Lutas

Entrevista: “Temos que aprovar greve geral da Educação contra os ataques do Tarcísio de Freitas”

O 'Opinião Socialista' conversou com a professora Flávia Bischain, coordenadora da Apeoesp – Subsede Oeste/Lapa e militante do PSTU

Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

23 de abril de 2025
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Professora Flavia, militante do PSTU e coordenadora da Apeoesp – Subsede Oeste/Lapa | Foto: Maisa Mendes

Nesta sexta-feira, 25/4, as professoras e os professores da rede estadual de São Paulo irão paralisar contra o projeto de privatização e militarização das escolas, que vem sendo imposto pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O Opinião Socialista conversou com a professora Flávia Bischain, que é militante do PSTU e ativista do Coletivo Reviravolta na Educação, de oposição à direção majoritária da Apeoesp (sindicato da categoria). Flávia também é coordenadora da Apeoesp – Subsede Oeste/Lapa e integra a Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

Na entrevista, a Professora Flávia pontua os ataques do governador à Educação, assim como os ataques do prefeito da cidade São Paulo, Ricardo Nunes (MDB);; ressalta com o Coletivo Reviravolta na Educação vem construindo a greve no chão das escolas e defende a construção de uma greve geral do setor para derrotar Tarcísio de Freitas, contra a proposta de greve por 24 horas, apresentada pela direção majoritária da Apeoesp, unindo com greve a greve dos trabalhadores da educação municipal da cidade de São Paulo.

Flávia finaliza chamando a unidade da categoria para ir à luta e obter uma vitória. Leia abaixo:

Quais são as reivindicações dos professores e professoras da rede estadual?
A pauta central da greve é a luta contra a privatização e a militarização das escolas. O Tarcísio quer impor, goela abaixo, o projeto de militarização, fez uma consulta pública completamente controlada pela Secretaria de Educação, sem transparência, e a apuração sequer foi divulgada. É um projeto que vai aumentar o autoritarismo e o controle do governo sobre as escolas.

Os trabalhadores da educação municipal de São Paulo estão em greve. Você defende a unificação da luta?
Apoiamos a greve dos trabalhadores da educação municipal de São Paulo contra os ataques do prefeito Ricardo Nunes, que também quer privatizar as escolas e punir os professores readaptados, além de propor um reajuste abaixo da inflação.

Defendemos a unificação das lutas no estado e no município, para que possamos construir uma grande greve geral da educação. O mesmo deveria ser feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), unificando as lutas em todo o país para enfrentar o projeto privatista, o Novo Ensino Médio e defender a valorização salarial dos professores e funcionários das escolas. Também é importante somar forças com os estudantes e o movimento estudantil. Só assim conseguiremos impor derrotas significativas aos governos.

Como a militarização se combina com o projeto de privatização?
Com o controle autoritário das escolas, o governador vai avançar com o processo de privatização, que favorece seus amigos empresários da Educação. Ele conseguiu derrubar, na justiça, a suspensão dos leilões que privatizam a gestão e a construção de 33 escolas. Em novo edital, anunciou a privatização de mais 143 escolas.

Quais são as condições de trabalho sob o governo Tarcísio?
A privatização e a militarização se combinam com o avanço da precarização das condições de trabalho. O governador não paga o Piso do Magistério e busca manobras para seguir com essa situação. Publicou um decreto anunciando um abono complementar para quem recebe abaixo do piso. Assim, transformou o piso em teto salarial, nivelando todos pelo salário mais baixo, não levando consideração o tempo de serviço e nem a formação de cada professor.

Nesse sentido, a luta é em defesa do conjunto da Educação?
Isso. Não é uma luta apenas pela pauta econômica, o que já seria uma luta justa. Mas é uma luta contra um projeto reacionário de educação. Estamos em uma situação em que a escola virou uma bomba relógio. Os alunos não estão aprendendo nada com as plataformas digitais, com conteúdos controlados por setores empresariais. Os professores estão frustrados porque não conseguem ensinar. A plataformização se apoia no Novo Ensino Médio (NEM), mantido pelo governo Lula, que incentiva a educação mediada por tecnologia. Isso se combina com fechamento de salas de aulas, com o turno noturno e com as turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Como está sendo construção da greve e a postura da direção da Apeoesp nesse processo?
Nós, do Coletivo Reviravolta na Educação, estamos construindo a greve no chão das escolas. Estamos chamando os professores e professoras a participarem da assembleia, no dia 25 de abril, e votarem a greve por tempo indeterminado. A direção estadual da Apeoesp, que é ligada à CUT, à Articulação Sindical do PT e ao PSOL, defendeu e aprovou apenas uma greve de 24 horas, o que é insuficiente para derrotar os ataques do governador Tarcísio.

Como a categoria está muito insatisfeita com tudo o que vem sofrendo, avaliamos que é possível realizarmos uma assembleia grande e impor uma greve de verdade. Só assim, com uma greve forte, por tempo indeterminado, de forma unitária, com os estudantes e com outras categorias em luta, como os professores municipais, poderemos derrotar o projeto reacionário, neoliberal, capitalista do governo de São Paulo.

Sabemos do desafio que temos, porque a categoria está fragmentada e dividida pelo governo. Temos que unificar a categoria em cima das pautas reivindicatórias, como a efetivação dos contratados e a garantia dos direitos iguais a todos os professores e professoras. Estas são questões que nós, da oposição, sempre defendemos em todos os espaços e fóruns do Sindicato. Agora, vamos levar essas bandeiras para nossa greve.

Qual o recado que você deixa à categoria?
O recado que deixo é que, embora os desafios sejam grandes, com a divisão da categoria imposta pelo governo, eles não são instransponíveis. Temos dois exemplos importantes e recentes.

O primeiro, a luta dos indígenas e professores do Pará, que impuseram uma derrota ao governador Helder Barbalho (MDB) e secretário Rossieli, que é ex-secretário de Educação de São Paulo, impondo a revogação de uma lei aprovada contra a Educação Indígena e a carreira dos professores.

O outro exemplo é a luta dos trabalhadores de aplicativos, os entregadores, que, apesar de não terem estabilidade, realizaram recentemente uma forte greve nacional de dois dias. Temos que seguir esses exemplos e construir uma forte greve geral da Educação. Temos que exigir da direção da Apeoesp que leve essa luta até o fim e não desvie da nossa pauta, em nome de acordos políticos com a Frente Ampla. Não se pode priorizar os acordos no parlamento em detrimento da luta e dos interesses dos trabalhadores.

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