Nacional

As necessidades da classe trabalhadora não cabem na política econômica do governo Lula

Governo não enfrenta bilionários e sofre forte queda de popularidade

Redação

13 de março de 2025
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Brasília (DF), 12/02/2025 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participam da cerimônia que celebra um ano do programa Nova Indústria Brasil e do lançamento da Missão 6: Tecnologias de Interesse para a Soberania e Defesa Nacionais, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os recentes índices oficiais da economia, como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) ou a suposta redução do desemprego, mascaram a dura realidade enfrentada pela classe trabalhadora. O dia a dia das famílias é marcado pela alta inflação dos alimentos, a precarização do trabalho e jornadas extenuantes, agravadas pelas ondas de calor decorrentes da crise climática.

Não é contraditório, portanto, o salto na desaprovação do governo Lula e sua preocupação com as eleições. Desde o final de 2024, a rejeição vem aumentando, como divulgou o instituto AtlasIntel no dia 7 de março, com uma desaprovação de 53%.

Burguesia quer ainda mais ajuste fiscal e exploração

Lula promete uma série de benefícios aos trabalhadores, mas, na prática, atende a todas as vontades do mercado, caindo numa armadilha que ele próprio criou. Sua política econômica, voltada à defesa dos capitalistas, é o que tem provocado a queda em sua popularidade. Mesmo assim, a burguesia e o mercado financeiro exigem mais.

Aliados da direita, do centrão e da própria burguesia ameaçam abandonar o barco, enquanto a ultradireita se fortalece apesar da provável prisão de Bolsonaro. Já amplos setores bilionários capitalistas defendem ainda mais cortes, mas só para o lado do povo, uma vez que, para eles, querem ainda mais subsídios e isenções a fim de assegurar seus lucros. Em relação aos gastos sociais, exigem uma política à la Milei, um ultraliberalismo de terra arrasada, com austeridade severa e privatizações irrestritas.

Enfrentar os bilionários

O que é preciso fazer para conter a inflação dos alimentos e atender às necessidades dos trabalhadores

A fim de conter sua crise, o governo anunciou o fim da alíquota de importação de produtos como café, açúcar e carne. Mas essa medida não vai fazer o preço da comida baixar. Afinal, o problema é justamente que os alimentos produzidos aqui são cotados pelo preço internacional no mercado financeiro. Ou seja, até agora o governo nada fez de efetivo para reduzir o preço dos alimentos. Teme fazer algo para não se indispor com o agronegócio e a burguesia.

Se o Brasil produz carne e café, entre outros produtos no país, custeados em Real, pagando salários em Real, por que temos que pagar o café nas gôndolas dos supermercados em seu equivalente em dólar?

Aumento dos salários de acordo com a inflação dos alimentos

O governo Lula poderia propor um gatilho salarial automático de acordo com a inflação dos alimentos. A burguesia e sua imprensa vendida tremem só de ouvir a palavra “gatilho”. Porém é o mais justo: a cesta básica subiu 10% no período? O salário mínimo, incluindo aposentadorias e benefícios sociais, sobem 10% também.

Ao invés disso, a proposta do governo é instituir o crédito consignado aos trabalhadores da iniciativa privada. Ao fim e ao cabo, só vai endividar ainda mais as famílias e garantir mais lucros aos bancos, já que não há risco de inadimplência.

Tirar dos lucros das grandes empresas do agronegócio e da indústria de alimentos

Além de restituir os estoques reguladores, ou seja, estoques de produtos básicos e essenciais, sob controle do Estado, por meio da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), é preciso atacar os lucros dos grandes monopólios do agronegócio e das indústrias alimentícias, grande parte delas multinacionais que exploram seus trabalhadores e cobram preços exorbitantes. Ou seja, abrir os livros das empresas, para ver o quanto estão lucrando e exigir a redução dos preços dos alimentos no Brasil a partir da constatação que a maior parte do que estas empresas ganham vai para acionistas e bilionários internacionais.

Reforma agrária radical e expropriação dos grandes monopólios do agro

Segundo CPT, mais de 950 mil pessoas e cerca de 59,4 milhões de hectares de terra estiveram envolvidos em conflitos no ano passado | Foto: Mídia Ninja

Se as grandes empresas de alimentos e varejistas se recusassem a atender essas medidas, de forma a insistir em cobrar preços abusivos, enriquecendo à custa do povo, o governo deveria expropriar, sem indenização, estas grandes empresas, colocando os produtos à venda com um preço bem mais baixo, já que não precisaria pagar os lucros dos capitalistas.

O alto preço que pagamos pela comida é expressão da condição subalterna e semicolonial do Brasil. A produção não é voltada para alimentar a população, mas para encher os bolsos dos grandes monopólios que dominam a produção e o processamento de alimentos. São megaempresas como a JBS ou a estadunidense Cargill, que determinam o que é produzido, quanto é produzido e para onde vai tudo isso.

É preciso expropriar os grandes monopólios do agronegócio sob controle dos trabalhadores, realizando ainda uma reforma agrária radical, não só conferindo terra a quem precisa, mas oferecendo subsídios, linhas de crédito e apoio técnico. Dessa forma, assegura-se não só a sobrevivência das famílias camponesas, como é possível garantir comida barata e segurança alimentar para a população brasileira.

Demarcação e titulação das terras indígenas e quilombolas

Em Brasília, indígenas cobram do governo Lula a demarcação das terras | Foto: Maiara Dourado/Cimi

O atual modelo capitalista no campo, com a brutal expansão das fronteiras agrícolas, é responsável ainda pelo extermínio dos povos originários e quilombolas. Com a cumplicidade do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso Nacional, dominado pela bancada da bala e do boi, e a omissão do governo Lula, querem impor o famigerado Marco Temporal e avançar ainda mais o roubo dos territórios indígenas e o genocídio indígena.

É necessário lutar para enterrar de vez a tese do Marco Temporal, garantir a demarcação e a efetiva titulação de todas as terras indígenas e quilombolas, o que, além de garantir a sobrevivência dos povos originários, serve ainda para conter o desmatamento e o avanço de grileiros, mineradoras e garimpo, protegendo o meio ambiente. É preciso também proteger o Ibama, a Funai e todos os órgãos fiscalizadores dos direitos indígenas e do meio ambiente.

Fim da escala 6×1, com redução da jornada e revogação da reforma trabalhista

Ativistas protestam pelo fim da escala 6×1 na avenida Paulista, em São Paulo (SP)

Além da inflação dos alimentos, é preciso acabar com a jornada extenuante de trabalho. O movimento pelo fim da Escala 6×1 ganhou amplo apoio na sociedade, e por um motivo bem simples: ninguém aguenta trabalhar tanto para ganhar tão pouco.

A superexploração está ligada com a precarização do trabalho, com a uberização e demais trabalhos por aplicativos, que se transformou numa espécie de escravidão moderna disfarçada de empreendedorismo. Um levantamento da FGV Ibre mostra que a diferença salarial entre trabalhadores formais e informais caiu de 73% para 31%, e isso não significa que os informais e precários estão ganhando mais, mas que os trabalhadores de carteira estão recebendo menos, nivelando por baixo a classe trabalhadora.

 Sobretaxar as 200 maiores empresas do país para garantir redução do imposto para os trabalhadores

O governo fez reforma tributária para as empresas, mas nada de isenção no Imposto de Renda para os trabalhadores. A prometida isenção para quem ganha até R$ 5 mil, por sua vez, ainda não foi implementada. Tende a ter efeito limitado (caso seja realmente concretizada), já que, com a política de travar o reajuste do mínimo e não atualizar o restante da tabela, em pouco tempo cada vez menos trabalhadores ficarão nessa faixa de isenção. É preciso sobretaxar os bilionários capitalistas e os lucros das 200 maiores empresas do país para garantir redução do imposto para os mais pobres, os trabalhadores e os pequenos proprietários.

Reestatização das empresas privatizadas, incluindo a Petrobras 100% estatal

Em fevereiro, o preço dos combustíveis teve nova alta. Isso aumenta o frete e gera uma pressão inflacionária em toda a cadeia produtiva. O governo Lula poderia reestatizar a Petrobras (prevê-se a distribuição de R$ 9,1 bilhões em dividendos – lucro repartido entre acionistas – em abril próximo). É o povo pagando com seu suor o lucro de um punhado de bilionários.

A privatização do setor elétrico também vem fazendo da vida da população um verdadeiro inferno, como acontece com a Enel, em São Paulo, ou com a Equatorial, em Porto Alegre. É preciso reestatizar todas as empresas privatizadas, sem indenização, e colocá-las sob controle dos trabalhadores.

Fim do arcabouço fiscal, suspensão e auditoria da dívida pública

O sistema da dívida transforma o país num cassino global, onde megafundos financeiros pegam dinheiro lá fora a juros de 1% e “investem” em títulos da dívida recebendo 13,25%, a segunda maior taxa de juros do mundo. Agiotagem pura e simples, um processo de rapina financeira que suga as riquezas do país. O arcabouço fiscal está a serviço desse sistema.

É preciso acabar com o arcabouço, suspender o pagamento da dívida, impor uma auditoria, mas não só. Nacionalizar o sistema financeiro, colocá-lo sob controle dos trabalhadores, para que financiem projetos de infraestrutura para o país, e oferecer crédito barato para a população, e não para extorquir o povo como acontece hoje.

Enfrentar a crise, os ataques do governo e a extrema direita

É necessário organizar uma oposição de esquerda e socialista

O governo Lula diz que a aliança com o centrão e a direita é para evitar os perigos da ultradireita. Mas nesse momento é o governo que mais ajuda a extrema direita. Inclusive para garantir de fato nenhuma anistia a golpistas, é preciso enfrentar a burguesia.

O governo Lula não está em disputa. É integralmente defensor do capitalismo. Lula não liga de governar com e para os bilionários, mesmo que, com isso, se afunde numa crise cada vez maior e perca sua base, vendo a extrema direita se fortalecer para 2026.

É necessário levantar um projeto revolucionário e socialista, apresentando uma alternativa à classe trabalhadora e à juventude. Caso contrário, se a esquerda continuar refém de um governo capitalista como o de Lula, continuaremos descendo ladeira abaixo, com a volta da extrema direita muito mais fortalecida e sedenta por sangue.

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