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Aliança com o PT no RS: Que conclusão os socialistas devem tirar desse giro da direção do PSOL?

PSTU-RS

1 de agosto de 2022
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Foto Rafael Stedile / Divulgação

A direção do PSOL-RS, seguindo o mesmo caminho de adesão nacional às candidaturas do PT, acaba de anunciar a desistência de suas candidaturas majoritárias também no Rio Grande do Sul. As negociações políticas que resultaram no atual acordo já vinham de vários meses, mas em nosso estado é um fato novo o PSOL decidir por um programa comum e, de forma inédita, pela participação em um possível governo com o PT, através da indicação do candidato a vice-governador.

Não se trata de uma pequena mudança ou “tática eleitoral” como podem pensar muitos ativistas e militantes da esquerda que tenham simpatia por dirigentes e figuras públicas do PSOL, como Luciana Genro, Pedro Ruas, Roberto Robaina e Fernanda Melchionna. A sua reaproximação com o campo da Frente Popular tem um conteúdo completamente oposto ao que defendiam no período em que Lula, o PT e o PCdoB governavam o Brasil. Segundo suas palavras da época: “O PT é um partido de costas para o futuro. As bandeiras históricas do PT, patrimônio da esquerda em geral, como a luta contra o FMI e contra a ALCA, por melhores salários e condições de trabalho, contra os bancos, em defesa da reforma agrária, entre tantas outras, foram abandonadas pelo PT”. E defendiam distanciamento da degeneração programática petista: “No momento em que o PT assumiu o social-liberalismo, a construção de uma esquerda socialista ganhou peso. As necessidades concretas empurram neste sentido, assim como as forças sociais que de uma forma ou outra tratam de encontrar sua representação política própria”. (Notas sobre a ruptura com o PT e algumas propostas, 2003, Coordenação Nacional do MES – Movimento Esquerda Socialista).

Salta aos olhos a contradição entre esse posicionamento categórico e o que passaram a defender atualmente em relação ao PT. Hoje, a política aplicada nacionalmente pelo PSOL tem o objetivo nítido de construir frentes eleitorais com o PT, independentemente da composição que esse partido construa. Com tal política e perante uma conjuntura de recuperação eleitoral da Frente Popular, importa-lhes pouco ou quase nada a presença de Geraldo Alckmin, um dos principais representantes políticos da burguesia nacional.

Some-se a isso o fato de que, sob pressão dos retrocessos da legislação eleitoral, o PSOL não hesitou em formar uma “federação” com a Rede Sustentabilidade para tentar evitar a perda de representação parlamentar. Uma federação significa acordo programático e atuação eleitoral comum por quatro anos! E, convém destacar, a Rede é diretamente um partido burguês, financiado por capitalistas bilionários e que já chegou ao cúmulo de apoiar Aécio Neves para presidente.

PSOL e PT não apresentarão um programa que derrote o bolsonarismo ou que atenda os trabalhadores

A atual conjuntura, em que o ódio ao governo Bolsonaro faz com que muitos trabalhadores e lutadores queiram se desvencilhar o quanto antes desse genocida, permitiu que Lula e o PT (com seu projeto cada vez mais adaptado aos interesses do capital) recuperassem parte do prestígio que haviam perdido com seus governos de colaboração de classes. Os ativistas mais jovens, que não viveram diretamente as experiências com os governos petistas, também são alvos da propaganda do “voto útil” ou do mal menor. Conscientemente, os reformistas aumentam a pressão para que os socialistas e revolucionários abandonem o seu programa de defesa dos interesses históricos e imediatos da classe trabalhadora.

Portanto, é fundamental uma compreensão profunda do papel real do PT sobre a consciência dos operários, da juventude e dos setores oprimidos. E, a partir dessa compreensão, será possível entender o curso regressivo do PSOL e sua reaproximação com o programa e a política de conciliação de classes do PT.

É preciso, portanto, sermos categóricos na caracterização do PT, de seu programa, sua estratégia e no significado de seus governos de vários anos de um país capitalista e semicolonial como o Brasil. O PT surgiu, ao final da ditadura militar, com um perfil que simbolizava o ascenso da classe trabalhadora, suas lutas e greves. A identificação da classe com esse partido cresceu em meio a um vigoroso processo de enfrentamento à crise social do capitalismo no país. A consciência de classe, isto é, a compreensão da profunda diferença entre os que vivem de seu trabalho e os capitalistas que os exploram aumentava na medida em que as mobilizações se fortaleciam. É desse período, de ampla agitação operária e popular, o surgimento das tais “bandeiras históricas do PT” referidas no texto dos dirigentes do MES.

Porém, ao longo de vários anos, o regime de democracia burguesa atuou para conter a luta da classe trabalhadora e desviá-la de ameaçar a natureza capitalista do Estado. O regime democrático-burguês usa o calendário de eleições como válvula de escape à insatisfação que a miséria, a opressão e exploração capitalista gera cotidianamente. Busca sempre canalizar a revolta popular para a ilusão de mudanças com um novo governo, eleito sempre com o controle férreo do poder econômico burguês.

Quando o PT venceu as eleições presidenciais, já havia completado sua adaptação aos interesses do capital e passou a ser um sustentáculo decisivo do regime. Quem reconheceu melhor este papel foi ninguém menos que José Sarney, outra destacada figura política da burguesia nacional: “Acho que o Lula prestou um grande serviço ao País, nesta sucessão, porque com essa crise social, com esse desemprego, a violência urbana, com o terror que a gente tá vendo por aí, com a situação de agitação nacional, se não fosse ele o homem que é, que catalisou as esperanças do povo, assegurou uma sucessão tranquila, a campanha presidencial teria sido um momento de quase explosão social do país” (Jornal O Estado de S. Paulo, 27/10/2002).

Nessa época, o vice de Lula era José de Alencar, um grande empresário têxtil e dono de 11 fábricas. Depois, o vice dos governos petistas passou a ser o conhecido Michel Temer, de larga trajetória política a serviço da burguesia. Hoje, com adaptação ainda mais profunda ao regime democrático-burguês, abraçam Alckmin, cujos governos em São Paulo foram de pura violência e repressão contra os movimentos popular e sindical.

Independência de classe para lutar por um governo dos trabalhadores

É fundamental, neste momento, um debate sobre os rumos que a esquerda socialista deve tomar. Um programa de governo não é o mesmo que um acordo para a luta ou unidade de ação em mobilizações necessárias para nossa classe. Uma coisa é a necessidade de ampla unidade nas ruas pelo Fora Bolsonaro, contra todos os ataques deste governo de ultradireita ou suas ameaças de golpe militar. Outra, bem diferente, é o programa que os partidos devem propor para disputar e fazer avançar a consciência da classe trabalhadora!

É neste ponto que reside hoje a tarefa de todos que buscam dedicar suas vidas à luta pelo socialismo. As concepções reformistas e as alianças com supostos “setores progressistas da burguesia” (introduzidas pelo stalinismo no movimento operário) só causam retrocessos em nossa luta. A manutenção do capitalismo irá aprofundar a barbárie em que já vive o povo pobre e oprimido. Não existe forma de “governar para todos” como propõe Lula. Ou se governa com e para a burguesia ou se governa com e para os trabalhadores.

A luta pela independência política da classe trabalhadora diante de qualquer setor burguês não pode ser abandonada. É preciso que confiemos profundamente na luta da classe operária! A tarefa estratégica posta a cada ativista e lutador é a de preparar nossa classe para a revolução socialista, o que exige defender com toda a sua energia um programa revolucionário e socialista.

As candidaturas do PSTU estão a serviço de divulgar esse programa. Chamamos os ativistas, os trabalhadores, a juventude e os setores oprimidos a nos ajudarem, integrando-se em nossa campanha. Vamos de Vera presidente e Rejane governadora!