Mundo Árabe

Genocídio em Gaza continua, e solidariedade tem que crescer

Soraya Misleh, de São Paulo

7 de novembro de 2025
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Bombardeio israelense sobre Gaza Foto IRNA

“Você cessa, eu atiro.” Assim a relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) para os territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, definiu o conceito de cessar-fogo no dicionário israelense, horas após seu anúncio, em 10 de outubro, quando o Estado sionista seguiu matando palestinos.

Ela repetiria esse jargão outras vezes. Em seu X, quatro dias depois, destacava: “Chamar isso de paz é um insulto e uma distração”. E convocava: “Todos os olhos na Palestina: Israel deve enfrentar justiça, boicote, desinvestimento e sanções até que a ocupação, o apartheid e o genocídio acabem, e seja responsabilizado por todos os seus crimes”.

Conforme publicou a Agência Anadolu, até o último domingo, 2 de novembro, Israel já tinha contabilizado 194 violações do cessar-fogo em Gaza. Dentre elas, realizou incursões, disparos, bombardeios, bloqueio de entrada de ajuda humanitária, incluindo não só alimentos, mas também medicamentos e equipamentos médicos, além de 300 mil tendas e casas móveis. Apenas 145 caminhões entraram em Gaza por dia, em média, desde 10 de outubro, contra os 600 prometidos.

Em consequência, 288 mil famílias palestinas seguem vivendo nas ruas. Israel destruiu aproximadamente 90% da infraestrutura em Gaza, transformando em pó bairros e campos de refugiados inteiros. O rigoroso inverno se aproxima, o que torna ainda mais dramática a situação do povo palestino.

Cerco e fome prosseguem

Israel também não liberou a entrada de centenas de máquinas pesadas para recuperar corpos debaixo de toneladas de entulhos, de novo em violação ao que foi negociado no cessar-fogo, permitindo apenas uma parte limitada daqueles usados na busca de restos mortais dos prisioneiros israelenses. Enquanto isso, milhares de corpos palestinos seguem sob os escombros.

Cerca de 240 palestinos foram assassinados pelas forças de ocupação sionistas desde o “cessar-fogo”, quase metade num único dia: o fatídico 28 de outubro – mesma data em que era cometida a pior chacina nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, com as mesmas armas e treinamento israelenses.

A fome, imposta por Israel como arma a serviço do genocídio nos últimos dois anos, continua. Uma a cada cinco famílias faz apenas uma refeição por dia conforme a ONU, e 43% delas reduziram as porções servidas.

A escritora palestina Sara Awad escreveu à Al Jazeera: “Já está claro que Israel está tratando esse ‘cessar-fogo’ como um interruptor – ligando e desligando quando bem entende”. Ela conclui: “Permaneceremos à mercê de um ocupante assassino até que o mundo finalmente reconheça nosso direito à vida e tome medidas concretas para garanti-lo”.

Genocídio disfarçado

Prossegue a tentativa de solução final na contínua Nakba – a catástrofe palestina, cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista e colonial de Israel em 78% da Palestina histórica no ano de 1948.

O genocídio que escandalizou o mundo e elevou a solidariedade internacional com o povo palestino a níveis sem precedentes mudou de cara. Disfarçado, contudo, continua a empilhar corpos palestinos assassinados e a manter um sofrimento atroz e condições inimagináveis de vida em Gaza.

Não teve um único dia em que Israel não matou em Gaza desde o tal “cessar-fogo”. Sem contar a limpeza étnica acelerada na Cisjordânia, onde os pogroms por parte de colonos sionistas assassinos têm se tornado cada vez mais violentos nesta época de colheita de oliveiras. Nos últimos dois anos, mais de mil palestinos foram assassinados na Cisjordânia, parte dos 22% restantes do território palestino após a Nakba de 1948, ocupados militarmente por Israel em 1967, ao lado de Gaza e Cidade Velha de Jerusalém.

Palestina livre

Mobilização não pode parar

O tal “cessar-fogo”, que vem na esteira do plano de vinte pontos de Trump, a partir de um ultimato à resistência palestina – o qual inclui a busca de tutela estrangeira de Gaza por assassinos, sionistas e bilionários, além do desarmamento do Hamas – está na primeira fase de troca de prisioneiros. O cenário é de incerteza.

Israel seguia perdendo terreno, e a solidariedade internacional se agigantava – numa onda acentuada a partir da Flotilha Global Sumud. Greves gerais pela Palestina se davam na Itália e na Espanha. Era crise para todo lado. Trump viu que era hora de mudar o método e tentar frear a onda que vinha acentuando a crise interna, fornecendo um disfarce ao genocídio.

Não é hora de sair das ruas, pelo contrário. A mobilização deve ampliar-se, honrando os milhares de mártires palestinos. Neste domingo, dia 9, um novo ato unitário ocorrerá em São Paulo. Em 28 de novembro, a partir da Europa, o chamado é por greves gerais. E em 29, Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, atos em todo o mundo devem expressar a solidariedade internacional que o povo palestino merece e precisa.

A solidariedade deve finalmente arrancar a vitória de isolamento internacional a Israel. No Brasil, é urgente ampliar a pressão para que Lula rompa todas as relações com o Estado genocida. Passou da hora de pôr fim à cumplicidade internacional histórica que sustenta a colonização sionista, rumo à Palestina livre do rio ao mar.

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