Fala de Lula sobre Gleisi não foi elogio, foi machismo!

A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que justificou a escolha de Gleisi Hoffmann para a articulação política do governo por ser “bonita”, não é apenas uma fala isolada e despropositada. Ela reflete a persistência de uma cultura machista que reduz as mulheres a objetos, desvaloriza suas capacidades intelectuais e políticas e reforça estereótipos de gênero que perpetuam a desigualdade e a violência contra as mulheres. Essa fala, vinda de um presidente que se autoproclama defensor das pautas feministas, é inaceitável e deve ser repudiada com veemência pelos movimentos de mulheres e por toda a sociedade.
A fala de Lula não é um mero deslize retórico, ela ajuda a legitimar a desigualdade e a opressão das mulheres na sociedade. Ao reduzir a importância de uma liderança política como Gleisi Hoffmann à sua aparência física, Lula não apenas desmerece sua trajetória, mas também reforça a ideia de que o lugar da mulher está vinculado a atributos estéticos, e não a suas habilidades e sua competência. Essa lógica é a mesma que sustenta a violência de gênero, a desigualdade salarial e a sub-representação das mulheres nos espaços de poder.
Infelizmente, essa não é a primeira vez que Lula reproduz falas machistas. Recentemente, ele fez comentários sobre como a violência doméstica aumenta em dias de partidas de futebol para logo em seguida emedar que ser for corinthiano (time para qual torce), tudo bem!
Não, não está tudo bem. Essas declarações, embora muitas vezes minimizadas como “brincadeiras” ou “linguagem popular”, têm um impacto profundo. Elas normalizam a objetificação feminina e a violência de gênero e desmoralizam as lutas das mulheres por respeito e igualdade. Quando o presidente da república faz esse tipo de comentário, ele envia uma mensagem de que o machismo é tolerável.
O problema, no entanto, não se limita às falas. A retórica machista de Lula encontra eco em suas políticas — ou na falta delas — para as mulheres. Seu governo começou com um discurso de inclusão, nomeando um terço de ministras, mas, ao longo do tempo, cedeu cargos estratégicos a partidos da base aliada, muitos deles ocupados por homens. Além disso, as políticas públicas para mulheres têm sido negligenciadas.
O combate à violência de gênero, que deveria ser uma prioridade em um país onde uma mulher é assassinada a cada sete horas, recebe poucos investimentos e atenção. O feminicídio e a violência doméstica continuam assolando milhares de brasileiras, enquanto o governo não avança em medidas efetivas para proteger as vítimas e punir os agressores.
Na esfera econômica, as mulheres também são diretamente afetadas por medidas como o arcabouço fiscal, que limita os gastos públicos e impacta serviços essenciais como saúde, educação e assistência social — áreas que são fundamentais para a autonomia das mulheres, especialmente as mais pobres. A falta de investimentos em creches, por exemplo, sobrecarrega as mães trabalhadoras, que já enfrentam duplas e triplas jornadas. Lula prometeu defender as pautas das mulheres, mas, até agora, não cumpriu com suas promessas. E, para piorar, suas falas machistas mostram que, além de não priorizar as mulheres, ele ainda contribui para a perpetuação de uma cultura que as oprime.
É fundamental que os movimentos de mulheres não se calem diante disso. A justificativa de que criticar Lula pode fortalecer a extrema direita é um argumento falacioso que só serve para silenciar nossas vozes e perpetuar o clima de violência e impunidade.
A omissão frente a falas e atitudes machistas, seja de quem for, é conivência com a opressão. Se queremos construir uma sociedade verdadeiramente igualitária, não podemos abrir mão de criticar e cobrar aqueles que estão no poder, independentemente de sua orientação política. A luta das mulheres não pode ser instrumentalizada em nome de projetos políticos que não priorizam suas demandas.
A retórica machista de Lula, somada à falta de políticas efetivas para as mulheres, revela uma contradição profunda em seu governo. Enquanto ele se apresenta como um defensor dos direitos humanos, suas ações e palavras mostram que as mulheres continuam sendo tratadas como cidadãs de segunda classe. O movimento feminista não pode tolerar isso. É preciso exigir mais do que discursos vazios e promessas não cumpridas. É preciso lutar por um projeto de sociedade que coloque as mulheres no centro, não como objetos de apreciação, mas como sujeitos de direitos e protagonistas de suas próprias vidas.
A luta contra o machismo não admite meias palavras nem concessões. Se queremos um futuro em que as mulheres possam viver com dignidade, liberdade e igualdade, precisamos enfrentar o machismo em todas as suas formas — inclusive quando ele vem daqueles que se dizem nossos aliados. A resistência feminista não pode ser silenciada. Ela deve ser forte, unida e intransigente na defesa dos direitos das mulheres.