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Gallo, Salazar, Trevisan, Goldemberg e Ganzarolli: Como o assassinato de Vladimir Herzog salvou cinco estudantes do ITA

Neste dia 25 de outubro completam-se 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog. Leia relato de Sebastião Simões Berthoud sobre a história de cinco estudantes do ITA que sofreram na pele os arbítrios da ditadura militar, e como suas trajetórias se entrelaçaram de forma trágica com a de Vlado

Sebastião Simões Berthoud, de São Paulo (SP)

24 de outubro de 2025
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Foto Reprodução

Gallo, Salazar, Trevisan, Goldemberg e Ganzarolli

Não, infelizmente esse não é um time de futebol de salão, esse é um time de jovens sonhadores, conscientes, ativistas por direitos e democracia em plena ditadura militar na década de 70 passada.

Membros do CASD (Centro Acadêmico Santos Dumont) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA – em São José dos Campos, São Paulo. Clóvis Goldemberg da diretoria do CASD no ano de 1975; Trevisan é o Osvair, irmão do Ivan, meu amigo e colega na escola técnica – ETEP – também em São José dos Campos, e também irmão da Beth, uma pessoa especial na vida de todos que a conheceram, e obviamente na minha, que vim a conhecê-la em Campinas em 1978.

19 de outubro de 1975, 50 anos agora em 2025. Os 5 foram presos e transferidos para o terrível DOI-CODI em São Paulo, o centro de tortura da ditadura militar. Acusação: qualquer uma

A tortura psicológica iniciada imediatamente, a física pelo qual Goldemberg vai carregar sequelas pelo resto da vida. Todos vão ser expulsos do ITA, física e mentalmente marcados pelo restos das suas vidas pelo horror que nesse dia se iniciou, que não foi uma tragédia maior devido a uma outra tragédia, cometida dias depois pela ditadura militar no DOI-CODI: o assassinato por tortura do jornalista Vladimir Herzog (diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo) no dia 25 de outubro, que, chamado para prestar “esclarecimentos”, se apresentou voluntariamente, sem um advogado no dia 24 no DOI-CODI.

Foi preso e torturado até a morte no dia 25! Hoje, 50 anos sem Vlado, como era chamado.

O assassinato do Vlado salvou os 5 do ITA. Imediatamente, foram transferidos para a Base Militar de Cumbica (SP) da Aeronáutica.

Escrevo abaixo o que foi, na minha vida, esses dias terríveis de outubro/novembro de 1975, que é uma parte do meu relato contado no livro da história da Liga Operária – organização clandestina onde eu comecei minha militância partidária clandestina, também no ano de 1975 em São José dos Campos, e que será lançado no mês de novembro próximo.

…E o Sebastião Simões Berthoud, complementa

“Eu saí de São José dos Campos no final do curso, em julho de 1976, para escapar do serviço militar obrigatório na cidade (Tiro de Guerra) ao ir fazer estágio obrigatório do curso técnico na estatal Embratel em Blumenau (SC), movido também pelo ‘terror’ que ouvia de colegas da ETEP que, no ano de 1975, faziam o Tiro de Guerra, e de onde, em outubro, começaram a trazer recados ameaçadores para o ‘cabeludo’ que dirigia o Grêmio onde eu era o presidente, que ‘eles’ o esperavam lá em 1976, quando eu completaria 18 anos. Nos recados também diziam saber que eu ‘andava’ com estudantes do ITA trazendo peças de teatro ‘subversivas’ para a cidade, sendo esses estudantes do ITA da diretoria do centro acadêmico (CASD).

Em 19 de outubro de 1975, Clóvis Goldemberg, aluno do segundo ano de engenharia do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e responsável por cuidar da área cultural do CASD, organizando shows, peças etc., foi preso junto com mais 4 estudantes do ITA, entre eles Osvair Trevisan, irmão dos futuros militantes da LO em Campinas, Ivan e Beth Trevisan.

Eles foram encaminhados ao DOI-CODI em São Paulo, onde Clóvis foi torturado, e só saiu de lá com os outros 4 transferidos para Ninho das Águias, na Base Aérea de Cumbica, no dia 25. Provavelmente porque, no dia 25, também no DOI-CODI, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado pela repressão, após se apresentar voluntariamente para prestar depoimento.

Não foram meses fáceis de viver em outubro e novembro de 1975 aos 17 anos.”

Matéria do Jornal da Unicamp, universidade que acolheu os estudantes expulsos do ITA

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