Forte greve operária obriga GM cancelar todas as demissões e não descontar os dias parados

A General Motors (GM) cancelou as 1.245 demissões nas fábricas de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes, todas no interior de São Paulo. Depois de 17 dias de mobilização, os metalúrgicos da GM suspenderam a greve e retornaram ao trabalho nesta quarta-feira (8). As negociações entre a montadora e os sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos (filiado à CSP-Conlutas), São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes chegaram a uma proposta de acordo, aprovada em assembleia.
Além do cancelamento de todas as demissões, o acordo condiciona a suspensão da paralisação ao pagamento dos dias parados para todos na fábrica e licença remunerada para quem havia sido demitido. Também foi aprovado aviso permanente de greve, ou seja, caso a empresa não cumpra o acordo aprovado, a paralisação será retomada.
O cancelamento das demissões é resultado da forte greve das operárias e operários da GM, que aprovaram a paralisação em assembleia no dia 22 de outubro, um dia após a montadora demitir os trabalhadores, sem prévia negociação com os sindicatos e de forma covarde por telegrama e e-mail.
“Realizamos uma forte greve unitária entre todos os trabalhadores das três cidades. Isso foi histórico. Com a forte participação da base, que realizou piquetes 24 horas na porta da fábrica, demonstrando a sua força e disposição de luta em defesa dos empregos. Isso obrigou a GM a cancelar as demissões. Arrancamos a vitória na luta direta”, pontua Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e militante do PSTU.

A GM foi responsável por 17,4% da produção nacional de automóveis em 2022 | Foto: GM/Divulgação
Reestruturação
Estudo demonstra que não existe crise na GM
O estudo realizado pelo Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE), baseado nos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), mostra que a montadora teve um aumento na produção de 48,5% entre 2021 e 2022. Com isso, passou para o segundo lugar entre as montadoras no país, atrás apenas da FCA (Grupo Fiat).
Percentualmente, a GM foi responsável por 17,4% da produção nacional de automóveis em 2022, contra os 12,3% em 2021.
Esse crescimento também se deu em sua produção mundial, conforme dados da própria empresa. A arrecadação total da empresa passou de 127 bilhões de dólares para 156,7 bilhões.
Os dados mostram que a GM não passa por uma crise. O que ocorre é a reestruturação com substituição da matriz produtiva, acompanhada de um aumento da produção e de redução dos empregos. Ou seja, uma superexploração da classe operária brasileira e mundial. Motivos também que levaram os operários da GM nos Estados Unidos a realizarem uma greve histórica em conjunto com os trabalhadores da Stellantis e Ford. Foram seis semanas de uma greve histórica e vitoriosa.
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A greve passo a passo
Linha do tempo da greve da GM
21/10 – GM demite, por telegrama e e-mail, 1.245 trabalhadores das fábricas de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes.
22/ 10 – Os metalúrgicos de São José dos Campos (SJC) deflagram greve por tempo indeterminado na fábrica.
23/10 – 1º dia de greve. Em assembleia geral unificada dos três sindicatos na porta da fábrica, metalúrgicos de SJC reafirmam a greve por tempo indeterminado. Representantes dos sindicatos de SJC, São Caetano e Mogi das Cruzes reúnem e lançam nota conjunta pela reversão das demissões. Também enviam cartas à Presidência da República, ao Ministério do Trabalho e Emprego e ao Governo do Estado de São Paulo cobrando agendamento de reuniões para discutir medidas em defesa dos empregos.
24/10 – As centrais sindicais emitem nota conjunta contra as demissões arbitrárias realizadas pela GM.

Trabalhadores da GM durante passeata pela ruas de São José dos Campos | Foto: Roosevelt Cássio/Sindmetal SJC
25/10 – 3º dia de greve, os metalúrgicos e seus familiares protestam pelo cancelamento das demissões. Em gesto simbólico, fazem um varal com cerca de 100 uniformes de trabalho e mensagens de luta na porta da unidade de São José dos Campos.
27/10 – Em audiência no Ministério do Trabalho, os sindicatos exigem o cancelamento das demissões. Em São José dos Campos, ocorre a primeira audiência entre o sindicato e a GM no TRT, que terminou sem acordo.
31/10 – O TRT da 15a Região determina a reintegração dos 839 trabalhadores demitidos pela fábrica.
1/11– Os metalúrgicos de São José dos Campos decidem, em assembleia, continuar a greve até que a GM cumpra a liminar do TRT e reintegre todos os demitidos da fábrica.
3/11 – O TST rejeita o pedido de liminar da GM e mantém a decisão do TRT pela reintegração dos demitidos.
4/11 – 13º dia de greve, a GM comunica o cancelamento de todas as demissões.
8/11 – 17º dia de greve, os metalúrgicos aprovam o acordo e encerram a greve.
Auto-organização
Piquetes operários controlaram a greve
Em São José dos Campos, os piquetes operários, organizados nas quatro portarias da fábrica da GM, garantiram o controle da greve. Com a mais ampla democracia operária, a base participou ativamente dos piquetes. Cerca de 300 operárias e operários se revezavam nos três turnos para garantir os piquetes 24 horas. Nada entrava ou saía da fábrica sem a permissão dos piquetes.
Construída pela base
Nenhum trabalhador entrou. A adesão à greve foi total. A fábrica ficou 100% parada. Nenhuma máquina foi ligada durante os dias de greve. Nenhum carro foi produzido.
“A greve foi construída com e pela base. Tivemos a participação ativa das operárias e operários da GM, que ficaram firmes no piquete. O controle da greve pela base, através dos piquetes, é parte da democracia operária que nosso sindicato defende e pratica. Todos os passos da greve e ações que construímos foram decididas nos piquetes e nas assembleias com a categoria”, diz Antônio Macapá, operário da GM.
“Aqui no piquete a gente vê a nossa força. Somos nós os responsáveis pela produção. Se a gente não entra, não tem produção. Aqui a gente discute política, discute o caminhar da greve, amplia a nossa consciência enquanto trabalhadores. Não sairemos daqui”, completa Macapá.

Operário pendura uniforme no piquetes de greve em uma das portarias da GM em São José dos Campos | Foto: Sindmetal SJC
Familiares
Os piquetes também contaram com a presença dos familiares dos grevistas. No dia 25 de outubro, eles realizaram um ato na porta da fábrica e, em um gesto simbólico, fizeram um varal com cerca de 200 uniformes de trabalho e mensagens de luta escrita pelos familiares.
“É muito importante o apoio de nossas famílias. Nos fortalece e nos dá ânimo para seguir a luta. Emocionante ler as mensagens nos uniformes. Tê-los aqui em um ato público na porta fábrica é fortalecedor e contribui para chamar a atenção da sociedade para que se una a nós nessa luta em defesa dos empregos”, finaliza Antônio Macapá.