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Belém (PA): O naufrágio da candidatura de Edmilson Rodrigues (PSOL) e o dilema da esquerda

PSTU-PA

30 de setembro de 2024
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Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL) tem a maior avaliação negativa entre todos os prefeitos de capitais | Foto: Divulgação

Edmilson Rodrigues (PSOL) é o candidato mais rejeitado da eleição em Belém (PA), o que expressa a avaliação negativa de sua prefeitura, a pior dentre as capitais brasileiras. Como já havíamos dito, com tal rejeição, seria pouco provável que chegasse ao segundo turno e caso chegasse, dificilmente venceria os principais candidatos.

Nas últimas pesquisas eleitorais, há uma tendência de queda na candidatura de Edmilson, que fica cada vez mais distante do segundo turno. Além disso, na possibilidade de um segundo turno onde o candidato do PSOL estivesse, perderia em todos os cenários para as principais candidaturas.

Por que a candidatura de Edmilson Rodrigues naufraga?

Na reta final do processo eleitoral, Edmilson corre contra o tempo para inaugurar o Mercado de São Brás, colocar 30 ônibus com ar-condicionado em circulação, pavimentar avenidas e reformar praças. Tudo para demonstrar que “trabalhou bem”, quando a verdade é que a população penou durante os quatro anos de seu governo, tal como nos prefeitos anteriores.

O lixo acumulado nas ruas; os alagamentos constantes no período das chuvas; os ônibus precários, incapazes de atender minimamente as pessoas com deficiência; o caos na saúde que levou funcionários à greve; a promessa não comprida de equiparar o vencimento base do funcionalismo ao salário mínimo; são alguns exemplos do verdadeiro fracasso do PSOL à frente da prefeitura de Belém.

Ao contrário do que o prefeito afirmou em algumas entrevistas, sua gestão não se enfrentou em nenhum momento com máfia de empresários de lixo ou de ônibus, muito pelo contrário, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel), que representa os interesses dos empresários de ônibus e que possui a concessão dada pela prefeitura, recebeu apoio de Edmilson e do governador Helder Barbalho (MDB), que deixaram de cobrar vários impostos municipais e estaduais para manter o lucro desses ricos empresários.

São milhões dados anualmente pelo governo do PSOL na forma de isenção do Imposto sobre Serviço (ISS) e da taxa de gerenciamento para que a população pobre, trabalhadora e periférica permanecesse com uma frota velha, quente e reduzida nos bairros periféricos durante quatro anos. Somente agora, com a proximidade das eleições, que houve uma correria para se garantir a circulação de 30 ônibus novos com ar-condicionado, o que, com certeza, não vai resolver o problema do transporte público para a classe trabalhadora das periferias, onde estes ônibus não vão rodar . Além disso, o passe livre para estudantes e desempregados, bandeira histórica do movimento estudantil e urbano, realidade em algumas cidades do país, simplesmente foi abandonada pelo PSOL enquanto gestão. Por isso, mais uma vez, os empresários têm a agradecer o favor!

Sobre o problema do lixo, Edmilson afirma que enfrentou uma “máfia”, contudo, nenhum empresário do ramo foi preso. Ao contrário, os contratos permaneceram, mesmo com os trabalhadores da limpeza tendo seus baixos salários atrasados. Na verdade, o que ocorreu foi que a prefeitura não pagou a empresa contratada, não fortaleceu as cooperativas de trabalhadores de coleta seletiva, não construiu um plano de desativação do aterro de Marituba, levando ao acúmulo de lixo na cidade e a reativação do lixão do Aurá.

Para solucionar o problema, em vez de mobilizar os trabalhadores contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e taxar os grandes empresários, o governo do PSOL só fez trocar uma empresa pela outra, ou seja, seis por meia dúzia, transferindo para a Ciclus Amazônia a bagatela de quase um bilhão de reais a ser pago nos próximos anos, via as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Assim, diferentemente de enfrentar os grandes empresários, mais uma vez serão estes os mais beneficiados com a garantia certa de altos lucros, mais uma vez, graças a Edmilson.

Assim, o prefeito não enfrentou as grandes empresas, nem do lixo, nem dos ônibus. A relação com os Barbalhos, que não teve uma oposição efetiva por parte do PSOL na Assembleia Legislativa, como tão pouco da última candidatura ao governo do Estado, que cumpriu um papel praticamente de laranja, revela a existência de uma aliança política com esta família latifundiária, amiga dos grileiros e grandes empresários da região que todo militante orgânico do PSOL tem conhecimento e que somente agora, nas vésperas da eleição, rompeu-se.

O naufrágio da candidatura do Edmilson é um resultado de suas alianças com os Barbalhos e os grandes empresários; com a frente ampla, no qual estão partidos da direita, além do PT e PCdoB, cujo governo federal aplica o Arcabouço Fiscal, medida que beneficia a banqueiros e bilionários. O fracasso da reeleição do PSOL está numa opção política estratégica: a de não mexer no lucro dos capitalistas. Ao contrário de seu slogan de campanha, faltou coragem e experiência para enfrentá-los.

Na prática, a gestão do PSOL em nada se diferenciou de qualquer outro governo burguês e não poderia ser diferente, pois a estratégia política do partido não é de ruptura com o sistema capitalista e com a institucionalidade burguesa, mas pela sua defesa. No máximo, o PSOL defende menos desigualdade social, mas sem romper com o modo de produção capitalista e a divisão social de classes, isto é, a fonte da própria desigualdade social. No limite, o PSOL se propõe a luta por “mais democracia”, mas sem romper com a ditadura dos grandes capitalistas que impõem compromissos a governos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a dívida pública. Deste modo, a esquerda do PSOL, no qual se encontra uma militância honesta, lutadora e socialista, encontra-se diante de um grande dilema.

 O dilema da esquerda do PSOL

Desde a sua fundação, o PSOL tem como estratégia a reforma social e não uma revolução. Contudo, quando assumem o poder numa cidade, como no caso de Belém, a contradição em reformar o capitalismo, torná-lo mais “humanitário” ou “democrático” entra em choque com a existência dos interesses irreconciliáveis de classe. Assim, a prefeitura do PSOL assumiu claramente um lado: chamou a tropa de choque contra trabalhadores em greve que ocupavam pacificamente uma secretaria ou em nome de uma tal “governabilidade” formaram um “pacto” com os Barbalhos, silenciando-se contra o seu governo, para citar dois exemplos.

Assim, quer se goste ou não desta ideia, a verdade é que o PSOL se tornou um partido da ordem capitalista. Neste sentido, a esquerda do PSOL vive um grande dilema: apoiar um candidato que governou contra os trabalhadores e o povo pobre das periferias, pois comprometido com os Barbalhos, a institucionalidade burguesa, as PPPs e os grandes empresários ou repensar a sua permanência nesse partido.

Respeitamos os lutadores, ativistas honestos e militantes socialistas que estão no interior do PSOL e fazem críticas à atual prefeitura. Entendemos os que estão apoiando candidatos a vereador como Fernando Carneiro, Vivi Reis ou Silvia Letícia, ainda que todos eles estejam chamando o voto em Edmilson, com alguns até defendendo publicamente o seu governo.  Todavia, uma reflexão se faz necessária: a eleição vai acabar, mas a necessidade de construir uma alternativa estratégica que supere o capitalismo a partir de uma revolução social continua.

A recente denúncia da ex-chefe do Núcleo Setorial de Assuntos Jurídicos da Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão (Segep), sobre os constantes assédios que ela e outras mulheres foram vítimas, com o conhecimento do secretário da pasta, Claudio Puty, teve o silêncio como reposta tanto da prefeitura, quanto de lideranças do PSOL, incluindo lideranças feministas. Além deste episódio ser um grave sintoma do fracasso de um partido na defesa da causa dos trabalhadores, particularmente das mulheres e setores mais oprimidos, corre-se o risco de se naturalizar estas ideologias.

Em nossa opinião, a maior ideologia que o PSOL naturaliza é a de que não é necessário uma revolução socialista, isto justificaria tanto alianças políticas com setores burgueses, como os Barbalhos, quanto o silenciamento de uma grave denúncia de assédio no ambiente de trabalho em nome de se garantir a  “governabilidade” e a “disputa eleitoral”. O grande problema é que esta ideologia leva a desmoralização das organizações de esquerda e, por consequência, na descrença da classe trabalhadora em si mesma. As candidaturas de Igor Normando (MDB) e Éder Mauro (PL), depois de quatro anos do PSOL, estão aí para comprovar isso.

Construir uma alternativa socialista

Construir uma alternativa da classe trabalhadora, com um programa revolucionário e socialista é uma tarefa estratégica que leva tempo, por isso, a tarefa é para ontem.

Nós, do PSTU, não estamos preocupados com números eleitorais, mas com a construção dessa alternativa. Neste sentido, cada voto em nossos candidatos fortalece essa estratégia, que precisa não só de votos, mas da atuação militante de todos aqueles que um dia já sonharam e continuam sonhando com o socialismo. Fazemos um chamado a todos os ativistas e lutadores do PSOL que compartilham deste mesmo sonho a vir construí-lo conosco!

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