Cai popularidade de Lula. Afinal, não basta tirar o bode da sala
Precisamos unir as lutas e construir um novo projeto de sociedade
As pesquisas que apontaram queda na popularidade de Lula pegaram o governo de surpresa, por conta da melhora de alguns indicadores econômicos. O governo não se deu conta, porém, que quem está comemorando suas medidas são os vários setores burgueses, que estão vendo seus lucros atendidos, e que sua popularidade caiu de forma mais significativa na parcela mais pobre da população, inclusive muitos dos quais votaram em Lula.
Enquanto uma parcela da burguesia comemora a redução da inflação, no geral, e o agronegócio comemora exportações recordes, a inflação dos alimentos disparou e os trabalhadores e trabalhadoras têm dificuldade de comprar itens básicos, como arroz, feijão e legumes.
A ultradireita bolsonarista diz que isto está acontecendo porque o governo destrói e atravanca o agronegócio. Na verdade, é o contrário. O preço dos alimentos subiu por conta de como o agronegócio brasileiro funciona, a serviço dos lucros dos seus donos, em grande parte multinacionais. E o governo fez o gigantesco “Plano Safra” para garantir os lucros do setor. Sem contar o papel do agronegócio no desmatamento e no agravamento das condições climáticas.
Quebra de expectativas e reação dos trabalhadores
Lula reconheceu que o “governo está aquém” e que as pessoas tinham mais expectativa. Explicou-se dizendo que o primeiro ano do novo governo foi para corrigir o rumo do país, diante da desgraça que foi Bolsonaro. É verdade que o governo anterior era uma desgraça, mas é um fato igualmente inegável que a sensação das pessoas de que as coisas não estão indo bem também tem a ver com ações do próprio governo atual.
Os hospitais federais estão abandonados em meio à mais grave crise de dengue que assola o país. A Educação, por sua vez, passa por situação semelhante, assim como todo o serviço público, com reajuste zero neste ano, num momento em que o funcionalismo amarga anos de defasagem.
Os trabalhadores e trabalhadoras, porém, estão começando a reagir, como através da forte greve dos servidores das universidades e institutos federais ou da mobilização dos profissionais da Educação, que começa a ganhar corpo em todo o país.
Empresários festejam benesses dadas pelo governo
O governo anunciou bilhões de dinheiro público para o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas estes recursos vão acabar no bolso dos empresários. Os investimentos bilionários anunciados pelas montadoras multinacionais são muito comemorados pelo governo, como prova de que seu projeto de neoindustrialização estaria dando certo.
Mas os trabalhadores da Toyota, no mesmo dia que viram o anúncio de investimentos, descobriram que a fábrica de Indaiatuba (SP) seria fechada. No mesmo dia que anunciou R$ 7 bilhões em investimentos, o vice-presidente da General Motors disse que as demissões que estavam sendo realizadas “foram ajustes pontuais e que deram dor no coração”. Já os investimentos da BYD (a gigante chinesa na fabricação de carros elétricos) são promovidos com uma montanha de isenções e benefícios fiscais, transformando-se numa transferência de recursos públicos.
Lula vive negociando tudo com os empresários, mas não diz nada sobre estabilidade no emprego e aumentos de salário, diante da escalada dos preços, ou sobre a garantia de direitos. Estes investimentos não mudam a tendência de desindustrialização e decadência do país.
Podem até, ali na frente, gerar alguns empregos e crescimento econômico, mas quem mais se beneficiará com isso são os donos dessas grandes empresas multinacionais. Enquanto isso, o Brasil ficará mais dominado e subordinado aos países imperialistas e seus monopólios.
Pagando um preço pelas alianças
A queda da popularidade do governo abriu um debate sobre os rumos do país. Apesar de estarem em maus lençóis jurídicos, os bolsonaristas seguem com grande peso. A grande mídia, por sua vez, sempre ao lado de determinados setores da burguesia, prega mais ajuste fiscal, para beneficiar o mercado, e não cansa de dizer que falta ao governo mais acenos ao Centrão e aos banqueiros.
A verdade é que isso é tudo o que o governo Lula vem fazendo nesses 15 meses no Planalto, basta ver os acordões com Lira, a composição dos ministérios e sua política econômica. Impediu a descomemoração do golpe de 64 e, agora, costura um grande acordão para restaurar a credibilidade das Forças Armadas.
Não é falta de capitalismo o problema do governo Lula. Os bolsonaristas pioram sua imagem ainda mais, colocando a culpa em um suposto “socialismo” do governo do PT, que não existe.
O problema é justamente que o governo Lula se limita a tentar administrar as contradições do capitalismo nos marcos do próprio capitalismo. Isso, claro, sempre beneficia os bilionários capitalistas.
Junta-se a isso a conciliação com golpistas e está dada a receita que pode minar a popularidade de Lula, desmoralizar os trabalhadores e preparar a sobrevida da ultradireita bolsonarista.
Construir uma alternativa socialista nas lutas e nas eleições
A coisa é tão escancarada que, nas eleições municipais que estão se aproximando, em várias cidades o PT e os bolsonaristas apoiarão os mesmos candidatos. É a prova de que não adianta apoiar o governo do PT sequer para lutar contra a ultradireita, muito menos para enfrentar os bilionários capitalistas e lutar pelos interesses dos trabalhadores.
É necessário cercar de apoio as lutas em curso e defender a unificação delas, inclusive porque se enfrentam inevitavelmente com a política econômica do governo Lula. Mas só isso não basta. É preciso apontar um outro caminho, um projeto socialista e revolucionário, que enfrente os capitalistas e mude, de fato, a vida da classe trabalhadora e do povo.
Nas eleições municipais, mesmo sendo um jogo de cartas marcadas ditado pelo dinheiro, precisamos apresentar à classe trabalhadora um outro programa, que parta de suas necessidades e rompa com o capitalismo. Só assim, inclusive, podemos enfrentar a ultradireita, que se apresenta de forma hipócrita como “antissistema”, sendo que representam a parte mais podre dele.
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