Após tarifaço, Trump dobra ameaça à soberania do Brasil
Ameaça militar se junta aos ataques políticos e econômicos para aprofundar espoliação e proteger golpistas e seu projeto de ditadura

Após a imposição da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, o governo Trump escalou seus ataques e ameaças contra a soberania do Brasil. Numa sequência de ofensivas contra autoridades brasileiras, que incluiu a revogação dos vistos de entrada a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Procurador-Geral da República (PGR) e suas famílias, o Departamento de Estado dos EUA, recentemente, suspendeu o visto de funcionários do governo brasileiro ligados ao Programa Mais Médicos.
A Lei Magnitsky, por exemplo, imposta contra o ministro Alexandre de Moraes, não foi um ataque individual, mas uma chantagem para que o STF livre Bolsonaro e os golpistas da cadeia. A Embaixada dos EUA deixou isso evidente ao afirmar que qualquer pessoa que “oferecer apoio material a violadores dos direitos humanos também podem ser alvo de sanções”.
Em português claro: qualquer um que defender punição aos que tentaram um golpe no Brasil (que eles tacham, cinicamente, de “violadores dos direitos humanos”) será alvo das sanções norte-americanas.

Navio anfíbio USS Fort Lauderdale, integrante do grupo de combate Iwo Jima da Marinha dos Estados Unidos. — Foto: Tenente-general Regina Gulli/Marinha dos Estados Unidos
Pressão militar
Essa mensagem veio após o STF dizer o óbvio: leis e decisões dos EUA não se aplicam ao Brasil. Mas o governo Trump discorda: “nenhum tribunal estrangeiro pode anular as sanções impostas pelos EUA”.
Ou seja, Trump se vê no direito de impor suas decisões por cima das leis e da Constituição do Brasil. E o que Trump deseja, além do aumento da espoliação e do roubo dos recursos naturais (como as terras raras), é a impunidade para Bolsonaro, para que ele fique livre para seguir sua agenda golpista.
Uma pressão que vai muito além do embargo econômico que, por si só, já seria um ataque inaceitável. No último mês, por exemplo, os EUA começaram a deslocar um conjunto de forças militares para o Sul, a princípio para o Mar do Caribe e, depois, para a costa da Venezuela. O reforço do chamado “Comando Sul dos EUA” conta com um submarino nuclear, aviões, contratorpedeiros e um cruzador de mísseis.
A justificativa para esse deslocamento de forças militares seria o “combate ao narcotráfico”. Lembrando que, recentemente, o governo norte-americano resolveu equiparar os carteis e quadrilhas criminosas ao “terrorismo” (inclusive as que atuam no Brasil), o que, em tese, legitimaria um ataque militar a qualquer país latino-americano. Adiciona-se a esse cenário as ameaças contra a Venezuela.
Isso não significa que os EUA vão invadir ou atacar militarmente o Brasil ou a Venezuela. Mas sobrepõe, aos ataques políticos e econômicos, uma pressão militar e uma chantagem em prol da exigência de que a América Latina, e também o Brasil, sejam o seu quintal.
Entreguismo
Extrema direita é agente direta dos ataques imperialistas dos EUA
Enquanto Trump dobra suas ameaças ao Brasil, a extrema direita reforça seu papel de quinta-coluna do imperialismo. O governo Lula, por sua vez, segue sua política de não impor reciprocidade ou fazer qualquer retaliação, atendendo à orientação de uma burguesia brasileira covarde e capacho dos EUA, e não consegue nem abrir negociação com o governo Trump.
O ministro Fernando Haddad, por exemplo, mesmo depois de ter aceitado entregar as “terras raras” ao imperialismo, assim como os “data centers” (a infraestrutura da Internet), em troca do relaxamento do tarifaço, teve uma conversa com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent cancelada em cima da hora. O motivo? O representante dos EUA foi convencido por Eduardo Bolsonaro a não negociar com o governo brasileiro enquanto seu pai estiver sendo processado pela tentativa de golpe.
O deputado, que está desde fevereiro nos EUA para tramar contra o Brasil, continua com seu mandato na Câmara dos Deputados, recebendo para conspirar contra o próprio país. Algo que, em qualquer país nos marcos de uma democracia burguesa, por mais subserviente que fosse, motivaria, no mínimo, a perda imediata do mandato. Ou, no caso dos próprios EUA, seria qualificado como crime de traição, o que pode dar até em pena capital.

Blogueiro da ultradireita, Paulo Figueiredo, secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent e Eduardo Bolsonaro
Divisão da ultradireita capacha
A atuação do bolsonarismo no tarifaço e a prisão domiciliar de Bolsonaro precipitou o acirramento da disputa da extrema direita, com vistas a 2026. Governadores como Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG), e, principalmente, Tarcísio de Freitas (SP) salivam sobre o espólio do bolsonarismo e tentam se colocar como alternativa eleitoral.
O botim não é pequeno, já que Bolsonaro mantém algo como 30% de sua base mais fiel. Neste quadro, estes setores acenam à burguesia para a vaga de fiel representante, que poderia dar fim à crise, acelerando a entrega, que já ocorre com o governo atual.
Tarcísio vem participando de uma série de encontros com empresários, banqueiros e líderes religiosos, tentando recompor o desgaste inicial provocado pelo tarifaço. No dia 18, foi ovacionado por uma plateia de banqueiros e empresários, defendendo entregar o que Trump quer. “Ele está querendo colecionar vitórias. Então, por que não entregar alguma vitória para ele? Por que não fazer algum gesto?“, discursou.
À noite, Freitas discursou numa igreja evangélica onde pregou que “a gente vai ter que impor ordem no Brasil”, fazendo desagravo a seu secretário de Segurança, o psicopata Guilherme Derrite, especialista em chacinar jovens e pretos da periferia.
Tarcísio, assim, ao incorporar o figurino bolsonarista, com o mesmo projeto entreguista, pró-imperialista, formatado numa alternativa autoritária, parece amealhar cada vez mais setores da burguesia e, inclusive, do mercado financeiro, que defendem uma via “à lá Milei” (da Argentina) no Brasil: choque ultraliberal e terra arrasada.
Governo Lula
Plano “Brasil Soberano” não garante emprego e abre caminho para redução de salários e direitos

Presidente Lula e seu vice e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin Foto VPR
O projeto do governo Lula “Brasil Soberano”, implementado via Medida Provisória, abrirá uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas que exportam para os EUA e foram atingidas pela taxação de 50% imposta por Trump.
O pacote de ajuda conta com uma série de benefícios, além do crédito, como compras governamentais de produtos que seriam exportados e o adiamento da cobrança de impostos.
Se os empresários, porém, estão sendo contemplados pela medida emergencial do governo, o mesmo não pode ser dito sobre os trabalhadores. Apesar de anunciar que as medidas estão condicionadas ao número de empregos, o pacote de ajuda, efetivamente, não proíbe demissões e, mais que isso, abre as portas para a redução dos salários e direitos. Ou até mesmo para a suspensão dos contratos de trabalho.
Órgão para flexibilizar empregos e direitos
A MP cria a “Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego”, que terá a função de “monitorar” o nível de postos de trabalho nos setores beneficiados, “propor” e “aplicar” medidas para “manter o emprego”.
Apesar dessa Câmara ainda prescindir de detalhamento, fica subentendido que a condição para o programa não é a proibição da demissão pela empresa que estiver recebendo o benefício, já que ela monitorará o nível do emprego no ramo e nas “cadeias produtivas” de exportação, não as empresas individualmente. Tampouco menciona as demissões que já ocorreram e estão ocorrendo por conta do tarifaço.
Mais grave ainda, esse órgão mediará e aplicará “negociações coletivas” para “manter o emprego” nos setores exportadores. Isso se assemelha ao programa emergencial aplicado durante a pandemia pelo governo Bolsonaro e que reduziu a jornada de trabalho e os salários em até 70%, em diversos setores. A própria MP do governo Lula reforça que, entre as medidas colocadas na mesa, estão o lay-off e a suspensão dos contratos de trabalho.
Exigimos do governo Lula
Nenhum emprego ou direito a menos. Demitiu, ocupou!
O governo Lula, além de capitular à burguesia nacional em não retaliar os EUA, está lançando um projeto para proteger os lucros das empresas exportadores, ao custo da flexibilização e da retirada de direitos e renda dos trabalhadores. Na prática, o governo estará financiando a redução de salários e a flexibilização de direitos.
Mais do que isso, esses R$ 30 bilhões de socorro às empresas pressionarão ainda mais por novos cortes em áreas sociais, devido ao Arcabouço Fiscal (teto de gastos para garantir o pagamento de juros aos banqueiros). Isso reforça que a luta contra o ataque imperialista de Trump deve se dar junto à luta pelo fim do Arcabouço Fiscal.
Os trabalhadores devem organizar a luta contra qualquer demissão ou proposta de redução de salários e direitos. A discussão e orientação das organizações dos trabalhadores deveriam ser exigir estabilidade no emprego, nenhuma redução de direito ou salário. Demitiu, ocupou!
Exigir, ainda, que o governo Lula aplique a Lei da Reciprocidade contra os EUA e que as empresas exportadoras que demitirem sejam estatizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores.
Lutar contra Trump, com independência de classe
Para enfrentar o imperialismo e defender os trabalhadores de forma consequente, no entanto, é necessário independência de classe frente ao governo e à burguesia, não apoiando politicamente o governo nem conciliando com a patronal, como fazem as organizações governistas.
O PSTU chama Lula e o PT a enfrentarem Trump. De verdade, e não apenas em palavras. E se o fizerem, estamos dispostos a fazer unidade de ação nesta luta. Mas, os trabalhadores devem garantir sua independência política e organizativa em relação à patronal e ao governo Lula, de alianças de classe com a burguesia.
O PSTU se propõe a estar na linha de frente contra os ataques de Trump, mas sem deixar de lado sua posição política, nem abdicar de ser oposição de esquerda e socialista ao governo Lula.
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