Bolsonaro condenado e, enfim, preso! E agora?
Na manhã de 22 de novembro, um sábado, o país acordou com uma notícia que muitos aguardavam: finalmente Jair Bolsonaro ia para a cadeia por tentar um golpe de Estado e impor uma ditadura. O fato de sua prisão ter sido adiantada por ele ter violado a tornozeleira eletrônica com uma solda apenas confere um tom tragicômico às desventuras do golpista.
Três dias depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o cumprimento da pena do general Augusto Heleno, eminência parda do desgoverno Bolsonaro, além dos ex-ministros Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, este já em prisão preventiva. Do chamado “núcleo duro” do golpe, só Alexandre Ramagem não enfrentou cana, pois, como todo bolsonarista covarde, escafedeu-se para debaixo das asas de Trump, nos EUA.
Ainda que Bolsonaro já fosse visto como carta fora do baralho para 2026, sua prisão, assim como a dos oficiais golpistas, não deixa de ser um fato inédito no país, digno de toda a comemoração por parte dos trabalhadores e dos setores mais oprimidos que sofreram sob seu governo. No entanto, a ultradireita está longe de ter sido definitivamente derrotada, e segue disputando o país. Principalmente diante de um governo Lula que faz muito pouco para enfrentar os bolsonaristas, já que prefere as alianças com a direita e o centrão, ao mesmo tempo que mantém intactas as engrenagens do sistema capitalista que agrava as desigualdades sociais e alimenta a ultradireita.
Crise do bolsonarismo acelera reorganização da ultradireita
A prisão acelera a desmoralização do bolsonarismo. Primeiro, a tentativa de anistia fez água. Depois, Trump deu de ombros para a família Bolsonaro quando percebeu que não precisa dela para colocar as mãos nas cobiçadas terras raras, já que o próprio governo Lula as colocou na mesa de negociação, assim como o mercado de data centers, no contexto do tarifaço. Por fim, setores da própria extrema direita respiram aliviados, já que esse desfecho abre espaço para uma alternativa unificada para 2026.
As fileiras estão se cerrando em torno do nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas outras figuras estão no páreo, como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), Ratinho Júnior (PSD), ou, mais recentemente, Cláudio Castro (PL), que vem se projetando nacionalmente em cima da pilha de 117 mortos que sua polícia deixou na maior chacina da história do Rio de Janeiro – e do Brasil.

Governador Tarcísio de Freitas é homenageado por Arthur Lira Foto Marino Ramos/Câmara dos Deputados
Embora o governo Lula atenda a burguesia e o imperialismo em absolutamente tudo, um setor prefere uma alternativa ainda mais violenta, que junte um Milei (Argentina) na economia e um Bukele (El Salvador) na segurança pública. Isso significa um neoliberalismo sem freios que acelere a privatização e a entrega do país que o governo Lula já vem fazendo, pulverize políticas públicas e aplique uma política de extermínio e genocídio da juventude negra, com o encarceramento em massa, sem mediação.
Polarização
Para derrotar a extrema direita é preciso enfrentar o capitalismo
Tudo caminha para uma eleição polarizada em 2026. No entanto, ao contrário de 2022, essa polarização não se dará entre a manutenção das liberdades democráticas (ainda que restritas nessa democracia dos ricos) e uma ditadura aberta, mas sim em torno de projetos e um programa político. E a ultradireita conta com uma base consolidada para voltar ao poder.
Isso ocorre porque o que alimenta a extrema direita é justamente o processo de decadência, retrocesso e desagregação social pelo qual o Brasil passa. Processo este mantido pelo atual governo Lula, que impõe o arcabouço fiscal que corta gastos públicos para remunerar os detentores de títulos da dívida. Entrega cada vez mais o país, seja diretamente ou pelas Parcerias Público-Privadas (PPP). Impõe uma política econômica que mantém uma massa de trabalhadores no subemprego, na uberização, e uma ampla camada da juventude sem qualquer perspectiva de futuro.
Se o governo Lula aposta suas fichas no respiro momentâneo da economia e na limitada isenção do Imposto de Renda, cujo efeito tende a desaparecer com a inflação, a extrema direita se agarra ao discurso do enfrentamento da violência urbana, um problema real, que atinge em cheio a classe trabalhadora e é justamente fruto desse processo de decadência e desagregação.
Diante disso, o governo, e setores da esquerda como as correntes majoritárias do PSOL, defendem ampliar ainda mais a política de frente amplíssima, com setores da própria direita. É uma política de pisar no acelerador na beira do abismo.
Projeto revolucionário e socialista
Para derrotar a extrema direita, de forma definitiva, é preciso mudar as condições sociais e econômicas do país. E isso é impossível sem derrotar a política econômica do governo Lula, o arcabouço fiscal e parar a entrega do país ao imperialismo, seja o estadunidense, seja o chinês.
É necessário um programa da classe trabalhadora e uma alternativa revolucionária e socialista, de ruptura com o imperialismo, que unifique a classe trabalhadora e os setores oprimidos em torno a um projeto que garanta emprego, renda, terra, atacando os bilionários e os grandes monopólios que hoje dominam a economia do país.