Juventude

Estudantes de Letras dão o pontapé das mobilizações estudantis de 2025 na USP

Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

7 de abril de 2025
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Maria Clara Araujo e Ana Paula Rocha, do Rebeldia Letras

Na última quinta-feira, estudantes do curso de Letras da Universidade de São Paulo paralisaram o curso. As principais demandas são relacionadas à crise ambiental e falta de climatização nas salas de aula e bandejões, falta de frotas de ônibus circulares no campus, saúde mental, acessibilidade e segurança.

O CAELL, centro acadêmico do curso, do qual o Rebeldia faz parte, impôs duas reuniões muito importantes com a pressão da paralisação. Na quarta-feira, dia em que a aprovação da paralisação foi referendada por mais de 200 estudantes em assembleia, membros do CA reuniram-se com a prefeitura do campus para exigir melhor mobilidade, maior frota de circulares, acessibilidade para estudantes PcD e segurança para mulheres e LGBTs. Na quinta-feira, a reunião aconteceu com a direção da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas); foram colocadas demandas pela climatização adequada das salas de aula, com instalação de ventiladores e ar-condicionados, pela elaboração de um protocolo da unidade em relação aos dias de emergência climática, além de um protocolo de saúde mental que combata a psicofobia e o capacitismo. 

Cabe citar que essa mobilização e as conquistas são inéditas, ainda mais diante da paralisia do DCE (Diretório Central dos Estudantes), composto pelos coletivos Correnteza, Juntos e Afronte, que sequer chamou uma assembleia geral da USP até agora, mesmo com todos esses problemas acumulados. 

O centro acadêmico e a força da mobilização conquistaram compromissos importantes dessas instâncias:

-Aumento da frota de ônibus: a prefeitura do campus se comprometeu a discutir a ampliação da frota de circulares de 18 para 21 com a SPTrans, além de analisar a viabilidade de disponibilização de bicicletas para uso da comunidade universitária no trajeto universidade-metrô.

-Acessibilidade: implementação de transporte especializado para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida para chegar do metrô à universidade, a partir de maio.

-Iluminação noturna: a prefeitura se compromete a dialogar com os coletivos anti-opressões auto-organizados para pensar os locais prioritários para melhorias na iluminação e mais segurança.

-Crise climática: serão instalados 150 novos ventiladores na FFLCH e 13 ar-condicionados na Letras entre abril e maio. Ainda nesse semestre, a direção da unidade elaborará um protocolo para flexibilizar a cobrança de presença em dias de anormalidade climática.

-Saúde mental: recentemente, o Conselho de Graduação da USP soltou um protocolo sobre exercícios domiciliares que negligencia casos de saúde mental; diante disso, a diretoria se comprometeu a elaborar um protocolo para a FFLCH, com a participação de estudantes, que não seja psicofóbico nem capacitista.

Essas são vitórias importantes e dão o pontapé para as lutas que devem ser travadas pelo movimento estudantil em 2025, sem confiança nas instâncias burocráticas da universidade, com a força da auto-organização estudantil e um movimento independente de reitorias e governos.

Assembleia dos estudantes de Letras

Os problemas da USP são resultado de um projeto de Universidade 

A temperatura chega a níveis recordes a cada nova semana – não à toa populariza-se o termo “saunas de aula”. Quando chove, a cidade para: alagamentos e deslizamentos afetam principalmente as periferias; o transporte público, alvo da privatização e da precarização de Tarcísio e Nunes, vira um caos. A ansiedade climática começa a afetar a todos, somando-se às doenças e aos transtornos mentais que assolam a juventude trabalhadora em massa.

As salas de aula e os restaurantes universitários sem climatização, as filas enormes para pegar ônibus circulares abarrotados, as filas para almoçar e jantar, a chuva e o calor intensos tornam insuportável a experiência da universidade pública – isso depois de os estudantes terem enfrentado o filtro social e racial que é o vestibular. Mas mais do que isso: a crise climática escancara qual é o projeto político em que a universidade e a educação públicas estão fundadas e a que servem.

A título de exemplo, a USP foi fundada para atender aos interesses da elite cafeeira de São Paulo. É certo que nos dias de hoje o cenário político é diferente, mas a universidade e a educação públicas seguem servindo ao mesmo projeto político: atender aos interesses do capital, da iniciativa privada, de empresas de tecnologia e do agro, que dão o tom às políticas privatistas e de precarização dos governos estaduais como o de Tarcísio, parte da extrema-direita que tem um projeto constante de ataque às universidade públicas, mas também do governo federal Lula-Alckmin, que corta cada vez mais da educação para dar aos bilionários e ao agronegócio.

É por isso que o conhecimento que a juventude trabalhadora, periférica, negra, indígena, feminina e LGBTQIA+ produz nas universidades públicas não é “devolvido” para a sociedade de conjunto – para a classe trabalhadora. A produção de conhecimento nas universidades está refém, muitas vezes, dos interesses da iniciativa privada – e são esses os projetos que mais recebem financiamento.

A USP, por exemplo, tem o projeto de criar um “Vale do Silício” paulistano; para isso, a universidade cede sua estrutura e o trabalho intelectual dos estudantes para empresas como a farmacêutica Libbs. Mas vai além disso: a universidade financia essas empresas e seus projetos. No final das contas, uma quantidade milionária de dinheiro que poderia melhorar a universidade para os estudantes é destinada para aqueles que nos exploram em jornadas de trabalho cada vez mais extenuantes e nos impõe a informalidade do trabalho.

Outro exemplo: os convênios e acordos com universidades israelenses escancaram o quanto a universidade se preocupa mais em se alinhar a instituições internacionais sionistas (como a Universidade de Haifa, que abriga programas de desenvolvimento militar e científico para o genocídio do povo palestino) que produzir conhecimento pela libertação dos povos oprimidos ao redor do mundo. E não há dúvida: tem alguém que sai lucrando (literalmente) nessa conta.

É por isso que o problema das salas quentes e dos ônibus lotados vai muito além de ser um problema isolado, num vácuo político. A reitoria da USP tem um caixa bilionário, mas de onde vem e para onde vai esse dinheiro? Definitivamente, não para garantir que os jovens trabalhadores passem pela universidade pública sem se sentirem ainda mais esmagados e violentados pela vida. Agora, a crise climática escancara todos esses problemas estruturais da universidade, da falta de climatização dos prédios à incapacidade de desenvolver uma política de acolhimento para saúde mental – problemas que não deixam de estar conectados com a lógica de como a própria cidade funciona, e que sentimos seus efeitos cada vez mais catastróficos no nosso dia-a-dia.

A Letras mostra o caminho: enfrentar a elitização da Usp e defender a classe trabalhadora estudantil!

A paralisação realizada pelos estudantes de Letras da USP é uma vitória política e um importante passo para o movimento estudantil nesse ano porque coloca em evidência o estado de emergência em que vivemos, ao qual o capitalismo nos submete e nos obriga a aceitar como se fosse essa a única realidade possível. Por isso a conquista dos protocolos climático e de saúde mental, por exemplo, são tão fundamentais. E essas conquistas devem impulsionar uma luta que é ainda mais geral. Porque poderia-se exigir apenas e isoladamente a instalação de mais ar-condicionados, por exemplo – mas que efeito surtiria isso na disputa de fundo do projeto político ao qual a universidade está à serviço? 

Se queremos uma universidade da juventude trabalhadora, que sirva aos nossos interesses e não seja apenas mais uma das engrenagens da máquina de moer gente que é São Paulo, devemos ter a rebeldia de travar essa batalha política e ideológica, que se confronta inevitavelmente com a diretoria, a reitoria, os governos de plantão e o próprio sistema capitalista – mesmo nas pautas que pareçam as mais mínimas.

Se você quer ajudar a levar essas lutas adiante, conheça o Rebeldia e se organize!

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