Cultura

Hermeto Pascoal (1936-2025): O adeus ao Bruxo

Redação

15 de setembro de 2025
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No último dia 13 de setembro o mundo se despedia de Hermeto Pascoal.

Hermeto é considerado um dos músicos mais inventivos da música brasileira. Não à toa chamado “bruxo”, o alagoano misturava em seu caldeirão o regional, o tradicional, o jazz, a música de concerto contemporânea, o improviso, além de sons de chaleira, patinho de borracha e afins. O albino genial acreditava em uma concepção de música calcada na liberdade, na dissolução de fronteiras entre manifestações sonoras. Para ele não haveria distinção entre som e ruído, tudo era música. Uma música ao mesmo tempo elaborada e intuitiva. Assim, desenvolveu o conceito de Música Universal.

Seu contato com o universo sonoro começou ainda criança, com experimentações no ferro-velho de sua família, pendurando objetos metálicos em um varal, para tirar sons desse metalofone inventado. Embora tenha trabalho como músico desde muito jovem, só foi estudar teoria musical, aprendendo partitura, cifra, etc, com mais de 40 anos. Isso só nos faz ter mais certeza de que o fazer musical prescinde de notação, de que os códigos foram criados a partir da música, e não contrário.

Em sua profícua trajetória, trabalhou em diversas rádios, formou conjuntos instrumentais das mais variadas formações, em cada uma tocando instrumentos diferentes. Recebeu prêmios como arranjador, gravou com Miles Davis, se apresentou no Festival de Motreux com Elis Regina, realizou turnês anuais pela Europa e Japão. Recebeu inúmero prêmios, dentre eles o Grammy Latino de Melhor Álbum de Jazz Latino de 2017, além do título de Doutor Honoris Causa pelo New England Conservatory (EUA).

Com o Presidente do “Board of Trustees” do New England Conservatory Kennet F. Burnes Foto Eric Antoniou

Aqueles que conviveram com ele colecionam histórias das mais divertidas, como quando Miles o desafiou para uma luta de boxe, e Hermeto o distraiu deixando os olhos vesgos repetidas vezes, conseguindo assim acertar um soco no rosto do americano. Um se seus vídeos mais icônicos é a gravação da Música da Lagoa (parte do filme Sinfonia do Alto Ribeira, 1985, de Ricardo Lua), em ele e seu grupo aparecem sem camisa, tocando instrumentos diversos dentro de um lago no Petar, com água até a cintura.

Gerações de músicos brasileiros e estrangeiros são tributários do trabalho do artista, desde aqueles dedicados à música experimental, até o que pesquisam as tradições populares. Há citações de peças musicais suas em obras do rock nacional, suas composições têm sido estudadas em universidades e conservatórios dedicados ao jazz nos Estados Unidos, Japão, países da Europa e da América Latina.

Sua partida deixará saudades. Saudades de suas criações sonoras, de sua irreverência, de sua inventividade, de seu amor pela música. Como diria Caetano, “o amor é cego, Ray Charles é cego, Stevie Wonder é cego, e o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”.

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