Negros

Escravismo e abolição no Brasil

Não haverá liberdade plena sem destruir o capitalismo   

Alexandre Solórzano, de Manaus (AM)

28 de maio de 2025
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Homem carregado em uma liteira por escravos. Fotografia de George Leuzinger, Manaus, Amazonas. 1860

A exploração do proletariado oprimido é da natureza do sistema capitalista. O capitalismo se ergueu sobre o suor e o sangue dos povos nativos americanos e os negros e negras violentamente traficados do continente africano. Os piratas e comerciantes europeus se enriqueceram e os nobres e burgueses daquele continente também, com base no derramamento de muito suor e rios de sangue de indígenas, negros e negras de nossa América e de nossa Amazônia. 

Segundo alguns historiadores as baionetas e espadas dos colonizadores europeus jorraram o sangue de cerca de 70 milhões de nativos em toda a América. Cerca 13 milhões de negros embarcaram violentamente, saídos da África. Destes 1,8 milhões morreram na travessia. Cerca de 5 milhões chegaram ao Brasil com seus dramas, suas dores e todo tipo de violência diariamente sofrida pelos empresários do tráfico. O capitalismo se alimenta da exploração do trabalho humano, da sua classe mais numerosa em todos os seus tons de pele. Mas amplia sua mais-valia sobre as costas de negros, negras e das minorias oprimidas. Ao mesmo tempo, reserva os piores lugares sociais para essa classe.

A desigualdade escolar e do trabalho no Amazonas 

O primeiro drama expressivo se apresenta como um reflexo a mais do processo de exploração do trabalho, da espoliação do tempo das negras e negros para o obter o conhecimento, que é a negação da escolarização das pretas e pretos de nossa região. O Distrito Industrial de Manaus é um exemplo disso. Por que não há CEO’s pretos ou pretas dirigindo as empresas multinacionais locais? Isto está diretamente ligada à histórica negação da escolarização da gente negra. 

Longe de afirmar aqui, que, se uma negra ou um negro gerenciasse uma grande fábrica do Parque Industrial de Manaus deixaria de existir a exploração, o racismo, a discriminação, a violência do trabalho contra o operariado dessa ou daquela unidade produtiva. O que está em questão é a negação da escolarização da classe trabalhadora, e em particular de pretas e pretos, que é parte do racismo explícito, encarnado no processo de submissão ao trabalho e na divisão de quem deverá fazer o trabalho intelectual e quem fará o trabalho manual. De quem deverá receber altíssimos salários e de quem deverá ganhar 1, 2, 3, 4 ou no máximo 5 salários mínimos (salário mínimo oficial).

Portanto, há um racismo escolar claro e real na sociedade capitalista. No estado do Amazonas isto não é diferente. São os filhos de pretas e pretas das periferias, das pequenas cidades do Norte e Nordeste brasileiro que frequentam as escolas públicas, porém, não reúnem condições sociais, econômicas, nutritivas, psicológicas para alcançar o mínimo ou a média do conhecimento oferecido pela estrutura escolar, que não apresenta nenhuma alternativa para superar os aspectos dessa ordem de problemas. Por isso, o seu rendimento foi, é e será abaixo do nível da escola controlada por ministros, secretários/secretárias –  pretos/pretas, brancos/brancas, representantes dos governos e da estrutura do Estado capitalista. 

A desigualdade de renda e do trabalho no Amazonas 

Para mostrar que o racismo é parte do DNA do sistema capitalista é só observarmos a contradição existente nas relações de trabalho e do assalariamento. O IBGE aponta em pesquisa que, em 2021, a renda média do trabalhador branco foi 75,7% maior do que a dos negros. Neste levantamento, os trabalhadores brancos ganhavam, em média, R$ 3.099,00. Os negros ganhavam, em média, R$ 1.764,00. Os trabalhadores pardos ganhavam, em média, R$ 1.814,00. 

Os herdeiros da Casa Grande não perderam os valores dos seus ancestrais, os senhores de escravos. Sua mentalidade escravocrata está entranhada nas relações de trabalho entre os bilionários que aumentam seus lucros explorando a mais-valia e se aproveitando da condição da cor da pele de negros e negras, em todo o país. 

Entretanto, o que os grandes empresários e as multinacionais praticam aqui no Polo Industrial de Manaus, nos canteiros de obras e no comércio não é diferente do restante do Brasil. Assim, como os números da desigualdade estão estampados no processo educacional, no mundo do trabalho não é diferente. No Amazonas a população apta ao trabalho é de 174.809, de acordo com o IBGE-2023, destes 97,919 é mão de obra preta ou parda de acordo com este instituto de pesquisa. Do quadro de 174.809, em idade de trabalhar, são trabalhadores sem instrução ou não possuem o Ensino Fundamental completo, brancos: 18.684 – pretos e pardos: 33.559; Possuem Ensino Fundamental completo e Ensino Médio incompleto, brancos:10.945 – pretos e pardos: 17.934; Possuem Ensino Médio completo e Ensino Superior incompleto, brancos: 26.936 – pretos e pardos:35.830; Possuem Ensino Superior completo, brancos: 18.126 – pretos e pardos: 10.596.

Estas são as primeiras marcas da desigualdade. 

Esses dados revelam que a classe trabalhadora não foi inteiramente libertada das correntes da superexploração do trabalho. Mais que isso, a negação escolar, somada ao plano de privatização da educação e a imposição da escala 6X1 por parte dos bilionários: herdeiros da Casa Grande e de toda burguesia brasileira e multinacional, revelam não somente o racismo destes capitalistas, mas também, a guerra aberta entre a classe trabalhadora e esses bilionários. É mais profundo. Apesar da pesada luta que a classe trabalhadora brasileira tem empenhado historicamente por direitos, esses números refletem a história da colonização, da negação ao trabalho, da negação de condições dignas de trabalho, a uma jornada de trabalho democrática. Refletem também como estamos distantes da reparação da barbárie escravagista. 

Isto explica também que as mesmas famílias que submeteram milhões de escravos no Brasil, são as mesmas que hoje negam acabar com a escala 6X1. E se depender dos deputados e senadores do “centrão”, da direita ultraliberal/ bolsonarista, todos capachos dos bilionários e do agronegócio, o fim da escala 6X1 não acabará. Muito menos se depender do governo. Lula diz que é a favor do fim da escala 6X1, no entanto, não fez e nem enviou nenhum projeto para o Congresso Nacional para coerentizar a sua palavra. Por isso, não podemos dar nenhuma trégua aos bilionários deste país. Do mesmo modo, precisamos exigir o empenho do governo Lula pela aprovação do fim da escala da morte e do adoecimento. Exigir também aos parlamentares do PSOL que parem de fazer corpo mole, e coloquem de verdade seus mandatos a serviço dessa luta.

É necessário superar esse sistema de horror dos bilionários 

Devemos, portanto, responder com a organização da luta, unificar as lutas do movimento negro. Tornar a luta do movimento negro completamente independente, a partir de um ponto de vista de classe. O movimento negro precisa se aliar ao movimento do operariado, do proletariado e de todo o povo pobre para ecoarmos juntos um real grito de liberdade, para impor juntos o fim do capitalismo, o  fim  do  sistema  dos bilionários  e  impor  uma  sociedade socialista.

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