As lições do movimento estudantil na greve das Letras, na USP
João Pedro, do Rebeldia-SP
Na última segunda-feira (18), os estudantes da Letras da USP, juntamente com o Centro Acadêmico, e com participação da Juventude do Rebeldia, deram uma lição de como atuar numa luta estudantil para fortalecer o movimento. Neste dia, ocorreu uma antecipação da greve marcada no curso de Letras, em decorrência de uma medida autoritária do diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Paulo Martins, numa tentativa de desmontar o movimento (leia mais aqui).
Por outro lado, devido à forte mobilização do dia anterior na FFLCH, na terça-feira, após articulação e meses de cobrança por parte dos estudantes, a assembleia do DCE, que contou com a participação de mais de mil alunos de diversos cursos da USP (a assembleia mais cheia de todos os últimos anos) aprovou uma greve geral dos estudantes contra a falta de docentes e da sistemática precarização dos cursos de Ciências Humanas, Artes, Pedagogia, Comunicação, etc. Também foi aprovada a reivindicação da abertura do livro de contas por parte da reitoria, para que se explique onde o dinheiro da universidade está sendo destinado.
A aprovação da greve geral é um passo importante para a unificação das lutas estudantis e um forte impulsionador para mostrar à reitoria e às burocracias universitárias que a força da mobilização estudantil não deve ser desprezada. É preciso, porém, que os CAs garantam o envolvimento das bases dos cursos paralisados a fim de massificar ainda mais a luta, um passo importantíssimo no sentido de conseguirmos fazer com que as reivindicações sejam atendidas.
Vale lembrar que o CAELL (Centro Acadêmico da Letras) teve um papel de vanguarda na criação de um caldo de mobilizações na USP, convocando assembleias, diversas paralisações e reuniões com discentes e chefes de departamentos do curso como forma de organizar o movimento cuja insatisfação é motivada pelo sucateamento do curso e que pode ser vista nas universidades públicas de forma geral.
Além disso, o CAELL está tomando inciativas de participação e apoio dos e aos trabalhadores e funcionários da USP, assim como de outras universidades do estado, e setores em luta no sentido de fortalecer o movimento estudantil e do conjunto da classe trabalhadora.
A importância da luta na USP
O movimento na USP não é secundário. Tradicionalmente, no nosso país, as lutas estudantis precedem e são parte de lutas maiores da classe trabalhadora. Em geral os estudantes sempre estiveram na linha de frente nas lutas por diversos direitos e contra ataques às conquistas sociais. Por isso é fundamental o apoio e solidariedade que estamos recebendo como parte da aliança operário-estudantil tão importante de ser forjada. Incluindo a presença do dirigente mineiro ucraniano Yuri Petrovich, que em visita ao Brasil organizando a solidariedade internacional contra a invasão russa à Ucrânia, veio prestar seu apoio aos estudantes da USP participando da assembleia.
A importância dessa unidade está diretamente ligada à como o modo de sociedade capitalista funciona: os estudantes de hoje serão os trabalhadores de amanhã. Nesse sentido. é preciso fortalecer os processos de luta estudantis entendendo estes como parte processos de luta da classe trabalhadora em geral. Não é mera coincidência nos depararmos com um verdadeiro desmonte das universidades públicas, com terceirizações, sucateamento e piora das condições de trabalho e da qualidade do ensino. Isso é parte de um processo mais geral de ataque à classe trabalhadora e suas conquistas, e de um país cada vez mais decadente. Vale lembrar que, ao mesmo tempo que a USP enfrenta tal desmonte, os trabalhadores do metrô, da CPTM e da Sabesp lutam contra a privatização.
A única forma de conseguirmos barrar esse processo é através da luta unificada. Portanto, devemos seguir em frente lutando na USP, nos unindo com docentes, funcionário, sindicatos, associações e outros trabalhadores, para pressionar a reitoria a que as reivindicações estudantis sejam ouvidas, ao mesmo tempo que nos somamos às reivindicações de outros setores em luta, como os trabalhadores da Sabesp, Metrô e CPTM contra as privatizações. E ir além, nos unir enquanto motores da luta de classes e derrubar a lógica por qual atua o sistema que só favorece a burguesia.
Contratação na USP já!
Pela abertura do livro de contas!
Fora Reitor Carlotte!
Contra o desmonte nas universidades públicas!
Não às privatizações!