Governo chinês e Lula não são alternativas para os trabalhadores

Recentemente, o presidente Lula comparou seus governos no Brasil com a Revolução Chinesa, de 1949. Afirmou que ambos tiveram compromissos sociais para resolver o problema da pobreza. Chegou ao cúmulo de comparar os números da China, que, em 40 anos, teria tirado 800 milhões da pobreza, com o Brasil, que, em 10 anos, tirou 54 milhões da fome.
Lula compara dois processos políticos bastante diferentes. O PT assumiu o modelo de combate à pobreza do Banco Mundial, que, ao mesmo tempo em que amplia a renda de um setor da população mais pobre, aprofunda a concentração e fortalece o capitalismo no Brasil.
Na China, de fato, houve uma revolução socialista vitoriosa, que expropriou a burguesia e os imperialistas. Mas, já em 1978, o capitalismo chinês foi restaurado. A China de hoje já não tem nada de socialista. E o Brasil dos anos Lula não tem nada de Revolução Chinesa.
Lula governa para os capitalistas
Os governos do PT, na realidade, foram parte fundamental da implementação do neoliberalismo no Brasil. Isto gerou uma profunda decadência, com um processo de desindustrialização e rebaixamento na divisão mundial do trabalho (o papel que cada país cumpre dentro do sistema capitalista).
Viramos, de vez, uma grande fazenda produtora de soja, cada vez mais dependentes do imperialismo e atrasados. A desigualdade social se mantém, os empregos criados são cada vez mais precários e os salários até aumentaram, mas o patamar de consumo dos trabalhadores segue baixíssimo, com a burguesia ganhando muito mais.
O “Brasil do futuro” nunca veio. Não enfrentaram nenhum problema estrutural e não avançaram nas pautas dos trabalhadores. Mas, atenderam a burguesia em tudo e, como consequência política, ajudaram a criar o bolsonarismo e a ultradireita.
A brutal exploração capitalista na China
Alguns ativistas olham com simpatia para a China, questionando se não seria possível desenvolver o Brasil, repetindo aquele modelo. Esquecem o grande segredo do salto chinês: uma brutal exploração da sua classe trabalhadora.
Mesmo tendo reduzido a pobreza extrema, a China ainda é um país pobre, com uma brutal desigualdade. Basta ver o permanente crescimento do número de bilionários chineses e o aumento dos monopólios capitalistas privados ou estatais. E, também, comparar com as centenas de greves nos últimos anos, apesar da restrita liberdade democrática.
Para vermos a realidade da dura exploração da classe trabalhadora chinesa, basta lembrarmos a campanha contra a “escala 996”, que significa trabalhar das 9h às 21h, seis vezes na semana. Apesar de ser formalmente proibida, a escala é amplamente utilizada no país e, em 2019, o bilionário chinês Jack Ma (dono da Alibaba) a defendeu como um dos motores do desenvolvimento chinês.
Este nível de exploração só é possível pois, além de capitalista, a China é uma ditadura controlada pelo partido “comunista”.
O caráter dos acordos Brasil e China
Hoje, Lula e o PT comemoram os acordos de investimento com a China. Estes acordos significarão a entrega de riquezas nacionais, a exploração dos trabalhadores e uma subserviência aos capitais chineses.
O Brasil segue dominado, em sua maior parte, pelos EUA. Sendo este um imperialismo velho e decadente (ainda que hegemônico), promotor de guerras, golpes e todo tipo de atrocidade em nome dos seus interesses capitalistas, seu papel perverso é de mais fácil percepção. Com a China, como estamos diante de um novo imperialismo, que recém começou sua expansão global, há muitas confusões.
Mas qual o caráter desses acordos? Eles são guiados apenas pela lógica da acumulação capitalista. A China busca lucros para seus monopólios capitalistas, enquanto parte da burguesia brasileira só espera se associar e esperar que alguma migalha caia da mesa da exploração imperialista.
Da revolução à restauração e, agora, o imperialismo
Na história recente, ocorreram três fatos marcantes na China: a revolução socialista, em 1949; a restauração do capitalismo, em 1978; e o atual salto imperialista.
A revolução, com a expropriação da burguesia, contribuiu para o desenvolvimento, mas foi, desde o início, travada pela burocracia do partido “comunista”, o mesmo que, anos depois, restaurou o capitalismo.
O partido “comunista” mantém apenas o nome, mas tem como papel fundamental administrar o capitalismo. As conquistas sociais da revolução foram desmanteladas e o chamado “socialismo com características chinesas” nada mais é do que o poder dos monopólios capitalistas.
A prova que a China é um país imperialista é que, para manter seu patamar de crescimento e lucratividade, se vê obrigada a exportar o capital acumulado, com a conquista de novos mercados, o domínio da tecnologia e o controle de matérias-primas. Ou seja, exalam a lógica capitalista e imperialista de “ter que” explorar e rapinar países e regiões inteiras do globo.
Projeto do PT aprofunda submissão ao imperialismo
O Brasil, que sempre foi dominado pelos imperialismos dos EUA e da Europa, agora começa a ficar dependente também do capital chinês.
Os monopólios chineses disputam parte do mercado e dos lucros com os outros monopólios capitalistas dos EUA e Europa. É uma disputa sobre quem dominará e controlará mais países, nações e povos. Não há nada de progressivo nessa briga. Nesta situação, a posição dos socialistas e revolucionários sempre foi o “derrotismo revolucionário”. Ou seja, a defesa de que ambas as burguesias imperialistas sejam derrotadas por seus trabalhadores, que, aproveitando do conflito entre eles, podem se fortalecer, rumo a um horizonte realmente socialista.
O poder dos trabalhadores e o socialismo são o caminho
A saída para o Brasil não é o modelo de Lula ou da China. Muito menos dos EUA, da Europa ou de países capitalistas tradicionais.
A saída para o Brasil é enfrentarmos a burguesia, tirar da mão dos capitalistas as 250 maiores empresas e, com um processo revolucionário, de fato, desenvolver o país, saindo das garras do imperialismo e desta burguesia brasileira, que vive de enriquecer parasitando toda a sociedade e o Estado, explorando profundamente os trabalhadores. Para fortalecer este projeto é preciso ser oposição de esquerda ao governo Lula.