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Apagão em São Paulo: A culpa é dos governos e da Enel, não da chuva

É preciso reestatizar, já, o sistema elétrico e parar com todas as privatizações de Tarcísio de Freitas. Quando fechávamos essa edição, protestos espontâneos começavam a surgir nos bairros, como em Capão Redondo, na Zona Sul

Deyvis Barros, do Ceará (CE)

8 de novembro de 2023
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Apagão atingiu milhões de moradores

As fortes chuvas que ocorreram em São Paulo na sexta-feira, dia 3, causaram sete mortes. Lamentamos e nos solidarizamos com amigos e familiares das vítimas.

Além das mortes, as chuvas intensas, reflexo das mudanças climáticas que o capitalismo está causando em nosso planeta, geraram destruição e um forte apagão que deixou mais de 2 milhões de paulistas sem energia elétrica e com dificuldades no fornecimento de água e de internet. 

O professor Edu Silva, militante do PSTU na Zona Sul de São Paulo, que ficou em meio ao apagão, relatou ao Opinião que, “no Jardim São Luís, ficamos mais de 60 horas sem energia, racionando água e com a internet oscilando. Para carregar os celulares, os moradores tinham que ir aos terminais de ônibus e usar seus carros. Muita gente teve que jogar comida fora. Desde sexta, ligamos para a Enel e, até sábado, nenhum canal de comunicação funcionava. A noite ficava tudo escuro e inseguro para quem voltava do trabalho”.

O governador Tarcísio (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a direção da empresa que administra o serviço de energia, a multinacional italiana Enel, dizem que a culpa foi das chuvas, principalmente pela grande quantidade de árvores que caíram sobre fiações. Mas isso não é verdade. 

A demora para o reestabelecimento do fornecimento de energia (e mesmo o fato de que chuvas causem um apagão dessa dimensão) é reflexo de um serviço privado em que a empresa, para aumentar seus lucros, corta custos e não faz investimentos em melhorias. 

Apagão gerou protestos na Zona Sul da cidade

Privatização é caos

Há anos que se discute em São Paulo, como solução viável para evitar apagões, o aterramento da fiação elétrica, importante também para a diminuição da poluição visual e preservação das árvores. Mas, como o que é prioridade para a Enel e para os governos do nosso país que sustentam esse serviço privado, é remuneração dos acionistas da empresa, os devidos investimentos são sempre jogados pra frente. 

Não é novidade para ninguém em São Paulo que o serviço da Enel é de péssima qualidade. Na verdade, a própria Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) classifica a Enel São Paulo na 19ª colocação entre as grandes distribuidoras de energia do país. E isso não acontece porque a multinacional italiana esteja na penúria. Muito pelo contrário. 

A Enel comprou a antiga Eletropaulo em 2018. De 2019 pra cá, a empresa dobrou seu lucro e, ao mesmo tempo, reduziu em 35% o número de funcionários que prestam serviço para a população. Só em 2022 foram R$ 1,4 bilhão de lucro para distribuir para seus acionistas (principalmente para o governo italiano e rentistas dos EUA e Europa), enquanto o povo de São Paulo sofre com a comida estragando na geladeira pela falta de energia.

Privatização é apagão 

É preciso barrar as privatizações de Tarcísio

O governador Tarcísio de Freitas enviou à Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) um projeto para privatizar a companhia de água e saneamento estadual (Sabesp) e pretende, em breve, encaminhar a privatização do Metrô e do que sobrou da CPTM (trens).

Diante do caos do apagão, o governador diz que o problema é que o contrato de privatização da antiga Eletropaulo foi “fraco”, mas que as privatizações da Sabesp, do Metrô e da CPTM vão ser feitas com contratos “fortes”. Isso é puro jogo de palavras e enganação.

O problema de fundo é que a privatização entrega, na mão de empresas privadas (muitas vezes estrangeiras, como no caso da Enel), serviços essenciais, como a distribuição de energia e de água. Essas empresas estão preocupadas em dar lucros, não em atender a população com qualidade. 

Existem exemplos de sobra, tanto nas privatizações em São Paulo como em outros estados e em nível federal, de que privatizar é bom apenas para os bilionários e péssimo para o povo trabalhador. O caso do apagão da Enel é mais um exemplo cabal desse fato.

Governo Federal 

Governo Lula também é responsável

A privatização da Eletrobrás, feita pelo governo Bolsonaro e mantida pelo governo Lula, entregou a produção de energia elétrica no país nas mãos dos mesmos parasitas do mercado financeiro que quebraram as Lojas Americanas. O apagão que atingiu 25 estados brasileiros em agosto passado é reflexo da privatização e do sucateamento do sistema elétrico nacional a serviço desses “investidores” privados.

Além disso, o controle e fiscalização da distribuição de energia nos estados é de responsabilidade do governo federal, através da Aneel. O governo Lula, através do Ministério de Minas e Energia, após o apagão em São Paulo, mandou que a Aneel apurasse se houve negligência e se é necessário que a empresa seja multada. Mas isso é absolutamente insuficiente. 

Urgente

Reestatizar toda produção e distribuição de energia no país

Não dá pra deixar um serviço tão essencial quanto a produção e distribuição de energia nas mãos de parasitas do mercado financeiro e de empresas estrangeiras. É preciso reestatizar a Eletrobrás e a Enel imediatamente. 

É mentira que a administração privada é mais eficiente que a administração pública. Quem deve administrar esses serviços essenciais são os trabalhadores e a população que usam os serviços. 

As tarifas exorbitantes que são cobradas podem, dessa forma, ser reduzidas e os lucros das empresas poderiam ser usados para a melhoria dos serviços, ao invés de só servirem para encher o bolso de meia dúzia de bilionários.