Editorial

Editorial: Começar 2023 com o pé esquerdo, construindo a independência política da classe trabalhadora

Redação

2 de fevereiro de 2023
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O ano começou com um novo governo, com Lula e Alckmin tomando posse e, uma semana depois, também com uma tentativa de golpe bolsonarista, apoiada por militares. A tentativa foi frustrada. Mas é uma demonstração do perigo representado pela ultradireita, ainda mais quando sabemos que, mais pra frente, ela poderá tentar novas coisas como essa, pois alguns têm um projeto de ditadura.

Infelizmente, enquanto as ruas e o povo exigem que os envolvidos no golpismo sejam punidos “Sem Anistia” e, ao contrário do que a situação exige, a orientação do governo Lula passa por negociação com a cúpula das Forças Armadas e com peixes grandes do Bolsonarismo. Chegando até mesmo a apoiar, para presidência da Câmara, o Arthur Lira do orçamento secreto e protetor de Bolsonaro.

Antes, já era um absurdo, mas, depois do dia 8 de janeiro, é ainda pior manter Múcio como Ministro da Defesa. Este chegou a elogiar as manifestações na frente dos quarteis. Também é inadmissível deixar as Forças Armadas intactas. Tanto a cúpula quanto sua formação.

Enquanto isto, ocorreu uma reunião, com direito a um jantar em Brasília, que juntou do PSOL, de Boulos, até Eduardo Bolsonaro, passando por todo o Centrão e o PT.  O que foi discutido neste encontro tão heterogêneo quanto suspeito? Difícil acreditar que seja algo de interesse para os trabalhadores.

Ao contrário do que diz a imprensa ou mesmo o PT, conversar e construir acordões com a direita não são esforços efetivos na defesa da democracia. Pelo contrário, passar pano para golpista só ajuda os próprios golpistas. Fechar acordos com os bilionários e seus representantes só contribui para que eles fiquem mais ricos.

A única coisa que podemos constatar, com certeza, é que, apesar de ter gente que defende ditadura militar e outros que defendem esta democracia dos ricos, todos têm acordo em defender o capitalismo e os interesses das grandes empresas.

Exploração e destruição capitalistas correm solta

Enquanto isso, o povo segue sofrendo com baixos salários e até míseros 18 reais estão ameaçados no salário mínimo. Os serviços públicos seguem à míngua. Enquanto acordões são costurados com os ricos e poderosos, em Brasília, o garimpo ilegal segue devastando a Amazônia e os povos indígenas, gerando uma situação de genocídio e calamidade dentre os Yanomamis.

Os efeitos perversos do capitalismo na destruição do meio ambiente foram impulsionados por Bolsonaro, mas isso vem de muito tempo atrás e envolve vários governos.

Diante da catástrofe que foram os anos de Bolsonaro, não é à toa que há alguma expectativa dos trabalhadores e do povo, neste início de 2023. Lula sabe disso e, na posse, subiu a rampa com vários setores do povo brasileiro, representando os explorados e oprimidos desse país. O problema é que isso se contradiz com a própria composição e as políticas do governo.

Há ministérios com gente como Daniela Carneiro (do Turismo), ligada à direita e às milícias, no Rio de Janeiro. Além de representantes dos empresários nos ministérios ligados à economia, como Alckimin e Tebet. Mesmo Haddad já anunciou o que promete ser uma nova política de teto fiscal, para acalmar os capitalistas, e uma proposta de Reforma Tributária, para também agradar os setores patronais.

Os trabalhadores têm que ficar de olho. É preciso repudiar qualquer ameaça golpista. Mas também não é possível apoiar este novo governo de Lula. As alianças e as políticas que vêm sendo implementadas, a despeito das expectativas dos trabalhadores, estão em consonância com tudo que defendem Biden e os países imperialistas, que são os principais baluartes deste capitalismo mundial.

O governo, inclusive, vem fazendo o jogo dos países imperialistas ao apoiar a repressão do governo Boluarte, no Peru, permitindo o envio de armamento para lá, contra as manifestações populares.

Precisamos de organização, independência, lutas e um projeto socialista

Ao mesmo tempo, o governo chamou as centrais sindicais e os movimentos sociais para reuniões. Mas, longe de apresentar alguma medida para atacar os lucros dos capitalistas ou atender as reivindicações dos trabalhadores, na verdade, quer apenas que os movimentos apoiem o governo.

Os trabalhadores devem ser independentes do governo e construir uma oposição de esquerda, diferente do bolsonarismo. Para enfrentar o sistema e também a ultradireita é preciso que os trabalhadores confiem nas suas próprias forças. Não é possível que sejam prisioneiros dos capitalistas e do governo Lula-Alckmin ou de amplas alianças com os bilionários e a própria direita.

Neste ano que começa, os trabalhadores e trabalhadoras, para garantirem suas necessidades, precisam lutar, exigindo suas reivindicações do governo. Mas não só isso. Diante da permanente recusa dos governos, ao longo dos anos, em atender o povo e, pelo contrário, garantir os lucros dos ricos, fica evidente que nossa luta se choca com o próprio sistema capitalista.

Inventam sempre mil desculpas para manter tudo do jeito que está. Dizem que aumentar o salário mínimo para o calculado pelo DIEESE (por volta de 6 mil reais), quebraria o país. Mas, quando os bilionários quebram uma empresa como as Americanas, por conta das suas falcatruas para sugarem bilhões em riqueza, ameaçando, agora, demitir 40 mil trabalhadores, é ao Estado e ao não pagamento aos bancos que estes senhores recorrem para seguirem ganhando dinheiro.

Precisamos lutar por nossas reivindicações e, também, entender que é preciso mudar esse sistema. Pra isso é preciso que cada luta esteja a serviço de um projeto de país construído pelos trabalhadores, o que não passa nem pelo governo do PT e muito menos por Bolsonaro e a ultra direita.

Lutando, debatendo, melhorando sua organização e aumentando sua consciência, os trabalhadores e trabalhadoras podem tudo. Isso se concretiza na construção de um programa socialista e no fortalecimento de um partido revolucionário; construindo, assim, efetivamente, uma alternativa socialista e revolucionária para o país, que supere esta polarização entre os setores burgueses que atravessa o país.