Cultura

Exposição no Rio de Janeiro viaja pela vida, arte e rebeldia de Cazuza

Roberto Aguiar, da redação

11 de julho de 2025
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Foto divulgação

A exposição Cazuza Exagerado é uma viagem imersiva pela vida, arte e rebeldia de Cazuza. O artista que mostrou ao mundo todas as suas caras – sem filtro, sem pudor – é celebrado na mostra que reúne mais de 700 itens e muita emoção num espaço de 1.500 metros quadrados, dividido em nove salas temáticas, no Shopping Leblon, na cidade do Rio de Janeiro.

Sob a curadoria do poeta Ramon Nunes Mello, que também organizou dois livros sobre Cazuza, publicados no ano passado (veja no final do texto), a exposição mostra que “o poeta está vivo”. Para Ramon, a exposição não existiria se não fosse pela mãe do artista, Lucinha Araújo, que sempre foi uma grande guardiã da memória de Cazuza.

Quem visita a exposição verá a camisola de batismo feita por Lucinha, o primeiro brinquedo, a escova de cabelo, bilhetes carinhosos, manuscritos, roupas, fotos e objetos pessoais do cantor. Um dos destaques é o manuscrito original de “Exagerado”, com rasuras e versos extras.

Em uma das salas foi recriado o camarim do Canecão, onde ele fez sua última apresentação, já debilitado pela doença. Em outro espaço estão reunidos depoimentos de 80 amigos e artistas que conviveram com Cazuza. Entre eles, estão Ney Matogrosso e Roberto Frejat.

Em outro ambiente, repleto de fotografias do chão ao teto, imagens animadas por IA cantam trechos de hits como “Brasil” e “Codinome Beija-flor”.

Vivo nos corações dos brasileiros

Ao visitar pela primeira vez a exposição, Lucinha Araújo ficou bastante emocionada: “Ele está vivo nos corações dos brasileiros”, disse em depoimento ao Fantástico, da TV Globo. “A lembrança maior que eu tenho dele é a coragem. Principalmente na doença. Nunca se queixou de nada. Achava que a vida tinha dado tanto que não podia reclamar”, completou.

Prevista para ficar até o final de agosto no Rio de Janeiro, a mostra segue para São Paulo, e a expectativa de Lucinha é que Cazuza Exagerado possa circular por outras cidades do Brasil.

O poeta ainda está vivo

Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, nos deixou em 7 de julho de 1990, quando tinha apenas 32 anos. Símbolo da geração que se rebelou e gritou por liberdade em meio à luta pela derrubada da ditadura, foi ícone inconteste das LGBTIs e poeta do submundo, dos amores tresloucados e de uma juventude em busca de seu espaço numa sociedade careta e conservadora.

Cazuza teve sua vida abreviada pela Aids. Tornou-se, assim, de forma involuntária, também um símbolo do raivoso preconceito que na época tachava a doença como a “peste gay”.

Passados 35 anos, suas poesias cantadas, suas fantásticas reinterpretações de clássicos da MPB e sua voz inconfundível são testemunhos vivos de um tipo de artista que, independentemente de sua origem de classe, alimenta sua criatividade do contato direto com o mundo real, dos anseios, desejos e angústias que povoam o submundo dos excluídos e das carências (afetivas, sociais, artísticas e culturais) daqueles e daquelas para quem a rebeldia é o único modo de vida possível. Por isso mesmo, continuam a embalar corações, corpos e mentes Brasil afora.

A burguesia continua fedendo, mas o poeta ainda está vivo!

Em 1988, “Ideologia”, “Brasil” e “Faz parte do meu show” soavam como desafios abertos ao preconceito e aos descaminhos de um país cuja redemocratização deixava muitíssimo a desejar.

No mesmo ano, na genial “O tempo não para”, ele disparou sua metralhadora cheia de mágoas contra os que o achavam derrotado. Gente que, enquanto chamam os outros de “ladrão, de bicha, maconheiro, transformam um país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”.

Em seu último disco, “Burguesia” denunciou as elites como obstáculo para que haja poesia. Por isso, precisa ir para a cadeia, ser desapropriada, dinamitada.

E foi chamando todo mundo para ir à rua e “fazer uma revolução” que o poeta se despediu da gente. É por essa e muitas outras que continua vivo entre nós.

Para ver

Filme: Cazuza – O tempo não para (2004)
Direção: Sandra Werneck e Walter Carvalho
Disponível: YouTube, Netflix, Amazon, HBO e Apple TV

Para ler

Livro: Cazuza – Meu lance é poesia (2024)
Autor: Cazuza [1958 – 1990]
Organizador: Ramon Nunes Mello

Livro: Cazuza – Protegi teu nome por amor (2024, fotobiografia)
Organizadores: Lucinha Araújo e Ramon Nunes Mello

Livro: O tempo não para: viva Cazuza (2011)
Autora: Lucinha Araújo

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