Dia de luta da Consciência Negra reforça debate sobre violência policial e cobra reparação histórica
No mês de novembro, diversas manifestações e lutas contra o racismo e a violência do Estado se intensificaram no Brasil, em especial em relação à violência policial contra a população negra, pobre e das periferias. As recentes chacinas no Rio de Janeiro foram denunciadas, assim como a criminalização das comunidades de morros e favelas. A reparação histórica da escravidão foi um tema central em várias iniciativas, incluindo a COP30, na qual se destacou a luta pela titulação e regularização das terras quilombolas e indígenas. Ativistas reclamaram das incoerências nas políticas dos governos, que continuam a beneficiar grandes em presas em detrimento das populações mais vulneráveis e gerando caos climático.
Em São Paulo, capital, ocorreu a Marcha da Consciência Negra na Avenida Paulista, reunindo centenas de ativistas de diferentes organizações, partidos e movimentos de luta contra o racismo. “Estamos aqui para denunciar a violência do Estado contra a juventude negra e a população negra em geral”, afirmou Vera Lucia, da direção nacional do PSTU e da Secretaria de Negras e Negros.
Vera denunciou o PL Antifacção e a política de chacinas dos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Cláudio Castro (RJ), além de exigir do governo Lula políticas concretas em prol da reparação histórica da escravidão.
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Israel Luz, do Comitê Brasilândia em Luta, também denunciou a violência policial e exigiu justiça a jovens negros assassinados pela polícia, como Matheus Menezes. No próximo dia 29 de novembro, ocorre a XI Marcha da Periferia, na Brasilândia, sob o lema “Nossas vidas importam! Queremos Justiça, Saúde, Educação e Direito ao Futuro”.
Em Belém, capital do Pará, o 20 de Novembro foi marcado pela Marcha da Periferia 2025. A marcha reuniu várias organizações do campo e da cidade, que ocuparam as ruas do bairro Terra Firme, sob o lema “Reparações pelo Bem Viver da Periferia, Pelo Fim da Violência Policial e do Racismo”. “Enquanto lá do outro lado, os capitalistas debatem numa COP que não é a nossa, estamos aqui discutindo o racismo ambiental, que as periferias sofrem”, afirma Well Macedo, do PSTU.
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Em Porto Alegre, a manifestação “Povo Negro contra chacinas nas periferias e na Palestina” ocorreu na Esquina Democrática e reuniu diferentes grupos sociais. A atividade promoveu a luta contra o racismo como uma responsabilidade conjunta de negros e brancos da classe trabalhadora, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo.
Em São José dos Campos, um ato foi realizado em 20 de novembro, que incluiu apresentações culturais e distribuições de material informativo sobre a reparação. No dia seguinte, uma palestra destacou a importância da ancestralidade e a luta pelo fim do genocídio do povo negro.
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Na região do ABC Paulista, a IV Marcha da Consciência Negra abordou a necessidade de reparação histórica e combate ao racismo institucional, com a participação de diversos grupos e sindicatos. Durante a marcha, foram criticadas a violência policial e outras formas de opressão dirigidas à juventude e à população negra.
No Rio de Janeiro, a XIV Marcha da Periferia repudiou o genocídio da população negra e exigiu o fim das chacinas e das operações policiais. Os manifestantes pediram a responsabilização do governador do estado por crimes contra as comunidades, afirmando que a paz só será alcançada com a erradicação das raízes do capitalismo e do racismo.
Em São Luís (MA), o ato ocorre no próximo dia 30 de novembro. Será a XIX Marcha da Periferia, no Quilombo Liberdade. A concentração começa às 16h, no Viva da Fé em Deus.
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Internacionalismo
A luta de negros e negras no Brasil e no mundo
As manifestações também ocorreram em nível internacional, como no debate sobre os 50 anos da independência de Angola, em que foi discutida a necessidade de uma nova luta pela democracia e contra a ditadura do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Em Belo Horizonte, um seminário internacional sobre reparação da escravidão trouxe à tona a importância de entender a história da escravidão para enfrentar os desafios atuais. O ativista Elias Alfredo destacou: “A questão da reparação é crucial para restaurar direitos e melhorar as condições de vida do povo negro”. Ele enfatizou que “a libertação da população negra ainda não foi alcançada, tanto no Brasil quanto no continente africano, devido à persistência do imperialismo e das desigualdades”.
Elias também ressaltou a necessidade de titulação das terras quilombolas e o combate à exploração dessas áreas e dos recursos africanos.

Em Belo Horizonte (MG), seminário debate reparação da escravidão. Elias Alfredo, militante do PSTU, foi um dos debatedores
Brasília
Marcha das Mulheres Negras: suas lutas e contradições
No dia 25, milhares de mulheres negras de todo o Brasil participaram da II Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, ocupando a Esplanada dos Ministérios. Elas destacaram a necessidade de combater o racismo, a violência de gênero e a precarização da vida que afetam mulheres negras e pobres no país.
A marcha também pediu reparação histórica pela escravização, demarcação de territórios quilombolas e indígenas, além de melhores políticas de habitação, emprego, educação de qualidade e saúde.
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“Queremos construir uma marcha independente de governos, patrões e burocracias e que respeite nossa história”. Segundo Suzy Negrita, pedagoga, professora da rede estadual do Pará, do PSTU, Quilombo Raça e Classe e Movimento Mulheres em Luta, as participantes enfatizaram que desejam uma marcha independente de governos e patrões, ressaltando que o bem viver das mulheres negras da classe trabalhadora depende de uma reparação que desafie as bases do capitalismo e faça avançar a luta por uma sociedade socialista.
Suzy Negrita ainda relatou seu repúdio às condições a que algumas delegações foram expostas: “Durante a preparação da marcha, surgiram dificuldades, como alojamento insuficiente e uma organização excessivamente burocrática. Houve relatos de condições deploráveis, como estábulos sendo usados para alojamento. Isso gerou revolta entre as mulheres, que não aceitaram o desrespeito e reivindicaram a luta em respeito às suas ancestrais. A direção da marcha deve-se retratar urgentemente sobre essa situação inadequada de acolhimento”, disse. Finalizou emitindo solidariedade e exigência de respeito a todas as mulheres no evento.
Em resumo, as manifestações do Mês da Consciência Negra e eventos associados em novembro chamaram a atenção para questões de racismo, violência policial e reparação histórica, destacando a luta do povo negro no Brasil e sua conexão com as lutas ao redor do mundo. As atividades reforçaram a importância da justiça social e a luta contra a opressão em suas várias formas.