Filho é assassinado em tentativa de feminicídio em Uberaba
O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) de Uberaba vem a público manifestar seu mais veemente repúdio ao brutal assassinato do jovem Muryllo Khaytthan de Souza Galante, de 29 anos, ocorrido na madrugada do último domingo (5) no Parque das Gameleiras. Muryllo foi covardemente atropelado e morto pelo ex-companheiro de sua mãe, em uma evidente tentativa de feminicídio que vitimou fatalmente o filho.
Segundo matéria do Jornal da Manhã publicada na coluna Sentinela – o assassino foi até a casa de sua ex-companheira, mãe da vítima, com a intenção de reatar o relacionamento. Diante da recusa dela, ele a agrediu fisicamente. Em seguida, entrou em seu carro e, em uma clara tentativa de atropelar a ex-companheira, acabou atingindo e matando seu o filho, Muryllo, que estava com a mãe no local.
Este ato revela indubitavelmente a intenção de cometer um feminicídio – o assassinato de uma mulher por razões da condição de sexo feminino, envolvendo violência doméstica e familiar e menosprezo à condição de mulher, o qual apesar de ter se frustrado, resultou no assassinato do filho da vítima pretendida. Ao tentar eliminar a ex-companheira, após agredi-la por não aceitar o fim do relacionamento, o assassino expressou de forma brutal a misoginia e a cultura machista que imperam em nossa cidade, estado e país, tentando matá-la e matando o seu filho.
Foi um crime dentro da realidade de nosso estado. Minas Gerais enfrenta uma grave crise de violência contra as mulheres, ocupando posições alarmantes nos rankings nacionais. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, o estado possuía o segundo maior índice do país de casos de feminicídio, com 171 mulheres mortas naquele ano por serem mulheres. O mesmo levantamento indicou que Minas Gerais era o terceiro estado com mais pedidos de socorro por violência doméstica, acumulando quase 32 mil ligações para o 190. A situação se agravou ainda mais em 2023. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas no primeiro semestre deste ano, quase 74 mil mulheres foram vítimas de violência no estado. Para Bernadete Esperança, da Marcha Mundial das Mulheres, a gestão do governador Romeu Zema, ao invés de enfrentar esse cenário dramático, tem piorado a condição das mulheres mineiras.
Não podemos esquecer que. além de não combater devidamente a violência, Zema ainda fez as declarações machistas e misóginas, afirmando que a opressão contra as mulheres seria um “instinto natural” ou que mulheres separadas teriam uma “obsessão” por “destruir o ex-cônjuge”, o que reforça estereótipos e preconceitos que naturalizam e legitimam violência contra as mulheres.
Em nível nacional, importante destacar que, quando Bolsonaro foi presidente, 90% da verba disponível para ações de enfrentamento à violência contra mulher, segundo a Folha de S. Paulo, foi cortada. O corte no orçamento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos foi de cerca de R$ 70 milhões somente em 2020, primeiro ano de orçamento elaborado pela gestão bolsonarista. Em 2022, a pasta contou com apenas R$ 9 milhões. Mesmo no governo Lula-Alckmin, essa situação não mudou. Houve um corte significativo no orçamento do Ministério das Mulheres para o ano de 2023, um contingenciamento de cerca de 24% em relação ao valor inicialmente previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA), sendo o corte realizado para atender as determinações do Ministério da Fazenda, isto é, para gerar superávit primário, para garantir os lucros dos banqueiros, grande patrões e agiotas nacionais e internacionais
Assim, o crime bárbaro que ceifou a vida de Muryllo, deve ser compreendido como é: mais uma triste realidade do machismo que permeia a sociedade capitalista. Uma cultura que oprime, violenta e mata as mulheres, especialmente as mais vulneráveis, como forma de perpetuar a dominação e a exploração e que, não raramente, resulta também em violência contra seus filhos. Não podemos tolerar que assassinos misóginos continuem impunes, protegidos pela morosidade de uma justiça, não raramente ineficaz, em punir devidamente crimes de ódio contra as mulheres. Exigimos uma punição exemplar ao autor deste assassinato, que ainda que não tenha eliminado a mãe de Muryllo, ela que era o real alvo de sua fúria.
Mas não basta punir os que praticam a violência contra as mulheres. É preciso atacar as raízes desta violência. Por isso, defendemos e exigimos da Prefeita de Uberaba, a Elisa Araújo e do governador Zema (ambos bolsonaristas):
– Ampliação imediata das Casas de Apoio às Mulheres Vítimas de Violência em Uberaba, com atendimento psicológico, jurídico e social, e a formação de uma rede de proteção integrada, uma vez que a atualmente existente não é suficiente frente a violência misógina em nossa cidade;
– A reestruturação e fortalecimento da Delegacia da Mulher, para que seja um espaço de acolhimento e apuração eficaz dos crimes de gênero.
– A realização imediata e permanente de campanhas de conscientização, com responsabilização dos agressores e construção de uma nova cultura de respeito e igualdade. A referida campanha deve ser feita nos bairros, escolas e locais de trabalho.
– Defendemos, ainda, a organização das mulheres trabalhadoras, em associações e grupos de mulheres, para lutar contra o machismo, a misoginia, todas as formas de violência, bem como contra o sistema que se vale esta opressão, para melhor explorar a classe trabalhadora: o capitalismo.
– Por fim, neste momento de dor, nos solidarizamos com a mãe, família e amigos de Muryllo. E convocamos toda a classe que vive do trabalho em Uberaba, mulheres e homens, a se engajar neste combate urgente e necessário contra a violência machista e por uma sociedade verdadeiramente livre e igualitária.
– Basta de feminicídios! Punição aos agressores!
Uberaba, 6 de maio de 2024