em processos de corrupção durante os governos petistas de Lula e Dilma). Acostumada a lucrar bilhões de reais, a empresa carrega em sua história a marca da destruição ambiental, de ataques aos direitos trabalhistas e mortes.

Segundo Manoel Moisés, diretor do Sindipetro AL/SE e trabalhador aposentado da Braskem, “a falta de recursos para a realização de uma manutenção eficaz foi uma das responsáveis pelo desastre. As minas cavadas, a mil metros de profundidade, eram desprovidas de instrumentos de medição de vazão, para aferição de pressão no interior da mina e nem de averiguação da pressão de óleo diesel, elemento fundamental para evitar o desmoronamento das cavernas de sal”.

Esse mesmo tipo de comportamento foi o responsável, em 2011, por um vazamento de cloro que causou a intoxicação de um funcionário e 129 moradores de comunidades vizinhas, além de uma explosão que feriu cinco funcionários.

Mas, os crimes da Braskem não se restringem a Maceió. Em junho passado, uma explosão na unidade da Braskem no ABC Paulista causou a morte de outros dois trabalhadores. Durante anos os trabalhadores lutaram pelo banimento da utilização do amianto (uma substância comprovadamente cancerígena) nas fábricas da Braskem. Contudo, o banimento definitivo só ocorreu quando, depois de muita luta, o Supremo Tribunal Federal proibiu o uso da substância no país.

Além do desastre urbano e do impacto social, a irresponsabilidade criminosa da Braskem sempre tem consequências ambientais. O afundamento de Maceió tem provocado a elevação do nível do complexo lagunar Mundaú-Manguaba e já submergiu cerca de 17 hectares de manguezais. Já na Bahia foi preciso que a Justiça vetasse seus planos de construir um porto em uma área de forte impacto ambiental.

Maceió, 09 de julho de 2020
Pinheiro – Terra de ninguém. Casa e prédios abodonados no bairro do Pinheiro em Maceió. Alagoas – Brasil.
Foto: ©Ailton Cruz

Punição

Braskem precisa ser punida exemplarmente e as vítimas receberem indenização justa

A Braskem deves ser punida de forma exemplar e garantir a indenização justa para todas as famílias.

Defendemos que a Braskem seja expropriada, estatizada e que seja gerida por uma comissão formada pelos trabalhadores, trabalhadoras e pela comunidade atingida.

Os lucros bilionários devem ser revertidos para pagar indenizações justas, tomar medidas concretas para estabilizar o solo de Maceió, mitigar os efeitos sobre a região lagunar e de manguezais e recompor a infraestrutura da cidade, destruída pelo afundamento.

No capitalismo toda atividade econômica é colocada a serviço do lucro. A vida dos seres humanos e o meio ambiente são fatores secundários. Não existe saída para reverter a subordinação econômica do Brasil e combater acontecimentos como os de Maceió sem superar esse sistema em que poucos se beneficiam com o sofrimento de bilhões.

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