Educação

Em votação histórica, FFLCH-USP aprova por ampla maioria a renúncia do convênio com a Universidade de Haifa (Israel)

Faculdade pede que a USP estenda o rompimento a todos os acordos com instituições israelenses

Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

23 de outubro de 2025
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Congregação da FFLCH-USP em votação pela ruptura com a Universidade de Haifa

A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) aprovou, na tarde desta quinta-feira (23), a renúncia do convênio com a Universidade de Haifa (Israel). A proposta foi aprovada por 46 votos a favor, 4 contrários e 4 abstenções, em uma das deliberações mais expressivas e simbólicas da história recente da unidade.

Com a decisão, a FFLCH torna-se a primeira unidade da USP a romper oficialmente um convênio com uma instituição israelense, em resposta às denúncias de graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado de Israel contra a população palestina. A medida agora será encaminhada ao Conselho Universitário da USP, com recomendação de extensão do rompimento a todos os convênios da universidade com instituições israelenses envolvidas com políticas de apartheid e ocupação.

O relatório que embasou a decisão destacou o papel da Universidade de Haifa em programas militares e de segurança israelenses e denunciou o escolasticídio — termo usado por pesquisadores e organismos internacionais para descrever a destruição sistemática das universidades e escolas palestinas em Gaza. Segundo a ONU, todas as universidades da Faixa de Gaza foram destruídas ou gravemente danificadas, e milhares de estudantes e professores foram mortos desde o início da ofensiva israelense.

Foi uma vitória da ética sobre a omissão”, declara João Conceição, representante discente da Comissão de Cooperação Internacional da FFLCH, integrante do Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP-USP) e militante do PSTU.

A universidade pública brasileira não pode ser cúmplice de quem transforma o conhecimento em instrumento de guerra. Hoje, a FFLCH deu um passo histórico e a USP deve seguir o mesmo caminho”, completa.

Durante o debate, membros da Congregação refutaram os argumentos de que a medida limitaria a liberdade acadêmica. O relatório aprovado reafirma que o boicote é institucional, e não individual: visa suspender relações com entidades que participam ativamente da máquina de repressão, sem impedir o diálogo entre pesquisadores.

A universidade não pode se esconder atrás da neutralidade enquanto o conhecimento é usado para destruir vidas”, declara Maria Clara Araújo, diretora do CAELL (Centro Acadêmico do curso de Letras) e do DCE Livre da USP, militante do Coletivo Rebeldia.

Romper com Haifa é proteger o verdadeiro sentido da universidade: um espaço de pensamento livre e de defesa da dignidade humana”, diz Maria Clara.

Trabalhadores da USP

O relatório também mencionou o sequestro dos trabalhadores da USP, Magno Carvalho e Bruno Gilga, por forças israelenses em águas internacionais, durante a missão humanitária Global Sumud Flotilla. Para os representantes discentes, o episódio simboliza que o conflito deixou de ser distante: “Quando funcionários da USP são sequestrados, o silêncio institucional se torna cumplicidade”, afirma Conceição.

A decisão da FFLCH ecoa precedentes recentes de universidades brasileiras — Unicamp, UFF e UFC, que também romperam convênios com instituições israelenses em 2025 — e segue uma tendência internacional que inclui universidades da Noruega, Estados Unidos e Países Baixos. Assim como no boicote acadêmico ao regime de apartheid na África do Sul, reconhecido pela ONU como um ato legítimo de resistência ética, a medida da FFLCH reafirma o papel da universidade como agente de responsabilidade social.

O que a FFLCH fez hoje foi dizer, com todas as letras, que a neutralidade diante do genocídio é impossível. A universidade tem que escolher entre o silêncio e a vida. Escolhemos a vida”, finaliza Maria Clara.

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